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Artistas esmiúçam arquivos familiares de gente de Lisboa

Seis "performers" trabalharam coleções de filmes familiares que estão guardados no Arquivo Municipal de Lisboa. 

Alex Cassal é um dos performers convidados para este encontro entre o Arquivo Municipal e o Espaço Alkantara | Direitos reservados/ Espaço Alkantara


Traça - Mostra de Filmes de Arquivos Familiares é um encontro. Entre registos de imagens caseiros e performers. Entre o Arquivo Municipal de Lisboa - Videoteca (AML) e o Espaço Alkantara. O encontro deu-se "literalmente, na Madragoa", responde Thomas Walgrave, diretor artístico do Espaço Alkantara, sediado neste bairro lisboeta, que recebe hoje, amanhã e domingo a segunda edição deste projeto.

Inês Sapeta Dias, uma das responsáveis, explica as premissas da bienal Traça. A primeira foi em 2015, no Castelo. "Vamos ocupando sempre um sítio diferente da cidade, onde espalhamos estes filmes, em espaços importantes para as comunidades desses territórios". Na Madragoa, o ponto de encontro é o centro comunitário, as sessões e performances espalham-se por outros locais emblemáticos como a Sociedade Guilherme Cossoul, o Museu da Marioneta, Instituto Hidrográfico, a Torrefação Flor da Selva, o Palácio Machadinho ou o próprio Espaço Alkantara.

A segunda premissa do projeto, explica Inês Sapeta Dias ao DN, é "trabalhar sempre com artistas de zonas artísticas diferentes, entregando imagens para que as trabalhem e criem novos objetos com elas". No primeiro ano, foram realizadores, este ano artistas da zona das artes performativas: Alex Cassal, Sofia Dinger, Sofia Dias & Vítor Roriz, Raquel André, Isabel Abreu e Jorge Silva Melo & Miguel Aguiar. "Fiz uma longa lista de artistas que trabalham memória, arquivo ou com uma ligação profunda com a cidade", conta Thomas Walgrave. O ponto de partida foi um workshop de três dias em que viram o material pela primeira vez. Depois, cada um fez o seu trabalho de casa, nota Thomas Walgrave. "Alguns ficaram com vontade de aprofundar o material que viram no workshop, a Isabel Abreu fez pesquisa no campo", elenca.

Os artistas convidados trabalharam as coleções de filmes de Maria Manuel de Sousa (Lapa, anos 50), Acácio de Carvalho (Madragoa, anos 90) e Luísa Crick (Lisboa, anos 50 a 80). A coleção de Acácio de Carvalho resultou de uma procura ativa do Arquivo na Madragoa. "Acreditamos que mais vão surgir depois da mostra", afirma Fátima Tomé, outra responsável da Traça.

"O trabalho incrível que a Fátima e Inês fazem é muito mais do que engraçado. É perceber que a cidade é o que é porque tem esta relação com o passado, que não são só os desfiles da rainha da Inglaterra, mas também os bastidores, a história íntima, o homem que filma e não a mulher ou quando é a mulher isso ser quase revolucionáro. O que é que isto quer dizer? Eu aprendi muito sobre a cidade olhando os filmes", afirma Thomas Walgrave.

Nesta edição, uma das propostas é um percurso pelo bairro com filmes de origem desconhecida que vão ser exibidos em locais como o Regimento de Sapadores de Bombeiros, Esperança Atlético Clube ou Vendedores de Jornais Atlético Clube. "Que o visitante ocupe o lugar do arquivista e que nesses filmes que vão estar espalhados por todo o bairro comece a identificar ligações entre as pessoas", desafia Inês Sapeta Dias. "Estes filmes chegaram-nos desarrumados aqui ao arquivo", conta Inês Sapeta Dias. "Foram encontrados em feiras, no lixo, sotãos, outros já estavam acumulados aqui na videoteca e foram digitalizados de modo bastante improvisado. Isto não era o arquivo oficial".

Essa é a génese deste arquivo de filmes familiares que agora está nas mãos do AML. "As pessoas já não conseguiam ver os filmes e um projecionista que trabalhava cá fazia esse trabalho para poderem voltar a vê-los", continua Inês Sapeta Dias. "Devolvia-os às pessoas sem ficar com grandes notas sobre eles", continua a responsável, explicando que um dos trabalhos é agora encontrar estas pessoas - os autores, protagonistas ou herdeiros. "Muitas delas já estão encontradas, mas ainda faltam algumas e são esses filmes que vamos espalhar pela Madragoa".

"É a memória íntíma da cidade, faz um retrato do passado, que escapa a qualquer fonte oficial", nota Thomas Walgrave, a propósito deste material. Reforça Inês: "É a dobra da história". Começa hoje às 17.30 no Centro Comunitário da Madragoa.


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 13 de outubro de 2017

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias

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