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Memórias de Damião de Goes e José Mariano Gago cruzam-se em Alenquer

Luísa Ferreira registou, em fotografia, o encontro do antigo ministro da Ciência com o humanista português do século XVI. 


A exposição Ao encontro de Damião de Goes, para José Mariano Gago, da fotógrafa Luísa Ferreira, é inaugurada este domingo em Alenquer, num testemunho da derradeira investigação do antigo ministro da Ciência e Tecnologia, dedicada ao humanista português.

Patente no Museu Damião de Goes e das Vítimas da Inquisição, onde vai ficar até 31 de março, a exposição resulta de um convite feito por Mariano Gago a Luísa Ferreira, pouco antes da sua morte, em 2015, para que o acompanhasse a Alenquer, terra natal do historiador do século XVI, e aí recolhesse imagens das representações do autor da Descrição da Cidade de Lisboa e do universo a ele associado.

A concretização do projeto acabou por se materializar num testemunho da investigação de Mariano Gago (1948-2015) sobre o autor humanista, cruzando ou mesmo sobrepondo imagens das suas notas, dos seus objetos, dos seus locais, com as imagens dos escritos, dos objetos e dos lugares de Damião de Goes (1502-1574).

À exposição juntou-se um livro, com o mesmo título, e que, de algum modo, concretiza um Caderno de Alenquer, inicialmente pensado pelo investigador como demonstração da constante de "tolerância contra os ódios", que identificou no humanista.

Nos últimos anos de vida, Mariano Gago dedicou uma investigação a Damião de Goes, como "Pensador Convidado" da Academia Belga para a Ciência e as Artes. Amigo de Erasmo de Roterdão, responsável pela Feitoria de Antuérpia e guarda-mor da Torre do Tombo, Damião de Goes, "um dos espíritos mais críticos da sua época", acabou perseguido e detido pela Inquisição, tendo-se perdido o seu destino após a condenação.

"Damião de Goes encomendou um busto funerário e Mariano queria ver esse rosto", escreve Luísa Ferreira no livro. "Disse-me que seria o retrato mais verdadeiro. Queria olhá-lo de frente. Queria ler o que ele mandara gravar na pedra, pois Goes escreveu o seu próprio epitáfio e a inscrição para a laje tumular".

O busto de Damião de Goes, porém, estava partido. "Vimos um rosto alterado". Mas "Mariano Gago queria ter um retrato" dele em sua casa e queria "organizar um Caderno de Alenquer, com fotografias e legendas" sobre o humanista. Por isso, Luísa Ferreira regressou à vila. E é esse "caderno" que agora procura compor, em colaboração com a família do autor do Manifesto para a Ciência em Portugal, sobrepondo realidades e preocupações comuns, com cinco séculos de diferença.

Às imagens da exposição, o livro acrescenta textos dos historiadores Filipe Rogeiro e José Fernando Tavares, uma carta de Erasmo de Roterdão e ainda uma intervenção de Karin Wall, mulher de Mariano Gago, na qual explica como "exposição e livro vão ao encontro" de ambos, o "humanista, historiador e erudito do século XVI" e o "humanista, cientista e político do século XXI".

Para Mariano Gago, recorda Karin Wall, "o humanista tolerante, preso (e provavelmente assassinado) pela Inquisição, é uma metáfora da luta, no passado e no presente, contra a intolerância, o ódio e a ignorância".

Luísa Ferreira nasceu em Lisboa, em 1961, estudou Geografia e Fotografia, a que se dedica profissionalmente desde a década de 1980. Fez parte da primeira equipa de fotojornalistas do jornal PÚBLICO e foi correspondente da agência Associated Press. Desenvolveu projetos de fotografia e videoarte como IntimidadesHá quanto tempo trabalha aqui?Luz para as abadiasJardim InteriorColuna vertebralViagem em Fevereiro, que expôs em instituições nacionais e estrangeiras, como a ARCOmadrid e o Centro Gulbenkian de Paris.

Realizou um levantamento fotográfico sobre a Ciência em Portugal, para o Observatório da Ciência e Tecnologia (1999-2002). E publicou, entre outros, o livro Azul (2002), sobre os "não-lugares", com texto da escritora Agustina Bessa-Luís.

Ao encontro de Damião de Goes, para José Mariano Gago, a exposição, é inaugurada às 16h00 no Museu Damião de Goes e das Vítimas da Inquisição, instalado na antiga igreja de Santa Maria da Várzea, em Alenquer.

Em abril de 2017, uma primeira versão da mostra e do livro foram apresentados na Livraria Sá da Costa, em Lisboa.


por Lusa e Público | 25 de fevereiro de 2018
Fotografias de Luísa Ferreira
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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