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Ópera regressa ao Teatro Nacional São João no arranque do novo ano
The Rape of Lucretia abre a programação do primeiro trimestre de 2018. Obra de Camilo Castelo Branco e Gil Vicente estarão em destaque.
A programação do Teatro Nacional São João (TNSJ) – e os espaços que gere: Teatro Carlos Alberto (TeCA) e o Mosteiro de São Bento da Vitória (MSBV) – para os primeiros três meses de 2018 já é conhecida. No arranque do novo ano, a ópera regressa ao TNSJ com a nova criação de Luís Miguel Cintra a partir da obra de Benjamin Britten. The Rape of Lucretia tem por base o libreto de Ronald Duncan, que se inspira em André Obey e William Shakespeare, para contar a história de castidade de Lucrécia, violada pelo filho do tirano que governa a Roma pagã. A produção do Teatro Nacional São Carlos com direção musical de João Paulo Santos estará em cena nos dias 5 e 7 de janeiro, no TNSJ.
Entre janeiro e março, a dramaturgia portuguesa vai estar em destaque nos espaços do TNSJ, colocando em evidência a obra de Gil Vicente e de Camilo Castelo Branco. Marco Martins, o coletivo Visões Úteis (Ana Vitorino, Carlos Costa e João Martins) e João Paulo Seara Cardoso – fundador do Teatro de Marionetas do Porto, cuja peça Óscar vai estar em cena de 7 a 11 de março no TeCA – são outros dos autores portugueses a fazer parte da programação dos próximos três meses.
Inferno, Purgatório, Glória: As várias Barcas de Gil Vicente
A celebração da obra de Gil Vicente começa a 6 de janeiro, no TeCA, com Nuno Carinhas (diretor artístico do TNSJ) e Nuno M Cardoso a orientarem um atelier de leitura encenada da “trilogia das barcas” que representa o ponto culminante do teatro religioso vicentino. Segue-se, a 15 de janeiro, uma conferência com José Augusto Cardoso Bernardes, professor catedrático na Faculdade de Letras de Coimbra e um dos mais destacados e originais vicentistas, que vai fazer o paralelismo entre Gil Vicente no “seu” tempo e no “nosso” tempo.
Já entre 17 e 21 de janeiro, o TeCA recebe Embarcação do Inferno, um espetáculo d’A Escola da Noite de Coimbra e o Cendrev de Évora. Numa encenação de António Augusto Barros e José Russo, recupera-se um texto de 500 anos para se refletir sobre os tempos atuais, em que vigoram os conceitos de “pós-verdade”. No dia 20 de janeiro, no TNSJ, os encenadores orientam uma oficina, pondo em evidência o trabalho que têm vindo a desenvolver em torno do património vicentino com as comunidades escolares das suas cidades e regiões.
Cristina Carvalhal “desloca” Elizabeth Costello para o teatro
Depois de Cândido (Voltaire), Cosmos (Witold Gombrowicz) ou Erva Vermelha (Boris Vian), Cristina Carvalhal volta a adaptar e encenar um texto que não foi escrito para teatro. Desta vez é Elizabeth Costello, de John Maxwell Coetzee (Prémio Nobel da Literatura), ao qual chamaram um “romance disfarçado de digressões”, ou seja, uma obra inclassificável que desafia as fronteiras do ensaio e ficção. O espetáculo confronta crenças e ideias polémicas, como a essência de Deus, o Holocausto nazi e o vegetarianismo. Uma coprodução Causas Comuns, Culturgest e TNSJ para ver de 18 a 28 de janeiro, no TNSJ.
Bruno Nogueira, Nuno Lopes e Miguel Guilherme em retrospetiva
Entre 7 e 11 de fevereiro, o TNSJ acolhe Actores, um espetáculo que resulta das observações feitas por Marco Martins durante os intervalos dos ensaios dos espetáculos. Durante muito anos, a “distração” dos atores parecia ao encenador uma “traição”, até que o deixou de ser e passou à categoria de “interessante”. A peça é feita de relatos autobiográficos dos próprios intérpretes – Bruno Nogueira, Luísa Cruz, Miguel Guilherme, Nuno Lopes e Rita Cabaço –, partindo de mais de 40 textos por eles representados ao longo dos anos, permitindo lançar um olhar retrospetivo sobre a vida de cada um dos atores. O espetáculo é uma coprodução Arena Ensemble, São Luiz Teatro Municipal, Centro de Arte de Ovar e TNSJ.
Violência e poder colapsam na solidão e silêncio
É a primeira vez de Flávio Rodrigues na programação do TNSJ, um artista que vem construindo, desde 2006, uma obra que interroga as fronteiras de corpo, identidade e género, a partir de linguagens que intercetam dança, performance e som. Magma – No Limite da Selvajaria apresenta-se em estreia absoluta no Teatro Carlos Alberto entre os dias 15 e 17 de fevereiro. Um solo, em coprodução TNSJ, que explora um imaginário onde a violência e o poder colapsam na solidão e no silêncio.
Celebração da obra e vida de Camilo Castelo Branco
Camilo Castelo Branco é um dos destaques da programação do TNSJ. Em A Longa Noite de Camilo – uma estreia que resulta de uma coprodução TEatroensaio e TNSJ –, Pedro Estorninho põe em perspetiva a obra multifacetada daquele a quem Agustina Bessa-Luís apelidou de “um Voltaire à moda do Porto, com mais tripas do que carne de lombo”. O espetáculo está em cena de 28 de fevereiro e 3 de março no TeCA, sendo que no último dia será lançado (com concerto) o CD Cancioneiro Musical Português. Este álbum, com voz das sopranos Alexandra Bernardo e Tânia Valente e música do pianista Bernardo Marques, resgata do esquecimento Gustavo Romanoff Salvini, o primeiro compositor a transformar poemas de Camilo em canções. Já a 16 de março, no TNSJ, poderá ser apreciado o recital Serões de Camilo, precisamente quando se cumpre o 193º aniversário do nascimento do escritor. O momento terá as participações da soprano Sara Braga e do pianista Rui Martins.