Loro Sae — Sol Nascente

“Poucos artistas têm a capacidade de me fazer regressar ao passado como Gonçalo implacavelmente faz — ele é consciente, certeiro, mas doce e verdadeiro. Como se nos levasse ao colo, por paisagens cinematográficas e por locais só nossos, numa descoberta a dois.

Lorosae não é excepção. Faz-me regressar a fotogramas, locais e cheiros que fizeram parte da minha longínqua infância — o sol nasce, o dia começa, as possibilidades abrem-se e o Mundo é só nosso. O protagonista, que rapidamente transformamos num reflexo de nós mesmos, explora, imagina, absorve, descobre, e, numa explosão sonora e visual, exprime.

Uma viagem interior e circular, mas de dimensão universal, o que nos leva àquela que eu considero a mais bonita máxima do universo de Gonçalo — que as mais pequenas coisas são, no fundo, as maiores.”

Alexandre Fernandes

Gonçalo é humano, “Boavista” camaleão.

Há pessoas e coisas estanques, com receio ou incapazes de mudar, incolores e sem vida aparente. “Boavista” é a antítese de tudo isso. É a luz matinal e a comunhão que daí advém; a noite e a sua solidão e introspeção; são memórias de sempre cruzadas com o viver do presente; é a constante mutação e a prova de que devemos experimentar ser tudo para realmente ser algo. 

O normal seria redigir uma tão habitual lista de influências para enclausurar Gonçalo. Más notícias para os que se ajeitam nestes caminhos: quem ouve este disco desistirá desse exercício pelo suceder das músicas em catadupa ao pisarem universos tão díspares acabando por confundir os devotos.

Há quem sonhe mudar o mundo e há quem sonhe mudar o seu. “Boavista” alcança-o com graciosidade.

“Boavista” é a primeira incursão longa duração de Gonçalo, longe dos seus Long Way to Alaska. Sucede a QUIM, o EP do bracarense lançado em 2014 pela Lovers & Lollypops. O disco chega após uma recente participação com Castello Branco, com o nome de "Mar Nenhum", colaboração proposta e promovida pela webzine Bodyspace, com participações entre músicos lusófonos.