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Museu chinês empresta obras a Portugal pela primeira vez

Trinta objetos oriundos do acervo do Museu de Cantão podem ser vistos no Museu Nacional frei Manuel de Cenáculo, em Évora. É a primeira vez que esta instituição empresta peças a Portugal.

Uma jarra datada da época em que a porcelana Kraak chegou à Europa | Diana Quintela/ Global Imagens


Um caminho de painéis, cerca de 20, conduz quem entra no Museu Nacional Frei Manuel de Cenáculo (a mais recente denominação do Museu de Évora), trazendo informações sobre os 30 objetos que chegaram à cidade alentejana. São os primeiros que o Museu de Guangzhou, uma cidade de 16 milhões de habitantes, autorizou que saísse da China rumo a Portugal. Os mais antigos têm 2000 anos de história.

Cantão e a Rota Marítima da Seda, assim se chama a exposição, patente até 31 de dezembro, ocupa uma das salas de exposição temporárias do museu em Évora. O diretor, António Alegria, explica que um dos requisitos de segurança do museu chinês era que as peças fossem expostas numa sala que, em caso de incidente, pudesse ser isolada. É o que se passa aqui. "Se acontecer alguma coisa pode ser fechada sem comprometer o funcionamento do museu", refere.

Os cuidados foram muitos. Depois de expostas nas respetivas vitrinas, foram seladas pela equipa do Museu de Cantão que acompanhou as peças até Évora, no âmbito desta parceria entre a Direção Regional de Cultura do Alentejo, e o Museu Frei Manuel do Cenáculo, e o Observatório da China.

Rui d' Ávila Lourido, presidente do Observatório da China, entidade que procura divulgar a cultura chinesa em Portugal, contextualiza a exposição com peças do museu de Guangzhou. São um testemunho das relações entre Oriente e Ocidente que o título antecipam. Demorou dois anos a preparar.

As peças com mais de 2 mil anos são cerâmicas fáceis de identificar como as mais antigas. "São terracottas que vieram dos túmulos dos imperadores", afirma o presidente do Observatório da China. Igualmente antigas são as contas de adorno que se podem ver na exposição. Em contrapartida, os elementos mais recentes são os pratos coloridos do século XIX.

A mais vistosa é a jarra em azul cobalto e branco com ilustrações antigas que está no centro da exposição. É do reinado Wamli (entre 1573-1620), dinastia Ming (1368-1644), precisamente aquele em que as porcelanas Kraak chegou ao mercado europeu.

Outra peça, uma entre 30, que se distingue é a caixa de costura de laca ilustrada com figuras num pátio, datada da dinastia Qing (1644-1911). "A pintura lacada a dourado foi o principal método decorativo: de modo delicado, eram colocadas camadas distintas de contraste nítido", refere o catálogo da exposição.

Algumas já tinham sido vistas em solo português, à boleia de um qualquer evento protocolar. A diferença aqui é a quantidade e a perspetiva cronológica. Nota-se como a seda era uma matéria-prima essencial no século XVIII, por exemplo. Ou, como a encomenda de porcelanas, cresce graças ao facto de os portugueses terem implantado esta rota marítima que permitia trazer para Portugal produtos a preços muito mais baixos. "Por terra, pagando taxas em todos os países, sujeitos a assaltos, os preços eram exorbitantes", refere Rui Ávila, salientando que a grande mais-valia da exposição é "mostrar as peças originais".

A exposição de Évora é uma antecâmara de algo maior. Uma grande exposição de Tesouros da China prevista para o biénio 2018/2019 no Palácio Nacional da Ajuda.

A exposição pode ser vista de terça-feira a domingo, das 9.30 às 17.30 (última entrada às 17.00). O bilhete normal custa 3 euros, com descontos para famílias, estudantes e maiores de 65 anos. A entrada é gratuita aos domingos até às 14.00.


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 26 de outubro de 2017

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias

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