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Arte banida pelos nazis revelada em Berna e Bona

Museus suíço e alemão mostram parte das 1500 obras de arte da coleção Gurlitt, encontrada em 2012 em Munique e Salzburgo.

[EPA / Peter Klaunzer]

 

Em novembro de 2013, um artigo da revista alemã Focus tornava público um achado fantástico: a polícia germânica encontrara cerca de 1500 obras de arte escondidas num apartamento de Munique e numa casa em Salzburgo, assinadas por nomes como Monet, Cézanne, Renoir, Picasso ou Matisse. Este insólito desfecho de uma investigação iniciada em 2010 pela Procuradoria da Baviera devido a suspeitas de evasão fiscal por parte de Cornelius Gurlitt, digno de um argumento de Hollywood, revelaria uma impressionante coleção de arte da qual agora uma parte é mostrada ao público pela primeira vez em duas exposições pensadas em conjunto pelos Kunstmuseum de Berna e Bundeskunsthalle de Bona.

Na capital suíça, desde ontem são mostradas cerca de 150 obras de arte reunidas sob uma linha de força: Arte Degenerada - Confiscada e Vendida. Composta principalmente por desenhos, litografias e gravuras banidas de museus e outras instituições alemãs durante o período nazi tratam-se de obras compradas pelo colecionador e comerciante de arte Hildebrand Gurlitt, um dos poucos autorizados pelo regime nazi a negociar arte durante o III Reich, nomeadamente peças da chamada arte degenerada. Ou seja, arte moderna - expressionismo, dadaísmo, surrealismo, cubismo, fauvismo - que não seguia os ideais nazis ou ainda trabalhos feitos por artistas pertencentes a famílias judias.

"Na maior parte sabemos exatamente quando as obras foram confiscadas, de qual museu alemão", disse Nina Zimmer, diretora do Museu de Arte de Berna, durante a conferência de imprensa de apresentação da exposição na Suíça.

"Só expomos as obras das quais temos 100 % de certeza de que não foram pilhadas [a proprietários particulares]", afirmou ainda Zimmer, numa referência ao trabalho de investigação e autenticação que desde 2014 tem sido feito por uma equipa de especialistas em arte. Fazendo um ponto de situação do estudo em curso desde que, após a morte de Cornelius Gurlitt, em maio de 2014, o Kunstmuseum foi nomeado como único herdeiro da coleção, a responsável acrescentou ainda que um conjunto de cerca de 300 obras de arte degeneradas estão neste momento a aguardar esclarecimentos sobre a sua propriedade. E só depois de esclarecidas todas as dúvidas serão exibidas. Ou devolvidas aos legítimos proprietários, como ao longo destes três anos de intensas investigações já aconteceu com seis obras. O caso mais recente aconteceu na semana passada, quando os especialistas do Projeto Gurlitt identificaram uma pintura de Thomas Couture como tendo pertencido a Georges Mendel, político francês de origens judias.

"Com estas duas exposições, desejamos homenagear as pessoas vítimas dos roubos de arte no nacional-socialismo, assim como os artistas difamados e perseguidos pelo regime", explicam Rein Wolfs e Nina Zimmer, diretores dos museus de arte de Bona e de Berna, respetivamente.

No caso de Berna, a exposição "parte de uma visão autocrítica que põe em questão o polémico papel da Suíça como centro nevrálgico no campo lucrativo da arte nazi", explicou Zimmer.

Já a exposição Arte Nazi Roubada e suas Consequências, hoje inaugurada na Bundeskunsthalle de Bona, exibe obras sobre as quais recaem suspeitas de terem sido roubadas a famílias de judeus durante o regime nazi. Na próxima primavera, os dois museus trocam de exposições entre si.

Uma disputa legal entre dois parentes afastados de Cornelius Gurlitt e o museu suíço impediram até agora a realização destas exposições, que oferecem a possibilidade de ver quadros que há sete décadas não eram vistos.


por Marina Marques, in Diário de Notícias | 03 de novembro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

 

 

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