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Sobreviveu ao terramoto de Lisboa e a um fogo. A Igreja dos Italianos faz 500 anos

Construída em 1518, a Igreja de Nossa Senhora do Loreto, no Chiado, em Lisboa, celebra no dia 8 de abril cinco séculos de história.

Padre Manuel da Nóbrega, Nunziatella Alessandrini e o reitor da Igreja do Loreto, o padre Francesco Temporin


É conhecida como a Igreja dos Italianos, foi construída em 1518 e está a comemorar 500 anos. A Igreja de Nossa Senhora do Loreto, no Chiado, em Lisboa, vai assinalar o aniversário ao longo de um ano. As festividades começam já este domingo, dia 8 de abril, com uma missa solene às 10h30 que contará com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e que será presidida pelo Núncio Apostólico, Monsenhor Rino Passigato.

Situada no coração de Lisboa, entre o Largo do Chiado e a esquina com a rua da Misericórdia, a igreja foi construída em 1518 a pedido da comunidade italiana residente no nosso país. Na altura situava-se fora da cidade, junto à Muralha Fernandina. Alvo de obras de restauro recentes, a igreja tem hoje “mais visitantes”, explica Manuel de Nóbrega, um dos padres que assegura as confissões diárias nesta igreja lisboeta, que foi edificada devido à vontade de “mercadores italianos muito ricos que viviam em Portugal”, indica Nunziatella Alessandrini, a responsável pelo arquivo. Entre os visitantes contam-se hoje vários dos turistas que inundam a cidade.

De Itália chegaram de navio a Lisboa muitos dos materiais com que a igreja foi construída. A responsável pelo arquivo descreve que pelo mar entraram as embarcações vindas das regiões de Génova e Roma “carregadas com mármores, colunas e estátuas”, materiais que fizeram desta uma “igreja muito rica”, classifica Alessandrini. No âmbito das comemorações dos 500 anos do Loreto, será apresentado no dia 9 de abril, na Embaixada de Itália, um livro com alguns artigos científicos inéditos sobre a Igreja do Loreto, um deles da autoria de Vitor Serrão.

Atingida ao longo dos séculos por várias catástrofes, a Igreja do Loreto sofreu um grande incêndio em 1651. Ao programa Ensaio Geral da Renascença, que poderá ouvir esta sexta-feira depois das 23h, Nunciatella Alessandrini explica que esse fogo “destruiu parte do arquivo e documentação anterior a 1651”. Também o terramoto de Lisboa de 1755 afetou o edifício, que só seria reconstruído 30 anos depois do sismo.

Nos últimos anos, a chamada Igreja dos Italianos foi também alvo de obras de restauro. Segundo o reitor, o Padre Francesco Temporin, o edifício “precisava mesmo de uma intervenção urgente”. Essas obras, explica o padre dehoniano, começaram pelo telhado, que “sofria de uma infiltração de água que estava a afetar as paredes e as pinturas”. O ritmo das obras avançou depois para o interior da igreja e, de acordo com o reitor, “há ainda umas coisinhas por fazer", que serão concretizadas "mediante as possibilidades”. Neste Ano Europeu do Património, o responsável da Igreja do Loreto assegura que o restauro é para continuar.

Numa altura em que se prepara a missa solene que assinalará o arranque das comemorações dos 500 anos - a qual será concelebrada pelos Bispos Emérito dos Açores, Monsenhor António Braga, e do Algarve, D. Manuel Neto Quintas, pelo Reitor da Igreja, o padre Francesco Temporin, e pelo Padre José Agostinho, o Superior Provincial dos Dehonianos portugueses - a Igreja do Loreto mantém as portas abertas diariamente. Um dos fatores que desde há 60 anos a torna única no panorama das igrejas do Chiado é “a finalidade especial de ter confissões” todos os dias, explica Manuel da Nóbrega. O padre, que integra a equipa de sacerdotes disponíveis diariamente para as confissões na igreja, descreve que “vêm pessoas de outras terras porque sabem que aqui há sempre um sacerdote”.

Aos domingos mantém-se a tradição secular de se juntarem os italianos na missa da manhã. Contudo, quando foi construída a Igreja do Loreto, Itália não era uma nação una como hoje a conhecemos. Alessandrini, que é investigadora do Centro de História da Universidade Nova de Lisboa, explica que, à data, Itália “estava completamente dividida”, mas que “os italianos em Lisboa quiseram construir uma igreja da nação italiana, para falarem a própria língua e para minimizar as diferenças, sobretudo políticas, que existiam" no país naquela época.

Hoje a igreja é também um importante local para as pessoas da aviação, isto porque a Nossa Senhora do Loreto é a padroeira da aviação. Ao longo de 2018, e para assinalar os cinco séculos de história da Igreja do Loreto, será promovido um ciclo de conferências sobre a relação luso-italiana e na igreja vão decorrer vários concertos.

Toda a programação pode ser encontrada no prospeto disponível na igreja ou aqui.


por Maria João Costa in Rádio Renascença | 5 de abril de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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