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Obra inédita de Fragateiro afasta-se do tradicional
A artista portuguesa desenvolveu a nova peça inspirada na arquitetura e no movimento das folhas de um livro.
O desenho da artista alemã Anni Albers (Letter, 1980), serviu de inspiração a Fernanda Fragateiro na elaboração de uma nova obra de arte, no marco do I Prémio Catalina D"Anglade. A artista portuguesa recebeu o galardão no ano passado, durante a ARCO, pela sua obra Unread (2015), uma peça adquirida pela promotora. Durante este último, ano, Fragateiro trabalhou no desenvolvimento e produção de uma nova obra inédita e seriada, a qual fazia parte da segunda fase do prémio.
Letter, for Anni é o resultado deste trabalho. "Foi desenvolvido com calma, mas sempre tive em mente fazer alguma coisa a ver com o movimento das folhas do livro. Foi fácil encontrar a inspiração, como quase sempre, em livros e na arquitetura...", explica a artista ao DN durante a exibição da obra na Galeria Elba Benítez, que representa a Fragateiro. "Foi um processo muito aberto e tive bastante tempo", acrescenta.
A obra consiste num conjunto de cinco peças de aço polido. "O espectador encontra uma peça latente, à espera de alguma coisa", indica a artista. "E pode querer lidar com o silêncio que transmite ou desejar adicionar qualquer coisa, como um livro. A peça está muito aberta a ser acionada pelo espectador ou por quem adquirir a peça", esclarece Fragateiro. É uma obra que se pode utilizar e, por isso, "afasta-se da ideia da escultura tradicional".
Para a crítica de arte e curadora Bea Espejo, a obra da portuguesa "tem muito de mensagem cifrada e de carta de amor que se encontra nos tecidos de Albers. Parecem palavras soltas que se expandem além do lugar que ocupam na parede". Uma obra que é também percebida como "os pensamentos inacabados que estão nas cartas que escrevemos" e que em ocasiões resultam "uma espécie de diálogo inacabado".
As peças estão à venda numa série limitada de dez unidades numeradas. Cada série consta de cinco elementos vendidos em conjunto por valor de 8 mil euros. Só a nona e a décima série pode ser vendida em separado. O conjunto cria um jogo de luz e sombras, "gerando espaços ocultos nos quais podem interagir objetos quotidianos", explicam os responsáveis da galeria.
Fragateiro afirma que quando recebeu o galardão teve "uma verdadeira surpresa". Presente na Arco desde finais dos anos 90, a sua obra Unread foi muito apreciada por outros colecionadores, agentes e público. Era uma obra que estava sobre a olhada de muitas pessoas. Uma delas, a mecenas Catalina D"Anglade, que promove o prémio que leva o seu nome. "Fiquei apaixonada por ela como artista e como pessoa, encontrei uma amiga para sempre", explica a mecenas ao DN.
"Admiro a sensibilidade que tem, a sua excelência e ao mesmo tempo a simplicidade", sublinha.
O vencedor da II edição do prémio será anunciado no próximo dia 22 na Arco, onde o prémio tem como objetivo "difundir e impulsionar a criação contemporânea, assim como colaborar com artistas para incorporar a arte em setores do desenho e da vida quotidiana", afirma a mecenas, bem como "o apoio da arte e o mecenato contribuem para uma sociedade mais sábia, ajudando-nos a crescer e a entendermo-nos melhor".
A artista portuguesa espera que 2018 seja um ano muito mais calmo do que o anterior, onde realizou cinco exposições individuais, além das coletivas. "Vai ser um ano de pesquisa e trabalho no ateliê porque é impossível manter por muito tempo um ritmo alto de exposições. Preciso silêncio, leituras, viagens..." A escultora considera que Portugal conta com grandes artistas "que durante muito tempo não tiveram visibilidade", referindo que "com ela conseguem crescer mais".
por Belén Rodrigo e Diário de Notícias | 5 de fevereiro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias