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Novo Banco vai ceder coleção BES a museus nacionais

Museu dos Coches recebe pintura anterior ao terramoto, primeiro protocolo da marca Novo Banco Cultura com o Estado.

"Entrada Solene em Lisboa do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro | Direitos reservados


O que fazer com a coleção de arte do BES após a resolução que dividiu o banco em bom e mau, em 2014? A pergunta ficou no ar durante os últimos três anos, com o compromisso de que de viria a ser mostrada. Concluída a venda do Novo Banco ao fundo Lone Star, é hoje assinado o acordo com o Estado português em que "assumem o compromisso de disponibilizar à fruição pública o património cultural e artístico do Novo Banco, através de parcerias com entidades públicas e privadas, como museus e universidades, de âmbito nacional e regional."

O protocolo entre a administração do Novo Banco (NB) e o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, é assinado hoje, às 17.00, no Museu Nacional dos Coches, em Belém, o primeiro a receber um destes depósitos de longa duração - a tela a óleo Entrada Solene, em Lisboa, do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro. O alto membro do clero é recebido em Lisboa a 22 de abril de 1693, da pintura em concreto pouco se sabe, para lá de usar uma técnica comum na região do Veneto de onde o Núncio Cornaro é oriundo.

A obra é considerada uma das mais importante do núcleo de 97 obras de pintura portuguesa e europeia de várias épocas do Novo Banco e já esteve em exposição no Museu dos Coches durante uma mostra temporária. "Representa um raro e importante registo iconográfico que nos dá a conhecer um cortejo seiscentista que inclui coches, e liteiras, semelhantes aos que estão expostos no Museu", descrevem Novo Banco e Ministério da Cultura em comunicado.

Trata-se, em concreto, de uma vista do Terreiro do Paço antes do terramoto de 1755. Ao seu valor histórico, soma-se na exposição, o diálogo com peças como o coche de D. Pedro II, rei no momento retratado pelo quadro.

É o início de "um programa de depósito descentralizado da coleção de pintura, colocando à fruição pública 97 obras de relevante valor artístico, em vários museus espalhados pelo território nacional", de acordo com as instituições.

A coleção de pintura do Novo Banco inclui obras dos séculos XVI a XX. De Os Financeiros, atribuída a Quentin Metsys, no século XVI, A Torre de Babel, de meados do século XVII da Escola Flamenga, passando paisagens do francês Jean Baptiste Pillement, que em 1745 saiu do país natal em direção a Espanha e Portugal para trabalhar como pintor e decorador. Uma das obras do NB é uma representação de um momento que se seguiu ao naufrágio do navio de guerra San Pedro de Alcântara, nas falésias da Papoa, em Peniche.

Dos séculos XIX e XX, destacam-se obras de artistas portugueses como Silva Porto, José Malhoa, Artur Loureiro, Júlio Sousa Pinto, Eduardo Malta, Júlio Pomar, Júlio Resende, Eduardo Viana, Maria Helena Vieira da Silva, Manuel d"Assumpção, Carlos Botelho, Manuel Cargaleiro, Mário Dionísio, Nikias Skapinakis, Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, Graça Morais e Pedro Croft. Neste conjunto estão ainda incluídos quatro portulanos. Estes mapas antigos de portos conhecidos também fazem parte do conjunto que será depositado em museus nacionais.

Uma marca para quatro coleções

Com a assinatura deste acordo entre Novo Banco e Ministério da Cultura é também apresentada a marca Novo Banco Cultura, que pretende agregar, sob o mesmo conceito, quatro coleções distintas do ex-BES - pintura, fotografia, livros e numismática - "com o objetivo último de preservar e divulgar o seu vasto património".

A coleção de fotografia contemporânea do NB, constituída a partir de 2004, tem hoje mais de mil obras de 280 artistas de 38 nacionalidades (portugueses, incluídos). A seleção procura obras representativas dos artistas, em vez de adquirir grandes séries para incluir um maior número de artistas e distintas práticas artísticas. O acervo reúne mais de mil obras de 280 artistas, de 38 nacionalidades, incluindo portugueses.

A biblioteca de Estudos Humanísticos tem cerca de 1100 livros antigos - títulos impressos no século XVI como Utopia, de Thomas Moore, com texto introdutório de Guillaume Budé, e outras obras raras como uma edição de Os Lusíadas, comentados por Manoel Correa, em 1613, cartas régias de D. Afonso V e D. Manuel, os inventários da Casa da Tapada, mandada construir por Sá de Miranda em 1540 - e fundos documentas de Francisco Marques de Sousa Viterbo e Carolina Michaëlis.

Deste conjunto faz parte a biblioteca do professor e investigador da cultura portuguesa e europeia José Vitorino de Pina Martins, a quem, em 2008, foi adquirida a biblioteca pessoal.

A quarta coleção do Novo Banco Cultura é de numismática, adquirida a Carlos Marques da Costa, em 2007. Tem cerca de 13 mil moedas, cunhadas em Portugal ou em território português, com exemplares anteriores à formação do reino de Portugal e passando pelo dinheiro das colónias.


por Lina Santos e Maria João Caetano in Diário de Notícias | 29 de janeiro de 2018
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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