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Balkrishna Doshi vence Prémio Pritzker 2018

O nome de Balkrishna Doshi foi anunciado pelo arquiteto australiano Glenn Murcutt, vencedor do galardão em 2002.

Arquiteto indiano, de 90 anos, galardoado com Pritzker  |  DR Balkrishna Doshi com Le Corbusier | Cortesia de VSF/Pritzker Prize Doshi com o arquiteto Louis Khan  |  Cortesia VSF/Pritzker Prize O ateliê | Cortesia VSF O complexo de Aranya | Cortesia VSF Instituto de Gestão de Bangalore | Cortesia VSP Aspeto exterior da galeria de arte Amdavad Ni Gufa, em Ahmedabad, na Índia, um projeto de 1994 | Cortesia VSP


O arquiteto indiano Balkrishna Doshi , de 90 anos, é o vencedor do mais importante prémio da arquitetura, o 45.º distinguido com o Prémio Pritzker, criado em 1979 por Jay A. Pritzker e a sua mulher, Cindy, fundadores da cadeia hoteleira Hyatt, com sede em Chicago, nos Estados Unidos, com o objetivo de reconhecer o trabalho dos arquitetos vivo que tenham demonstrado qualidades como o talento, a visão e o compromisso em contribuírem para o desenvolvimento da humanidade e o seu meio envolvente.

Conhecido como B.V. Doshi ou Doshi, o arquiteto, com mais de 70 anos de carreira, foi colaborador de Le Corbusier e Louis Kahn. Com uma arquitetura influenciada pela cultura oriental, a sua obra "tocou vidas de todas as classes socioeconómicas em um amplo espetro de programas desde a década de 1950 ", disse o júri. Doshi é o primeiro arquiteto indiano a receber a maior honra da arquitetura.

Arquiteto, urbanista e pedagogo, "Doshi tem sido fundamental para moldar o discurso da arquitetura em toda a Índia e internacionalmente", refere o comunicado da Fundação Hyatt, responsável pelo prémio.

"Influenciado pelos mestres da arquitetura do século XX, Charles-Édouard Jeanneret, conhecido como Le Corbusier e Louis Khan, Doshi conseguiu interpretar a arquitetura e transformá-la em obras construídas que respeitam a cultura oriental ao mesmo tempo que aumentam a qualidade de vida na Índia. A sua abordagem ética e pessoal à arquitetura tocou vidas de todas as classes socioeconómicas num amplo espetro de géneros desde a década de 1950", refere o júri.

"As minhas obras são uma extensão da minha vida, filosofia e sonhos tentando criar o tesouro do espírito arquitetónico. Devo esse prémio de prestígio ao meu guru, Le Corbusier. Os seus ensinamentos levaram-me a questionar a identidade e obrigaram-me a descobrir uma nova expressão contemporânea regionalmente adotada para um habitat holístico sustentável ", comenta Doshi, nascido em Pune, na Índia, a 26 de agosto de 1927, citado no comunicado da Fundação.

Após começar os estudos em arquitetura em 1947, ano da independência do seu país, Na Escola de Arquitetura de Bombaim, Doshi passou um período em Londres, e mudou-se para França para trabalhar com Le Corbusier, apesar de não dominar o francês. Voltou para a Índia em 1954 para supervisionar os projetos de Le Corbusier em Chandigarh e Ahmedabad, que incluíam o Edifício da Associação de Proprietários de Moinhos (1954) e a Casa Shodhan (1956). Doshi também trabalhou com Louis Kahn no Instituto Indiano de Gestão em Ahmedabad, que teve início em 1962, e continuaram a trabalhar em parceria durante mais de uma década.

"Com toda a minha humildade e gratidão, quero agradecer ao Júri Pritzker por este profundamente emocionante e gratificante reconhecimento do meu trabalho. Isto reafirma a minha convicção de que 'a vida celebra quando o estilo de vida e a arquitetura se fundem'", refere ainda o arquiteto que iniciou os seus estudos em 1947, ano da independência do seu país.

"A arquitetura de Doshi explora as relações entre as necessidades fundamentais da vida humana, a conectividade consigo próprio e a cultura, e a compreensão das tradições sociais, no contexto de um lugar e ambiente, e através de uma resposta ao Modernismo. As lembranças da infância, desde os ritmos do clima até o toque dos sinos do templo, surgem nos seus projetos. Ele descreve a arquitetura como uma extensão do corpo, e a sua capacidade de abordar a função de forma tendo em conta o clima, a paisagem e a urbanização é demonstrada através da sua escolha de materiais, na sobreposição de espaços e na utilização de elementos naturais e harmoniosos", refere ainda o júri, presidido pelo arquiteto australiano Glenn Murcutt, vencedor do prémio Pritzker em 2002.

"O professor Doshi afirmou que o design converte abrigos em casas, habitações em comunidades e cidades em ímãs de oportunidades ", comenta o Sr. Pritzker. "O trabalho da vida de Balkrishna Doshi realmente ressalta a missão do Prémio - demonstrando a arte da arquitetura e um serviço inestimável para a humanidade ", comenta Jay A. Pritzker, na nota oficial de anúncio da 40.ª edição do prémio.

Com mais de 100 projetos concluídos durante a sua longa carreira, Doshi trabalhou em vários empreendimentos habitacionais de baixo custo. "Acho que deveria fazer um juramento e lembrá-lo por toda a minha vida: proporcionar à classe mais baixa habitações adequadas", disse, ainda na década de 1950, após terminar o primeiro desses projetos.

O comunicado da Fundação Hyatt lembra, por isso, um desses seus projetos, um dos mais marcantes: o complexo habitacional de custos controlados de Aranya, em Indore, que "alberga mais de 80 mil pessoas através de um sistema de casas, pátios e um labirinto de caminhos interiores". "Mais de 6500 residências variam desde modestas unidades de uma só divisão até casas espaçosas, acomodando residentes de baixos e médios rendimentos. As camadas sobrepostas e as áreas de transição incentivam condições de vida fluidas e adaptáveis, habituais na sociedade indiana", sublinha o comunicado.

"A arquitetura de Doshi é poética e funcional. O Indian Institute of Management (Bangalore, 1977-1992), inspirado nas labiríticas cidades indianas e nos templos tradicionais, é organizado de forma a interligar edifícios, tribunais e galerias. Também oferece uma variedade de espaços protegidos do clima quente. A escala de alvenaria e os vastos corredores interligados com um espaço verde permitem aos visitantes, simultaneamente, estarem dentro e fora do edifício. À medida que as pessoas passam pelos edifícios e espaços, Doshi convida-as a experimentar o meio ambiente e também sugerem a possibilidade de transformação".

Doshi vai receber o prémio no Aga Khan Museum, em Toronto, no Canadá, a 16 maio, altura em que dará uma palestra em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Toronto.

Para além do arquiteto australiano Glenn Murcutt, integram ainda o júri os arquitetos Richard Rogers (Reino Unido), vencedor do Pritzker em 2007, Benedetta Tagliabue (Itália), Kazuyo Sejima (Japão), galardoada em 2010, Wang Shu (China), distinguido em 2012 e Ratan N. Tata (Índia). A completar o coletivo estão ainda o galerista britânico Peter Palumbo, o crítico de arquitetura e embaixador do Brasil no Japão André Aranha Corrêa do Lago, o juiz norte-americano Stephen Breyer e a diretora executiva do prémio, a norte-americana Martha Thorne.

Os vencedores recebem um prémio de 100 mil dólares (cerca de 81 mil euros), um certificado e, desde 1987, um medalhão em bronze em cujo reverso estão gravadas as palavras "firmitas, utilitas, venustas" (firmeza, utilidade e beleza).

Na história do Pritzker, a arquitetura portuguesa foi por duas vezes reconhecida, quando o prémio foi atribuído, em 1992, a Álvaro Siza Vieira e, em 2011, a Eduardo Souto de Moura.

Todos os vencedores

2017 - Rafael Aranda, Carme Pigmen & Ramon Vilalta
2016 - Alejandro Aravena
2015 - Frei Otto
2014 - Shigeru Ban
2013 - Toyo Ito
2012 - Wang Shu
2011 - Eduardo Souto de Moura
2010 - Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa
2009 - Peter Zumthor
2008 - Jean Nouvel
2007 - Richard Rogers
2006 - Paulo Mendes da Rocha
2005 - Thom Mayne
2004 - Zaha Hadid
2003 - Jorn Utzon
2002 - Glenn Murcutt
2001 - Jacques Herzog e Pierre Meuron
2000 - Rem Koolhass
1999 - Norman Foster
1998 - Renzo Piano
1997 - Sverre Fehn
1996 - Rafael Moneo
1995 - Tadao Ando
1994 - Christian de Portzamparc
1993 - Fymihiko Maki
1992 - Álvaro Siza
1991 - Robert Venturi
1990 - Aldo Rossi
1989 - Frank Gehry
1988 - Gordon Bunshaft
1987 - Oscar Niemeyer
1987 - Kenzo Tange
1986 - Gottfried Böhm
1985 - Hans Hollein
1984 - Richard Meier
1983 - I. M. Pei
1982 - Kevin Roche
1981 - James Stirling
1980 - Luis Barragán
1979 - Philip Johnson


por Marina Marques, in Diário de Notícias | 7 de março de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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