Sob a forma de e-book, o Museu de Lamego disponibiliza a sua última edição, datada de 2012. Tratando-se de um manuscrito da maior importância para o conhecimento da região do Douro antes da reforma pombalina e um dos mais importantes para o conhecimento do Portugal de quinhentos, a obra de Rui Fernandes é transcrita na íntegra, com edição, estudo introdutório e apêndice documental do historiador Amândio Barros.

Produzida num contexto de crescente gosto pelo saber e de necessidade de informação, a obra articula saberes e informa o Rei, ao qual Rui Fernandes se dirige constantemente através do bispo de Lamego, D. Fernando, a quem dedica a obra, e os mercadores, aos quais se encontra ligado.

Tratador das lonas e bordates de Lamego, casado no Porto e cidadão de Lamego, Rui Fernandes escreveu a sua “Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas” entre 1531 e 1532, constituindo hoje a obra uma importante interpretação do Douro e um pequeno retrato do Portugal de Quinhentos.

Ao longo de quase três dezenas de folhas manuscritas, o autor mostra a cidade eclesiástica, mas também a cidade dos mercadores. Infor­ma sobre os bairros, os paços dos bispos, as casas da nobreza, as fontes de águas frescas, as hortas viçosas e as laboriosas oficinas de ferreiros, tosadores ou barbeiros. Nas entrelinhas, os dilemas sociais e nos vinhos “velhos e cheirantes” de Lamego o futuro do vinho do Porto. Mas a relação económica entre Porto e Lamego não se ficava pelos vinhos que as barcas do rio transportavam. Ao Porto chegavam de Lamego, do Douro e de Trás-os-Montes sumagres, azeites, frutas ou cereais para consumo ou exportação. Em sentido contrário chegavam os têxteis flamengos, sal, couros, pescado fresco ou seco ou os produtos mais requintados da Expansão, nomeadamente as especiarias e os açúcares.

De tudo isto dá conta Rui Fernandes na “Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas”, a que se junta agora a Direção Regional de Cultura do Norte, Museu de Lamego e Vale do Varosa, com o objetivo de partilhar conhecimento com o maior número de pessoas possível.

Em 2012, a Direção Regional de Cultura do Norte “partilhava” pela quarta vez um documento essencial para a História de Lamego, da região do Varosa (já que são abundantemente referidos os Mosteiros cistercienses de Santa Maria de Salzedas e São João de Tarouca), do Douro e de Portugal. Apesar de escrito no início do século XVI, só viria a ser publicado pela Academia Real das Ciências em 1824. Teve segunda edição em 1947, por Augusto Dias e terceira em 2001. Em 2018, voltamos a dar destaque a esta importante publicação, através da sua edição online, a partir de www.museudelamego.gov.pt e www.valedovarosa.gov.pt.