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Stuart Carvalhais, o ilustrador que não perde atualidade

Stuart Carvalhais é homenageado a partir de hoje com uma exposição em Lisboa. "Se uma das características de um artista é a intemporalidade, o Stuart é um grande artista", afirma o cartoonista André Carrilho, curador.


"Uma das qualidades de Stuart Carvalhais é que conseguia fazer basicamente tudo a que se propunha e era muito eclético, fazia de tudo um pouco", diz André Carrilho, ilustrador e cartoonista, habitual colaborador do DN. Quando foi desafiado a ir até ao arquivo do jornal e escolher algumas das ilustrações de Stuart para organizar uma pequena exposição de homenagem a este seu antecessor, Carrilho percebeu que dada a quantidade e a qualidade do material seria impossível fazer uma escolha que fosse representativa de toda a obra. "Decidi escolher aqueles desenhos que achei muito bons, independentemente do tema ou do género, só isso", explica.

Os oito desenhos que vão estar expostos a partir de hoje no Cinema São Jorge, em Lisboa, são muito diferentes. "Há uns desenhos de guerra que têm um carácter gráfico quase cinematográfico, escolhi-os por isso, pela qualidade da representação", explica André Carrilho. Depois há uns desenhos humorísticos, com legendas, que valem sobretudo "pela eficácia da piada e pela economia do traço". E há ainda outros cartoons "muito modernos para a época": "O Stuart quase poderia ser um cartoonista na The New Yorker", diz o autor da rubrica Déjà Vu, publicada aos domingos no DN.

"Se uma das características de um artista é a intemporalidade, o Stuart é um grande artista", afirma Carrilho, que não duvida de que os desenhos feitos na primeira metade do século XX irão ser perfeitamente entendidos pelos olhos de hoje: "Vai ser sempre atual. Desenhou-nos a nós e Portugal não mudou assim tanto. Reconhecemo-nos ali tal como nos reconhecemos em Bordalo ou Eça."

Uma longa relação com o DN

Stuart Carvalhais iniciou a sua colaboração com o Diário de Notícias em 1925 e manteve-a quase até à sua morte, em 1961. Na redação, o chefe pedia-lhe um "boneco" para ilustrar um certo tema e ele costumava desenhar logo dois ou três - um era publicado e os outros iam parar ao arquivo do jornal. Ao todo, deverá ter produzido cerca de três mil desenhos para o DN - muitos foram publicados, outros oferecidos aos amigos, outros ainda extraviaram-se ou foram apreendidos pela Censura. Aquando da celebração dos 125 anos do jornal, foi editado um álbum com muitas das ilustrações de Stuart Carvalhais que estavam ainda inéditas. Ainda assim, uma publicação "longe de esgotar os originais que não foram publicados", escreveu Dinis de Abreu, na altura diretor do DN.

No liceu, Stuart Carvalhais chegou a reprovar na disciplina de Desenho. Isso não o desmotivou. Foi pintor, desenhador, caricaturista, autor de banda desenhada e artista gráfico, fez fotografia, decoração, cenografia. Mas era sobretudo como ilustrador que ganhava a vida. "Faço bonecos para distrair a fome", dizia.

As primeiras ilustrações de Stuart Carvalhais surgiram em 1906 em O Século Suplemento Humorístico. Nos primeiros 20 anos da carreira dedicou-se mais à caricatura política e à crítica social, mas depois, a partir de 1926, começou a privilegiar mais a sua veia humorística. "Uma arte social, sem revolta nem denúncia, sem acomodação, também no seu direto falar que nenhuma política cobria" - foram estas as palavras de José-Augusto França sobre os desenhos de Stuart. "Foi colaborador d"A Batalhaanarquista como d"A Sátira republicana como d"A Ideia Nacionalmonárquica como da Situação sidonista como do Diário de Notícias liberal como do Diário de Notícias não se sabe o que - como, e longamente, d"O Sempre Fixe, o mais lisboeta dos jornais, enquanto a censura salazarista deixou."

Foi ao mesmo tempo um retratista da cidade de Lisboa (e das suas mulheres: "Antes de Stuart, o erotismo gráfico português não tem muito por onde se lhe pegue", considerou António Dias de Deus) e um dos pioneiros da banda desenhada infantil em Portugal, com séries como Quim e Manecas e Cocó, Ranheta e Facada. "Era intuitivo por natureza e o seu estilo tornava-se inconfundível, provocando admiração", escreveu J. Rodrigues da Silva em 1989 no Diário de Notícias. "O desenho era simples e espontâneo; o traço breve e fácil. Observava o mundo à sua volta e quando surgia algo que o tocasse fazia logo o retrato com a ferramenta que tivesse à mão: um lápis, um fósforo queimado ou molhado em café, um pincel quase nas lonas, carvão, tinta e até graxa dos sapatos. O que lhe interessava era não deixar fugir a inspiração do momento."

Cinema S. Jorge, Lisboa

19 de Junho - 30 de junho
Todos os dias
16.00 - 21.00
Entrada livre


por Maria João Caetano in Diário de Notícias | 19 de junho de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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