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Portugal vai ter mais uma rota: são 200 quilómetros a pé pela Peneda-Gerês

Vários dos trilhos pedestres no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) vão ligar-se para formar a Grande Rota, um projeto para gerar um aumento 5000 visitantes por ano e dinamizar o alojamento, reforçando, ao mesmo tempo, a segurança.

Fotografia de Hugo Santos


Quem atravessar o planalto de Castro Laboreiro, em Melgaço, com as mamoas do Megalítico que lá repousam e as urzais-tojais que por ali se espalham, ou o Percurso da Paradela, na extremidade de Montalegre, marcada pelas vistas panorâmicas para a serra do Gerês e para o rio Cávado, vai dispor de um sistema de sinalização que lhe permita chegar à outra ponta do PNPG ao longo de uma via de trilhos principais, que se estende por 200 quilómetros.

A Grande Rota da Peneda-Gerês apresenta um traçado, para já provisório, dividido em 18 etapas, que liga a Inverneira da Ameijoeira, em Melgaço, e Tourém, povoação de Montalegre já a norte da serra do Gerês, rodeada por território espanhol exceto a sul. O percurso vai ser pela primeira vez apresentado nesta terça-feira, em Melgaço, numa das cinco sessões de discussão pública que decorrem até ao final do mês e que podem ditar alterações ao projeto.

Com a reorganização dos trilhos, a nova rota, orçada em 300 mil euros e apoiada pelo Norte 2020, pretende captar mais turistas, seguindo o objetivo da Agenda Regional de Turismo de tornar o Norte o “primeiro destino de Turismo da Natureza e Rural do país, assente numa rede de áreas protegidas e rurais de elevado valor natural e paisagístico”, lê-se no resumo do projeto, ao qual o PÚBLICO teve acesso. 

Apesar das dificuldades que persistem, por ora, em monitorizar a utilização dos trilhos e em obter, assim, dados precisos sobre o número de visitantes, a Adere Peneda-Gerês, uma associação de desenvolvimento que é responsável pelo desenvolvimento de projetos financiados pela Comissão Europeia e pelo Estado Português no PNPG, já definiu dois objetivos quanto ao turismo: assistir, em cada ano, a um crescimento de 5000 visitantes e a uma subida de 2,5% no número de dormidas, revelou Carla Rodrigues, técnica da instituição, envolvida na elaboração do projeto.



A Grande Rota, esclareceu, vai contar com uma plataforma web para promover os trilhos e atrair “não só turistas portugueses”, mas também “turistas estrangeiros” que privilegiam as “férias ativas” na natureza e gerar também um clima favorável quer para os negócios já implantados, quer para a criação de outros que satisfaçam as “novas necessidades”.

O resumo do projeto alerta que, apesar do “crescimento significativo nas visitas mais curtas” — fim de semana ou um dia —, os “visitantes não tiram o real partido da sua visita” ao PNPG pela inexistência de rotas mais longas que “proporcionem a travessia de todo o território e que funcionem como espinha dorsal de toda a rede de percursos existentes”.

A Grande Rota, lê-se no documento, pretende assumir-se como “recurso central” numa oferta turística que contempla o aumento do número de operadores e a oferta de pacotes para mais de três noites, algo que, na perspetiva do presidente da Câmara Municipal de Melgaço, Manoel Batista, pode acontecer.

Embora sem “dados absolutos”, o autarca frisou que a taxa de ocupação na área das dormidas tem crescido no município — o número de dormidas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados em Outubro, subiu de 23.415 para 32.569, acompanhando a tendência dos restantes municípios do PNPG, com exceção de Montalegre — e que existe potencial não só para “aumentar consideravelmente o volume de visitantes” como para “chegar a outros públicos”, nomeadamente turistas estrangeiros, do Norte da Europa.

O autarca disse ainda que, cada vez mais, vê sinais de pessoas a aperceberem-se do potencial do sector do alojamento e a quererem investir capital privado para a oferta crescer, realçando o projeto de reconstrução do Grande Hotel do Peso, junto às Termas do Peso, que trabalhou durante boa parte do século XX.

Localizada num território que é, em conjunto com o parque natural espanhol da Baixa Limia (serra do Xurés), Reserva da Biosfera desde 1997, e está incluído na Carta Europeia de Turismo Sustentável, a Grande Rota vai nascer para aumentar o número de visitantes, mas salvaguardando, de acordo com o resumo, os “valores culturais e naturais” do PNPG.

Carla Rodrigues garantiu ao PÚBLICO que as obras de requalificação, “prestes a começar” não vão gerar qualquer impacte ambiental, cingindo-se praticamente a “limpezas pontuais dos caminhos” que garantam a sustentabilidade ambiental do território e assegurem a futura manutenção da rota.

Aumentar a segurança

Além de querer atrair mais gente para o PNPG, a Grande Rota pretende igualmente reforçar a segurança dos visitantes com um plano que conduza à diminuição dos “acidentes e do número de pessoas perdidas ou desorientadas em atividades pedestres” e também da “pressão nos trilhos informais em zonas mais protegidas e de difícil acesso”, lê-se no resumo do projeto — até agosto deste ano, houve 18 operações de salvamento, mais quatro face ao mesmo período de 2016.

Esse modelo contempla, além da sinalização do percurso, a adoção de um sistema de check-in e de check-out, ainda em estudo, com os visitantes a fazerem voluntariamente um registo de entrada e um registo de saída em cada percurso de forma a reduzir a área de procura em eventuais operações de busca ou de resgate, explicou Carla Rodrigues.

“Se a pessoa fez o check-in naquela etapa da rota, há que estar algures ali naquela proximidade e não nos 70 mil hectares que correspondem à área total do parque”, referiu a técnica da Adere Peneda-Gerês, assumindo estarem ainda em estudo “soluções mais complexas”, que envolvem protocolos de autorização e transmissão de informação pessoal.

O presidente da Câmara de Melgaço realçou, por seu turno, que a segurança tem sido uma das “grandes preocupações”, tanto no desenho dos trilhos como na limpeza dos mesmos, e que o “reforço da capacidade de comunicações” no interior do parque continua a ser fundamental para “garantir a segurança de cada pessoa que poderá fazer a Grande Rota”. As operadoras móveis envolveram-se na melhoria da rede móvel do território protegido depois da apresentação, em maio, do Projeto de Interesse Público para a Melhoria da Cobertura de Comunicações Eletrónicas Móveis no Parque Nacional da Peneda-Gerês, apresentado, em maio, pelo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, precisamente naquele concelho do Alto Minho.

A Grande Rota vai assim juntar-se a outras que já existem no país, como é o caso da Via Algarviana e da Rota Vicentina, uma das que mais sucesso tem tido.


por Tiago Mendes Dias, in Público | 15 de novembro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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