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Sitiados - Edição especial comemorativa do icónico álbum de estreia do grupo

No ano em que se comemoram 25 anos da edição do álbum de estreia dos SITIADOS, a Sony Music Entertainment reeditará a 3 de novembro essa obra seminal na história da música portuguesa. 


O álbum “SITIADOS”, há muito indisponível, regressa assim às lojas numa edição especial comemorativa do 25.º aniversário, na qual se incluem 25 temas extra e um luxuoso livreto de 32 páginas recheado de imagens inéditas.

Este álbum duplo inclui os 16 temas originais remasterizados, diversas maquetes com temas inéditos e versões ainda embrionárias de temas que viriam a ser regravados para o disco de estreia, em gravações de 1987 a 1989.

No livreto podem ainda encontrar-se dois testemunhos de Pedro Gonçalves e Ricardo Alexandre, diversas fotos do arquivo privado dos artistas e disponibilizadas pela primeira vez ao público e ainda vários documentos históricos.

ALINHAMENTO “SITIADOS – 25 ANOS”:

CD1 

1 Vida De Marinheiro
2 Naufrágio
3 Fado Da Rusga
4 Balada da Neve
5 Amor É
6 Pérola Negra
7 E Ela Cega
8 Soldado
9 Cabana Do Pai Tomás
10 Fado Da Traiçao
11 António Santo
12 Vida
13 Última Valsa
14 Amanhã
15 Abril
16 Junto Ao Rio
EXTRAS
17 A Noite (1989)
18 Vida de Marinheiro (1990)
19 Naufrágio (1990)
20 Euphoria (Ao Vivo - 1990)

CD2

1 Libertação (1987)
2 Revolta (1987)
3 Submissão (1987)
4 N'amurada (1987)
5 Tanto Tempo (1987)
6 Madrugada (1987)
7 Pequeno Mar (1988)
8 Só (1988)
9 Companheiros (1988)
10 O Beijo (1988)
11 Macieira Montemuro (1988)
12 Soldado (1988)
13 Junto ao Rio (1988)
14 Vida (1988)
15 E Ela Cega (1989)
16 Rebuçados (1989)
17 Amanhã (1989)
18 Balada da Neve (1989)
19 Fado da Traição (1989)
20 Última Valsa (1989)
21 Abril (1989)

“SENHORAS E SENHORES: SÃO OS SITIADOS” - Por Pedro Gonçalves

Carecemos de motivos para comemorar os 25 anos que agora passam desde que em Portugal o calendário se deteve durante 366 dias em 1992. Vimos um avião despenhar-se no Aeroporto de Faro. Tivemos um estripador à solta em Lisboa. Não fomos ao Campeonato da Europa. Não ganhámos a Eurovisão. Não tínhamos internet, o que significa que interatividade era o que fazíamos com um telefone fixo e o número do “Agora Escolha”. Foi, no essencial, um ano pouco expressivo. Até o formalíssimo Eládio Clímaco brilhou mais do que 1992 quando, na final do concurso Miss Portugal desse ano, falou de um grupo “que desde logo teve a adesão do público jovem”. “Senhoras e senhores: são os Sitiados”.

O entusiasmo de Clímaco, embora não tão exuberante quanto a sua voz sempre que uma equipa portuguesa triunfava numa prova de piscina dos “Jogos Sem Fronteiras”, era compreensível. Em palco entrava a banda “que desde logo teve a adesão do público jovem”, sim, mas que fez um bom bocado mais do que isso. Não foi a inauguração do Centro Cultural de Belém que salvou o ’92 de muitos portugueses. Foram os Sitiados. Foi “Sitiados”. Um disco que, consideravelmente atrasado na chegada às prateleiras, quando aterrou provocou estrondo e, qual sismo de vulto, vai provocando réplicas até hoje. Havia já vários anos que os Sitiados arregimentavam para os seus concertos um séquito militante, público jovem ou não, que do cruzamento entre rock, o fado e o folclore faziam celebração e selvajaria da boa. Mas depois veio 1992 e o álbum “Sitiados”. Que, ouvido por ordem, como os álbuns então se ouviam, apresentava-se através de “Vida de Marinheiro”. Só.

Marinheiros de vocação na reserva, fizemos de “Vida de Marinheiro” uma das peças imortais da arte popular portuguesa. Um Bordallo Pinheiro das canções. E, no entanto, em “Sitiados” essa é só a beirinha da água. De “Naufrágio” em diante existe toda uma epopeia. Nem sempre marítima, que esta coisa também se faz em terra. Faz-se com a polícia que não gosta da concertina; com a guarda que bate sem parar; com o omnipresente Aníbal (o nome próprio do então Primeiro-Ministro) que cai do seu trono quando vê Pérola Negra, a mais bela das moças; faz-se d’Ela, que cega e faz chorar, que é vida e que triste é a vida sem ela; faz-se com uma inata incapacidade de guerrear e matar em nome da nação, não obstante o amor à revolução; faz-se das moças prendadas no sofá do Pai Tomás (e das memórias das cópias das cassetes de um arquiteto); faz-se, junto ao rio onde a alma morre, para o bem e para o mal, com a “puta da vida”.

Mil nove e noventa e dois foi um grande ano. Foi um ano bissexto.

“TEMPO” – Ricardo Alexandre

Aquele tempo não era tempo de telemóveis, nem de Internet, nem de música gratuita. E estávamos longe de imaginar reflexões sobre o custo do gratuito. Também, ainda, não era o tempo da festa que os Sitiados iriam trazer ao Portugal acomodado e cabisbaixo, pois ainda não era o tempo de bater forte no cavaquismo reinante. 

Combinavam-se encontros com semanas de antecedência e marcava-se o local, a 300 e tal quilómetros de distância, à porta de uma estação ou numa paragem de autocarro. Trocavam-se maquetes dos Xutos, como tesouros que eram. Comprava-se por correio e pagava-se à cobrança. As rádios-pirata eram das coisas mais a sério das nossas vidas. Vendia-se na Ladra e na Vandoma as tralhas de casa para comprar o vinil importado. As chamadas interurbanas eram caras e as internacionais ainda mais proibitivas. Inventavam-se e faziam-se cursos de formação profissional, mas pareciam ser mais os que enriqueciam sem os fazer do que os que aprendiam, fazendo-os.  

Aquele era ainda o tempo de uma juventude desencantada, mas com a revolta a germinar, a dúvida adolescente entre o partir ("eu queria saber o que me faz ficar neste lugar, rastejar à espera de um novo dia") e o ficar ("das correntes que me prendem a ti, submissão do medo surdo de estar", in Submissão), amores e desamores e apego à terra (antecipando o que viria a ser a identidade da banda e os projetos seguintes de Aguardela). "Há um rio que me encanta que me faz voltar de novo, há um rio que me encanta, que me encanta bem", como escreve Francisco Resende N'Amurada.

Havia um pop-rock que era grito de urgência na luta contra o tempo, como em Tanto Tempo ("tanto tempo sem gritar, tanto tempo sem amar, tanto tempo sem sentir, tanto medo de sentir, tantos livros por escrever, tantos sítios para ver, tantos dias sem viver"), com a morte já tão presente – ou, pelo menos, o confronto com a sua inevitabilidade ("a revolta de quem não sabe sofrer, a distância, só não quero morrer", in O Beijo), uma marca amiúde presente, tragicamente, nas letras dos Sitiados de João Miguel Aguardela e Fernando Fonseca (para mencionar os que já partiram).

Este tempo, o de agora, é mais conhecido. Vamos ao que interessa: é o tempo de aproveitar a extraordinária iniciativa que juntou vontades, de editora e músicos, para dar a conhecer a um público mais vasto as preciosidades do início da carreira dos Sitiados. Do tempo d'A Noite, um tempo antes da Vida de Marinheiro, (também cá está, em versão remasterizada, tal como todo o primeiro álbum), antes de tudo o que aqueles anos loucos do início dos 90 me/nos permitiram viver.  De bom grado, com os que já não estão e os que cá andam, viveria tudo outra vez, "Até ao fim, até ao fim". Ricardo Alexandre

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