"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Notícias

Cinco artistas portugueses à procura do prémio Sonae Art

Cinco propostas de "media art" apresentam-se no Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa. O vencedor será conhecido a 6 de dezembro.

Os cinco finalistas da segunda edição do prémio Sonae Media Arte - Foto Diana Quintela/ Global Imagens


Os olhos precisam de se habituar à escuridão na visita à exposição que mostra os trabalhos dos cinco finalistas do Sonae Media Art 2017. O prémio, o principal na área do multimédia e um dos mais valiosos no meio artístico.

Cerca de 150 candidaturas chegaram às mãos do júri do prémio Sonae Media Art, que em 2017 assinala a sua segunda edição. Destes foram aceites 123 e destes saíram os cinco finalistas ao prémio de 40 mil euros que será divulgado a 6 de dezembro.

Nuno Lacerda, Rodrigo Gomes, André Sier, André Martins e Sofia Caetano são os artistas portugueses com menos de 40 anos que foram selecionados e cujas obras se podem ver a partir de hoje, e até 1 de abril do próximo ano, no Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Em comum, os cinco trabalhos têm o facto de, conforme o regulamento, usarem novos media. Os selecionados tiveram cerca de cinco meses e cinco mil euros, cada um, para desenvolverem as suas obras.

1. Nuno Lacerda, Samarra

Nuno Larcerda é o primeiro a "defender" o seu trabalho na visita guiada à exposição para a imprensa. Chamou-lhe Samarra, como a praia do concelho de Sintra e a cidade com o mesmo nome no Iraque, com imagens dessa paisagem de mar, falésia e vegetação, característica do local.

"É uma composição de vários vídeos, pode remeter para o cubismo". Quando tudo estiver pronto, vai ser possível ir mudando os vídeos que aparecem projetados na parede e multiplicar os seus sentidos.

Partem de memórias do autor, nascido em 1983 e licenciado em Artes Plásticas. "As memórias individuais estão presentes nestes vídeos", explica, apresentando a palmeira do quintal dos pais, e acrescentando: É um repositório de recordações entre a vida e a morte".

Nuno Lacerda conta que foi filmando e editando as imagens e que agora, em formato de instalação, está "curioso". "Para ver o que vão fazer as pessoas que vêm visitar o espaço".

Enquanto fala, vai, ele próprio, passando imagens, a partir do rato, uma ferramenta que lhe permite que "o observador se transponha para a tela".

2. Rodrigo Gomes, Estivador de Imagens

Ainda mais escura, a sala que recebe a peça de Rodrigo Gomes atrai o espectador para o centro. Uma projeção de imagens manipuladas da Nasa, que refletem num espelho e numa peça de acrílica acompanhados por esses sons, duas colunas com agudos, duas colunas com graves.

Chamei-lhe estivador de imagens porque "reflete sobre a própria imagem", diz Rodrigo Gomes, 26 anos, natural de Faro, caminhando de um lado para o outro, à volta da sua escultura.

3. André Sier, Wolfanddotcom

André é o mais velho dos candidatos ao prémio Media Art. Fez agora 40 anos, é licenciado em filosofia, trabalha com programação, dá aulas de multimédia na Universidade de Évora, e conta ao DN que já se tinha candidatado na anterior edição, a que deu o prémio a Tatiana Macedo. O seu trabalho está nos dois ecrãs de imagens entre o branco e o negro, gélidas, feitas a partir de um programa que analisa ficheiros de computador. Na apresentação aos jornalistas explica que este trabalho é "arqueologia dos ficheiros". Descreve-o como "um vídeo jogo ambiente inspirado num futuro distópico onde não existem pessoas, restando apenas animais". O animal protagonista, no ecrã e nas esculturas de lobos cujas orelhas servem de joystick. O animal, "o nosso leão", é um "explorador". Nos vídeos projetados, ele explora redes infinitamente.

4. André Martins, Memorial Feed

A peça de André Martins é uma coleção de imagens de pessoas que morreram, mas cujas contas continuam ativas e que se vai atualizando ao minuto.

O artista, de 23 anos, licenciado em Artes e Multimédia e agora a estudar Antropologia, depois de ter passado pela Enfermagem e de ter trabalhado com programação, lança a pergunta: o que acontece às imagens de quem morre. O Facebook criou um memorial, o artista pegou nesta ideia para os agrupar. O seu trabalho foi concebido para as paredes do MNAC, mas também pode ser visto online.

É um cemitério, concorda o autor, "mas não tem o peso local, é partilhado por pessoas de todos os continentes", refere.

Explica ao DN que para o conseguir criou um webcrawler que faz esta pesquisa, que depois mostra a quem passa pelo MNAC e através do site www.memorialfeed.com.

5. Sofia Caetano, GOD

O quinto e último trabalho da exposição pertence a Sofia Caetano. A obra chama-se GOD, "em maiúsculas", e é como se entrássemos numa "nave espacial", conta a artista, 30 anos, nascida em Ponta Delgada.

Faz as honras da casa, explicando toda a a interatividade criada para este espaço. Começa quando o visitante entra na sala negra e as luzes acendem deixando à vista três imagens e depois mais uma e mais três. "Representam a criação do mundo", explicará Sofia Caetano, mais tarde, junto ao tríptico de vídeos, imitando as antigas peças de igreja, onde vão passando imagens que a artista manipulou digitalmente. São filmagens em 16 mm de filmes educacionais e científicos, adquiridas através da plataforma eBay.

Para chegar a estas imagens é preciso atravessar um corredor cujas luzes se vão acendendo à passagem do visitante. Os vídeos começam a passar quando se carrega no botão gigante, encarnado, com a palavra GOD e o espectador coloca os auscultadores. A experiência foi pensada para que cada um a vida aos seu ritmo.

"Interessava-me contrapor o antigo e novo. A tecnologia e o 16 mm. O Genesis e a media arte...", explica Sofia Caetano.

Foi em 2015 que Sonae e MNAC se juntaram para criar o Prémio Sonae Media Art, especialmente dedicado aos artistas que usam meios eletrónicos e digitais. Tatiana Macedo venceu com a peça 1989.

Os artistas finalistas foram escolhidos pela professora e especialista em Teoria dos Media Teresa Cruz, o compositor António Sousa Dias e a curadora e historiadora de arte do Museu de Arte Contemporânea Adelaide Ginja.

O júri de premiação, que agora terá de escolher o vencedor, é constituído pela curadora Filipa Oliveira, o professor universitário Nuno Crespo e Ramus Vestergaard, diretor do DIAS - Digital Interactive Art Space, o primeiro museu dinamarquês especializado em media art.

 


por Lina Santos in Diário de Notícias | 23 de novembro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,858,614