Notícias
O nascimento do universo contado aos meninos pequeninos
A ilustradora Catarina Sobral criou Impossível, um espetáculo que conta como aconteceu o Big Bang e surgiu a vida na Terra.
Em vez do "era uma vez". Em vez do habitual "há muito, muito tempo". Em vez do bíblico "naquele tempo". Vamos, simplesmente, começar esta história assim: "Tudo começou quando tudo estava no mesmo sítio." Estamos a falar mesmo do princípio disto tudo, de quando as partículas estavam todas muito encostadinhas e depois começaram a afastar-se muito depressa e aconteceu uma explosão. Um grande bang. O Big Bang.
Contar a história do universo a meninos pequeninos não é tarefa fácil, mas não é impossível. Que o diga a ilustradora Catarina Sobral. Autora de livros como Greve (2011, Menção Especial no Prémio Nacional de Ilustração), Achimpa (2012, eleito Melhor Livro Infanto-Juvenil pela Sociedade Portuguesa de Autores) e O Meu Avô (Prémio Internacional de Ilustração na Feira de Bolonha, 2014), Catarina Sobral confessa que ficou um bocadinho assustada quando Susana Menezes, a programadora do Teatro Maria Matos para crianças e jovens, a desafiou a fazer um espetáculo.
Primeiro, penso usar algum dos seus livros já publicados. Mas, depois, pensou melhor e achou que seria mais giro criar um espetáculo novinho em folha (e transformá-lo depois num livro que será editado pela Orfeu Negro). "Na verdade, queria desenhar animais. Mas não sabia se havia de fazer só dinossauros ou os primeiros mamíferos ou até outros animais de outras épocas que nós não conhecemos", conta. Até que um dia viu que tinha saído um novo livro do Neil deGrasse Tyson chamado Astrofísica para gente com pressa. E pensou: "Porque não astrofísica para crianças?"
Em vez da angústia da página em branco, sentiu a angústia do palco vazio. "É verdade que eu também estou habituada a escrever o texto dos meus livros, mas o meu principal meio são os desenhos, então fazia sentido que toda a cenografia fosse feita a partir de desenhos." Tentou primeiro usar um projetor de transparências. "Mas não estava a conseguir fazer ilustrações suficientemente expressivas com aquela tecnologia, então decidi utilizar o projeto de vídeo", conta. Mas em vez da animação, optou por usar a mesa de projeção, que lhe permite criar "em direto": "Por um lado, eu queria também ser performer, não queria só criar a animação. Mas também achei que seria mais humano e por isso mais interessante. É uma linguagem um bocadinho mais suja, no sentido em que podem acontecer movimentos mais livres, inesperados."
Impossível é, assim, um espetáculo criado num triângulo. Catarina Sobral na mesa de projeção, desenhando ou dando vida a desenhos que são projetados na tela; a atriz Madalena Marques interpretando o texto e contracenando com as ilustrações; e o músico F. Kent Queener, mesmo ali ao lado, criando toda a música e sonoplastia do espetáculo, usando sinos, vassouras, um teclado, tambores, matracas e o que mais tiver à mão. A coordenação entre os três é a chave do sucesso de Impossível. Por um lado, Catarina não consegue estar a olhar ao mesmo tempo para a mesa de projeção e para a tela onde estão a ser projetados os desenhos. Por outro lado, Madalena nem sempre vê as imagens que estão a ser projetadas na sua roupa, no corpo ou atrás de si. Resta Kent, que tudo vê, para dar as deixas. E, depois, muitos ensaios até estar tudo acertado.
As crianças só têm que se sentar no chão e desfrutar da magia que acontece ali. "Isto é pensado para crianças a partir dos três anos. Eu sei que este assunto é muito complexo e por isso tive que simplificar muito o texto e torná-lo muito metafórico", explica Catarina Sobral. Mesmo tentando manter um certo rigor científico, foi preciso "abrir uma janela poética" que permitisse, por exemplo, que as partículas tivessem olhinhos. O mais importante é que todos se divirtam. Mas não é impossível que, pelo caminho, fiquem com uma ideia do que foi o Big Bang e de como isto tudo começou.
Impossível
Teatro Maria Matos, Lisboa
Sessões para famílias nos dias 17 (16.30) e 18 (11.00 e 16.30)
Bilhetes; 3 (crianças)/ 7 (adultos)
por Maria João Caetano, in Diário de Notícias | 12 de março de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias