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Ana Vieira, Helena Almeida e Joana Vasconcelos entre os ícones da criação feminina em Paris

Artistas portuguesas integram exposição coletiva Women House, que a Monnaie inaugura esta sexta-feira.

Fotografia da série "Estudos para dois espaços", de Helena Almeida Escultura de Louise Bourgeois (DR)


Ana Vieira, Helena Almeida e Joana Vasconcelos são as três artistas portuguesas representadas na exposição Women House, em Paris, que "coloca a mulher no centro da história da arte e da arquitetura de que esteve ausente e/ou foi vítima", escrevem as comissárias da mostra, Camille Morineau e Lucia Pesapane.

A exposição, que abre ao público esta sexta-feira e encerra a 28 de janeiro de 2018 na Monnaie de Paris, cruza a noção do género feminino com o espaço doméstico, pretendendo mostrar que "não é uma fatalidade" a "evidência histórica" de que "a arquitetura e o espaço público foram masculinos, enquanto o espaço doméstico foi durante muito tempo o das mulheres".

"Esta casa-mulher é um refúgio, uma prisão, ou pode ser um local de criação? As artistas desta exposição agarram neste tema complexo e, através dele, recolocam a mulher no centro da história da arte e da arquitetura", explicam as comissárias no catálogo de Women House.

As três artistas portuguesas selecionadas figuram entre 39 nomes das artes dos séculos XX e XXI, como Louise Bourgeois, Claude Cahun, Cindy Sherman, Niki de Saint Phalle, Martha Rosler, Mona Hatoum e Rachel Whiteread, com criações mais recentes de Pia Camil (México), Nazgol Ansarinia (Irão), Isa Melsheimer (Alemanha) e Laure Tixier (França), entre outras.

Da portuguesa Ana Vieira (1940-2016), a exposição escolheu a obra Sala de Jantar (1971), da série Ambientes, uma estrutura metálica com um véu de nylonque reproduz uma sala onde estão pintados objetos do espaço doméstico, como cadeiras e armários, e na qual o espectador não pode entrar. A peça está em destaque na secção Construire c'est se construire (Construir é construir-se), que evoca os anos 70, quando "as artistas se rebelaram contra a privação do espaço real – o espaço de trabalho (e o simbólico) do reconhecimento", colocando, através das suas obras, "a mulher no centro de uma história da arte da qual esteve ausente".

Esta secção conta com apenas duas obras: a instalação de Ana Vieira e uma escultura da italiana Carla Accardi, "duas artistas que construíram obras que podem ser consideradas como manifestos destes anos, ainda que tanto uma como outra tenham tardado a ser reconhecidas pelos historiadores de arte", diz o catálogo.

"A sala de jantar da artista portuguesa Ana Vieira parece-nos simultaneamente familiar e estranha. Esta obra coloca em cena os clichés de um espaço burguês onde o rigor que determina a disposição dos objetos tem um contraponto na sua opressora banalidade", acrescentam Camille Morineau e Lucia Pesapane, ambas responsáveis pelo sector das exposições da instituição parisiense.

De Helena Almeida foram escolhidas quatro fotografias de 1977, Estudo para dois espaços, que são apresentadas na secção La maison, cette blessure (A casa, esta ferida), na qual "as artistas revelam e afrontam os limites do seu espaço, tanto físico quanto psicológico". "Helena Almeida, artista portuguesa, dá conta de um sentimento de prisão ao colocar a sua mão em portões metálicos de casas. As suas fotografias simbolizam o isolamento do país sob a ditadura portuguesa que o reprimiu até 1974", continua o catálogo.

Para a secção Maison de Poupée (Casa de boneca), inspirada na peça homónima de Henrik Ibsen, de 1879 – que teve um forte eco nos primeiros movimentos de emancipação feminina no final do século XIX –, a exposição conta com a escultura em ferro forjado em forma de bule de chá, La Theière (2010), de Joana Vasconcelos (2010). A peça, que esteve exposta no Palácio de Versalhes em 2012 e que é inspirada em Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, vai ficar num dos pátios do edifício da Monnaie de Paris, situada entre a Ponte das Artes e a Ponte Nova (Pont Neuf).

O percurso de Women House desenvolve-se ao longo de oito capítulos distribuídos por mil metros quadrados da Monnaie de Paris. A ideia da exposição surgiu de um ensaio escrito por Virginia Woolf, em 1929, A Room of One's Own (Um Quarto Só para Si, editado em Portugal pela Relógio D'Água) – data que baliza, de resto, o início do período abarcado pela seleção das obras exibidas. 

Women House é organizada pela Monnaie de Paris, em colaboração com o National Museum of Women in the Arts (NMWA), de Washington, nos Estados Unidos, seguindo depois para este museu, onde ficará exposta a partir de 8 de março de 2018.


por Lusa e Público | 18 de outubro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

 

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