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Santuário Senhora de Aires prepara-se para juntar turistas aos fiéis

Investimento de 1,8 milhões de euros para tornar o santuário de Viana do Alentejo uma âncora de desenvolvimento turístico.

Santuário da Senhora de Aires vai ter núcleo museológico [Gustavo Bom / Global Imagens]

Uma placa no interior da vila de Viana do Alentejo aponta o caminho até ao santuário de Senhora da Aires. São dois quilómetros por uma estrada de alcatrão, que mal permite o cruzamento de duas viaturas. De carro e sem trânsito, um minuto é o quanto baste para darmos de caras com uma das mais célebres igrejas a sul do país, à volta da qual se cruzam, há séculos, devoções e negócios. Nos próximos meses será sujeita a obras que procuram requalificar o que foi consumido pelo tempo. A construção começou em 1743 e ficou pronta em 1804, traduzindo a ampliação do que começou por ser uma ermida quinhentista.

É desta que a autarquia aposta forte na promoção turística de um santuário que historicamente tem sido ponto de passagem de peregrinos - na rota dos caminhos de Santiago -, espaço de reflexão, onde se pediram milagres e cumpriram promessas, testemunhadas pelos milhares de ex-votos que se distribuem pelo deambulatório da igreja com arquitetura barroca que é monumento nacional desde 2012. Mas estes terrenos têm sido também um ponto estratégico à transumância, com a deslocação sazonal de gado.

O presidente da Câmara de Viana do Alentejo, Bernardino Bengalinha Pinto, reconhece que o potencial turístico do santuário vai muito para lá dos escassos dois eventos que anualmente enchem estes terrenos às portas da vila. Por um lado, a Romaria a Cavalo - que este ano chega a Viana dia 28 abril - e que há 18 anos recupera uma velha tradição com uma missa campal onde os agricultores pedem a bênção do gado e boas culturas, a par da própria secular Feira de Aires, que tem lugar em setembro. No resto do ano a igreja mantém-se aberta (só fecha à segunda-feira) mas porque as entradas são gratuitas não é possível arriscar uma estimativa sobre o número de visitantes.

"Estamos muito contentes com o investimento que a paróquia está a realizar na igreja, porque vai permitir valorizar um património tão importante para o concelho", assume o autarca, que justifica assim o facto do apoio dado pela câmara na parte dos 25% do investimento nacional ser o mais elevado de sempre concedido pela autarquia a uma associação privada.

A intervenção da paróquia que vai garantir uma nova cara à igreja e ainda um espaço museológico está orçada em 1,8 milhões de euros, com 75% de financiamento comunitário, devendo, segundo Bengalinha Pinto, passar o santuário a ser a âncora para ajudar a dinamizar o turismo vianense, à boleia de uma rede estratégica que convoca outros valores patrimoniais concelhios, sem perder de vista os visitantes que foram chegando aos concelhos vizinhos, onde Évora se perfila como aliado privilegiado.

Explica o edil que "a câmara de Évora tem um centro de acolhimento turístico em projeto que vai ser objeto de uma candidatura. Os turistas vão, no futuro, poder encontrar ali uma montra com os principais destaques dos 14 concelhos do distrito. Depois é escolherem o que querem visitar e acreditamos que o nosso santuário vai ganhar muito com isso", vaticina.

A Senhora de Aires ganhou a devoção dos fiéis, especialmente, a partir da década de 80 do século XV, quando Viana do Alentejo logrou escapar à peste. Começou por ser uma Senhora da Piedade, mas os "bons aires" que os comerciantes de Évora acreditaram ser milagrosos, depois de naquela época de crise terem ido a Viana pedir ajuda à Santa, terão levado à alteração do nome. Ainda o santuário se resumia a uma ermida erguida, segundo uma versão popular que perdurou na história, por um pastor e agricultor Martim Vaqueira a quem Nossa Senhora terá aparecido a pedir o altar.

Já os documentos históricos dão conta de uma ermida quinhentista com grande afluência de fiéis que obrigou à sua expansão num projeto escolhido pelo padre oratoriano João Batista, da ordem de São Filipe Néri, de Estremoz. Assim se explica a quantidade do mármore proveniente das pedreiras daquela zona do Alentejo que foi utilizada na edificação da igreja. Só a altar-mor exibe o mármore verde típico de Viana do Alentejo.

Em termos do barroco destaca-se a zona do altar-mor, onde se destaca o baldaquino, que traduz uma coroa enorme em talha dourada colocada sobre Nossa Senhora, sendo dos poucos exemplos que existem em Portugal, segundo Luís Banha, técnico de turismo da autarquia, que se tem dedicado ao estudo do santuário, chamando a atenção para a cúpula, o chamado zimbório. "O arquiteto quis introduzir iluminação na torre, na própria estrutura, para destacar a principal zona do santuário que é capela-mor. A sensação que temos é que existe uma encenação que nos remete para um dos episódios da vida de Maria quando o seu filho é retirado da cruz e é colocado sobre o seu regaço", relata. E sublinha tratar-se de uma passagem em que a figura de Maria surge no centro do mundo perante quatro evangelistas, os doutores da igreja e as tribunas à volta de Nossa Senhora. Os ex-votos somados ao longo de 500 anos atestam que a maioria dos fiéis são provenientes do Baixo Alentejo, apesar de Viana pertencer ao distrito de Évora. Por ali estão fotografias seculares, peças em cera alusivas a membros do corpo humano, pinturas e até três curiosas serpentes embalsamadas. É com elas que um antigo militar da guerra do Ultramar agradece a proteção no momento em foi atacado por uma cobra. É que antes de embarcar para África pedira ajuda divina à Senhora de Aires.

 


por Roberto Dores, in Diário de Notícias | 16 de abril de 2018

Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

 

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