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As fotografias de Amélia também são teatro

No dia dos 120 anos do nascimento de Amélia Rey Colaço, o Teatro Nacional apresenta uma exposição e uma bolsa com o seu nome.


Em 1917, Amélia não tinha ainda 20 anos e preparava a sua estreia, como Marinela, de Benito Pérez Galdós, no então Teatro República (atual São Luiz). No quintal de casa ensaiava a personagem. Descalça (uma ousadia, na altura), com roupa esfarrapada. E deixava-se fotografar pela irmã, Alice, que era artista plástica. Olhando para essas fotografias, "percebemos que Amélia as usava num processo de autoscopia e de construção da personagem", explica a investigadora Cláudia Madeira. "Isso era muito inovador." A prová-lo, ali estão também as cartas que ela enviava ao autor Afonso Lopes Vieira, onde cola as fotografias e lhe pede opinião. E, na mesma vitrina, a máquina com que as imagens foram captadas.

Esta é apenas uma das preciosidades que podemos ver na exposição Amélia, que é inaugurada esta tarde, pelas 17.00, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, no dia em que se assinalam os 120 anos do nascimento de Amélia Rey Colaço. Ocasião ainda para Tiago Rodrigues, diretor artístico do teatro, lançar a Bolsa Amélia Rey Colaço, destinada a jovens companhias e artistas portugueses.

Com curadoria de Cláudia Madeira, Filipe Figueiredo e Teresa Flores, a exposição tem apenas 30 fotografias e alguns objetos. "Não queríamos fazer uma exposição sobre a carreira de Amélia Rey Colaço, isso seria outra coisa", explica o investigador Filipe Figueiredo. Mais do que isso, a ideia era perceber a relação dela com a fotografia - o modo como se deixou fotografar, como posou para os melhores fotógrafos do seu tempo, como usou a fotografia no seu trabalho.

Algumas das fotografias que aqui podemos ver pertencem ao espólio do fotógrafo José Marques, que foi adquirido pelo Teatro Nacional D. Maria II. "Ele foi um fotógrafo de teatro que teve uma relação muito próxima com a companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, especialmente entre o final da década de 50 e 1974", explica o investigador. "Por norma ele fotografa a estreia e depois vem fazer as cabeças, ou seja, os rostos, que são fotografias em pose, usadas para a divulgação." Aqui estão exemplos de ambos, onde é possível ver os bastidores da sessão e todo o dispositivo de construção da imagem. Além deste espólio, os curadores fizeram uma pesquisa iconográfica no Museu do Teatro, no Arquivo Municipal, no Teatro Nacional, na Gulbenkian, e noutras coleções particulares. "A ideia era trabalhar a relação de Amélia com a fotografia, foi isso que procurámos", diz Cláudia Madeira.

E nas vitrinas outras preciosidades, como cartas de Bernardo Santareno ou uma edição de Mãe Coragem, de Brecht, onde Amélia escreveu: "Um sonho que não me é consentido." Uma exposição pequena mas que nos faz um belo retrato desta mulher do teatro. Numa das fotografias vê-se Amélia por entre os escombros do teatro, após o incêndio de 1964. Na fotografia seguinte, um momento glorioso: uma semana depois do fogo, a companhia apresenta Macbeth no Coliseu dos Recreios, sem cenários e sem figurinos, que tinham sido destruídos. Porque o espetáculo tem de continuar.


por Maria João Caetano in Diário de Notícias | 2 de março de 2018
Fotos Leonardo Negrão/Global Imagens
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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