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Academia Sueca pondera não atribuir Nobel da Literatura

Anders Olsson, o novo secretário permanente, admitiu que o cenário está em cima da mesa, e vários membros da instituição pensam que seria a melhor solução para sarar as feridas abertas pelo escândalo de alegados abusos sexuais e fugas de informação.

Sara Danius renunciou ao cargo de secretária permanente da Academia Sueca [Foto: REUTERS]

Pela primeira vez desde a II Guerra, o Prémio Nobel da Literatura pode não ser atribuído. Abalada pelas acusações de assédio sexual e fugas de informação contra o marido de uma escritora que até há pouco integrava a Academia Sueca, a instituição está a estudar a possibilidade de não atribuir o prémio em 2018, reconheceu o presidente da Fundação Nobel, Carl-Henrik Heldin, a um canal público de televisão sueco.

Depois da demissão de vários membros da Academia Sueca e da renúncia ao cargo da sua secretária permanente, Sara Danius, substituída por Anders Olsson, a hipótese de que se venha a suspender por um ano a atribuição do Nobel da Literatura é mais uma possível consequência do recente escândalo que abalou a instituição quando o dramaturgo francês Jean-Claude Arnault, marido de uma autora sueca que integrava a Academia, Katarina Frostenson, foi acusado de ter assediado sexualmente 18 mulheres e de, ao longo dos anos, ter divulgado antecipadamente os nomes de vários escritores que viriam a receber o Nobel.

A notícia foi avançada nesta quarta-feira pelo jornal espanhol El País, que cita ainda a rádio pública sueca SR (Sverige Radio), segundo a qual “várias pessoas” que integram o Comité do Nobel da Academia Sueca consideram que o prémio não deveria ser concedido este ano, o que “serviria para recuperar a confiança e sarar as feridas”.

O novo secretário permanente, Anders Olsson, sem negar que o cenário está a ser estudado, afirmou: “Estamos a meio de uma discussão e não vou dizer nada, mas esse ponto será esclarecido em breve”. No entanto, outro membro da Academia Sueca, Per Wästberg, previu, em declarações à televisão, que dificilmente haverá uma decisão definitiva nas próximas duas semanas.

Segundo o El País, uma das propostas em discussão, que teria sido designadamente defendida por Peter Englund, ex-secretário permanente e um dos membros que se demitiram na sequência deste escândalo, seria a de atribuir para o ano, e em simultâneo, os prémios Nobel da Literatura de 2018 e 2019.

Mas há também quem defenda, no interior do Comité do Nobel, que seria um erro adiar o prémio. O historiador da literatura, tradutor e linguista Göran Malmqvist admitiu à imprensa sueca que a hipótese foi colocada, mas deu-a como já ultrapassada e considerou que seria “horrível” se viesse a concretizar-se.

Desde a sua criação, em 1901, o Nobel da Literatura não foi atribuído sete vezes: em 1914, 1918 e 1935, e ainda de 1940 a 1943. Se os dois primeiros casos e os quatro últimos se ficaram a dever às duas guerras mundiais, a exceção de 1935 tem motivações menos óbvias. Divergências políticas no interior da Academia, num período de grandes confrontações ideológicas, é um dos motivos que tem sido aventado, mas também a alegada mediocridade dos candidatos desse ano.

Na verdade, mesmo a ideia agora defendida por Peter Englund tem alguns precedentes, já que a Academia Sueca também começou por não atribuir o prémio em 1936, mas deu-o retrospetivamente ao dramaturgo americano Eugene O’Neill, que o recebeu de facto no mesmo ano em que foi atribuído ao escritor francês Roger Martind du Gard o Nobel da Literatura de 1937.


in Público | 25 de abril de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

 

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