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No fundo Portugal é mar. E nós podemos dar um mergulho

Até julho, a Fábrica das Artes do Centro Cultural de Belém tem um ciclo dedicado ao oceano.

Imagens do fundo do mar captadas pelo ROV - Direitos reservadoos Ana Pêgo e a "Baleana plasticus" - Foto Paulo Spranger/ Global Imagens Parte da coleção de objetos de plástico recolhidos por Ana Pêgo - Foto Paulo Spranger/ Global Imagens Imagens do fundo do mar captadas pelo ROV - Direitos reservadoos Ilustração de Beatriz Bagulho para "A Menina do Mar" - Direitos reservados


De longe parece mesmo o esqueleto de uma baleia. Mas à medida que nos aproximamos, percebemos que não são ossos. São embalagens de iogurtes e de detergente, em plástico branco. A Baleana plasticus é uma escultura criada em 2014 pela bióloga Ana Pêgo e o fotógrafo Luís Quinta e que agora está instalada no Jardim das Oliveiras do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. Está ali, ao lado dos faróis da exposição. As portas do mar, chamando a atenção para o ciclo "No fundo Portugal é mar", que vai ocupar a Fábrica das Artes nos próximos meses. Mas, mais do que isso, está ali chamando a atenção o problema da poluição dos oceanos e, especificamente, para o excesso de plástico.

Bióloga marinha, nos últimos anos Ana Pêgo tem-se dedicado à educação ambiental e passa muito do seu tempo recolhendo o plástico que aparece na praia, trazido pelas marés. "A minha preocupação com o lixo marinho foi aumentando", conta. No final de 2015 criou a página de Facebook Plasticus Maritimus para mostrar as coisas que ia encontrando na praia e também para pedir ajuda para identificar esses objetos. "Deixei de olhar para o lixo da praia como lixo mas antes como objetos com história, que já fizeram viagens", explica. Esses objetos são usados nas oficinas que orienta por estes dias no CCB, porque o mais importante agora é informar as pessoas do mal que estamos a fazer ao oceano e educá-las para o ambiente.

Expostos em vitrinas, organizados por cores ou por "famílias", os objetos apanhados na praia não deixam de causar espanto. Pauzinhos de cotonetes (porque as pessoas deitam nas sanitas). As palhinhas. Os balões. "São coisas que não noz fazem realmente falta no nosso dia a dia e são muito prejudiciais. Encontro centenas de bocados de balões, porque rebentam ficam no chão, acabam por ir parar às sarjetas com a chuva e daí para o mar." Bonecos pequenos. Patilhas dos protetores solares. Peças de lego. Flores artificiais. "Estas coisas podem parecer bonitas mas são um manifesto", diz Ana Pêgo.

Toda a programação deste ciclo - que inclui exposições, espetáculos, oficinas e conversas (ver coluna ao lado) - foi concebida em conjunto com a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental. Só assim foi possível ter acesso não só às imagens do fundo do mar como também à réplica do laboratório de campanha e ainda contar com a colaboração dos vários especialistas nestas atividades. "Esta programação tem três eixos: a educação ambiental, a ciência e a a criação artística", explica Madalena Wallenstein, programadora da Fábrica das Artes.

Um dos melhores exemplos dessa interligação é a instalação Terramar: a partir das imagens captadas pelo robot ROV, que vai até seis mil metros de profundidade e tem feito campanhas ao longo da costa portuguesa, e também imagens captadas por mergulhadores, a artista Graça Castanheira criou "quadros vivos" que nos levam literalmente até ao fundo do mar. Oportunidade para conhecer algumas espécies que habitam as profundezas, para nos deliciarmos com imagens do oceano - e também para suspendermos um pouco a nossa vida e deixarmo-nos levar, durante alguns minutos, pelo silêncio e pelo embalo das ondas.

PROGRAMA

As portas do mar e Balaena plasticus
Rui Rebelo imaginou estes faróis, com a colaboração de Marco Fonseca e Teresa Varela. As pessoas podem sentar-se, relaxar e ouvir os sons do mar. E também ver a baleia feita de detritos de plástico encontrados na praia, uma obra de Ana Pêgo e Luís Quinta, de 2014.
Jardim das Oliveiras, até 31 julho

Terramar - instalação de Graça castanheira
A partir das muitas horas de imagens captadas pelo ROV Luso, um robot que tem andado a mergulhar pelo mar português, Graça Castanheira criou duas peças : um tríptico que nos leva para o fundo do mar e uma exposição com "quadros vivos".
Fábrica das Artes, até 31 julho

Oficinas de palavras, dança e ambiente
Durante este três meses, a Fábrica das Artes tem programadas uma série de oficinas "à volta" do mar - para escolas mas também para famílias, ao fim de semana. Por exemplo com a bióloga e escritora Judite Canha Fernandes.
Fábrica das Artes, maio e junho

Um espetáculo: A menina do mar
Em 2011, Bernardo Sasseti e Beatriz Batarda fizeram uma Menina do Mar. A partir da música original de Sasseti e da história de Sophia, o pianista Filipe Raposo, a atriz Carla Galvão e a ilustraram Beatriz Bagulho criaram este espetáculo
Pequeno Auditório, 19-25 maio

Ciclo de conversas com o mar ao fundo
A chef de cozinha Patrícia Borges, a peixeira Tânia Silva, o investigador João Varela, os pilotos ROV Andreia Afonso e António Calado, o mergulhador Nuno Rodrigues e o pescador António Figueira são alguns dos palestrantes convidados
Jardim das Oliveiras, maio-julho

Concertos e contos no jardim
Rita Maria e Filipe Raposos trazem Canções da Terra e do Mar (30 junho), Rui Rebelo e Carla Galvão fazem um Concerto co Faróis (14 e 15 julho). E mais sessões de estórias e de músicas, sempre ao ar livre.
Jardim das Oliveiras, junho-julho

 


por Maria João Caetano in Diário de Notícias | 11 de maio de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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