"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

PATRIMÓNIO CULTURAL COMO ALERTA

Este Ano Europeu do Património Cultural não pode ser uma celebração a olhar para o retrovisor, deve ser um serviço para o futuro.

Marguerite Yourcenar falou do seu enorme entusiasmo com o grande sonho da história, ou seja, com o mundo de todos quantos viveram no passado. A leitura da sua obra ilustra bem como a atenção às raízes permite avançar no desenvolvimento humano. Ao falarmos de património cultural, é nessa fascinante referência que temos de pensar. Não se trata de cuidar de um tempo fechado ou de um acervo do passado, mas de um mundo que nos põe perante a responsabilidade de não o esquecermos. Daí que este Ano Europeu do Património Cultural não possa ser uma celebração a olhar para o retrovisor, devendo ser um serviço para o futuro – sob pena de não sermos dignos do que recebemos e de quem nos antecedeu. Adriano (das Memórias imaginárias da romancista) é um símbolo – que se surpreendia por ter uma vida informe: “ocupei sucessivamente todas as posições extremas, mas não me mantive nelas; a vida fez-me sempre deslizar”… É isso a História, em que o sublime obriga a não esquecer o essencial. Como protegemos o património cultural se não cuidarmos do ensino da História, se não curarmos dos monumentos, dos documentos, das tradições, das artes, das paisagens? Tratamos de património material e imaterial, em diálogo com a criação contemporânea. E a atenção e o cuidado exigidos pelas Convenções do Conselho da Europa, como a de Faro (sobre o valor do património na sociedade contemporânea, de outubro de 2005), obrigam a considerar este Ano como oportunidade para lançar bases que permitam sermos mais exigentes no conhecimento e na aprendizagem, bem como na missão essencial de não deixarmos ao abandono o que herdámos.

No caso português, temos de recordar que em recente Eurobarómetro nos destacamos pela positiva quando consideramos o património cultural como um elemento da identidade nacional, como um fator de resistência à uniformização global e quando referimos que a proximidade de bens patrimoniais melhora a qualidade de vida. No entanto, temos resultados claramente negativos nas referências relacionadas com o envolvimento ativo dos cidadãos no património – participação em atividades, voluntariado, visitas a museus e lugares com valor patrimonial. E o certo é que neste último ponto temos o último lugar. Somos os melhores no discurso e os piores na participação em iniciativas ligadas ao património cultural. Temos, assim, de encarar o Ano Europeu com uma forte aposta na Educação, nas escolas, na ligação destas à comunidade. Simultaneamente é indispensável prosseguir uma política cultural que promova ativamente a defesa e o conhecimento do património material e imaterial, salvaguarde a qualidade das cidades, assegure a proteção da paisagem e garanta a ligação à criação contemporânea… Eis por que razão a sociedade civil tem de ser mobilizada, do mesmo modo que os Estados têm de assegurar planeamento estratégico, definindo prioridades transversais para o desenvolvimento. Exige-se participação ativa dos cidadãos, sustentabilidade social e ambiental, medidas contra a especulação urbana e imobiliária e envolvimento dos melhores especialistas em nome da inovação e de uma ciência cidadã. Estas considerações levam a que venha insistindo na necessidade de darmos a este Ano Europeu um sentido que ultrapasse o pendor comemorativo e as iniciativas passageiras – daí a ligação entre as áreas da educação, da ciência e da cultura. Só com um envolvimento efetivo das escolas, através dos estudantes, das famílias e da sociedade e com melhor formação de educadores e professores poderemos ir além da superficialidade. De nada valerá a multiplicação de iniciativas avulsas, fugazes e sem consequência.


Guilherme d’Oliveira Martins | Jornal Expresso, 11 de fevereiro de 2018

 

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,855,124