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As esculturas de Claire de Santa Coloma vencem o Prémio Novos Artistas EDP

O júri atribuiu uma menção honrosa a Ana Guedes. Obras dos finalistas vão ficar em exposição no MAAT até 9 de outubro.

Claire de Santa Coloma_Mário Lopes Pereira Peças da autoria de Claire de Santa Coloma_Mário Lopes Pereira Peças da autoria de Claire de Santa Coloma (imagens de arquivo)_Miguel Manso Mário Lopes Pereira Mário Lopes Pereira


Foi no exterior, às portas da entrada da exposição que reúne os seis finalistas, na sombra do tijolo laranja, luz solar espelhada pelo Tejo, que a argentina radicada em Lisboa Claire de Santa Coloma, 33 anos, foi anunciada como vencedora da 12.ª edição Prémio Novos Artistas Fundação EDP, uma iniciativa bienal no valor de 20 mil euros, que visa revelar e apoiar talentos nas artes plásticas e visuais. O anúncio foi feito esta terça-feira pela organização, no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.

A decisão da organização em fazer o anúncio naquele local, tendo em conta a vencedora, pareceu especialmente feliz. Afinal, Composição Eterna (2017), a obra que Claire de Santa Coloma apresentou a concurso, é composta de 22 esculturas dispostas para se oferecerem à passagem do tempo, à luz que se altera com o correr do dia, transformando também, no processo, a forma como as olhamos e, no limite, como o podemos habitar – em declarações após o anúncio do prémio, a artista referir-se-ia ao desejo de fazer da obra um “espaço de convivência”.

A diretora do Museu Gulbenkian, Penelope Curtis, membro do júri internacional que escolheu o vencedor, afirmou que não foi uma “decisão controversa”, mas “difícil”. A escolha foi feita entre os trabalhos dos seis artistas que integram a exposição Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2017 - Ana Cardoso, Bernardo Correia, João Gabriel, Ana Guedes (que recebeu uma menção honrosa), Igor Jesus e a vencedora Claire de Santa Coloma.

Difícil a escolha porque o Prémio Novos Artistas Fundação EDP aponta normalmente o futuro, mas o trabalho de Claire de Santa Coloma “lida também com o passado”. A vencedora passou pelo processo de “absorver as lições do passado” e aprender a dominá-las, diz Penelope Curtis, uma historiadora de arte especializada em escultura. Neste momento, referiu, está numa posição em que reflete sobre “o que pode ser hoje a escultura”, enquanto, ao mesmo tempo, lança também um “olhar para o futuro”.

O pintor Eduardo Batarda, Grande Prémio EDP 2007 e também membro do júri, que, além de Batarda e de Penelope Curtis, era composto pelo artista sonoro Bill Fontana, por João Mourão, co-diretor da Kunsthalle Lissabon, e presidido por Pedro Gadanho, diretor do MAAT, acrescentou sobre a decisão do júri que a “reinterpretação do passado”, conciliada com um “olhar original, talvez seja mais rara do que se pode supor”.

Uma visita à exposição dos seis finalistas, patente até 9 de outubro, permite perceber como essa reinterpretação se opera, por exemplo, nas imagens vídeo de filmes pornográficos tornadas pintura de João Gabriel, nos fantasmas de vários tempos que nos envolvem na instalação feita onírica sala de espelhos de Bernardo Simões Correia ou na fita magnética reproduzindo o som de sirenes da 2ª Guerra Mundial, presente na instalação de Ana Guedes – no comunicado enviado à imprensa o júri justifica a menção honrosa atribuída “pela sua originalidade e pela sua capacidade em conjugar som, espacialidade e narrativa crítica”. A esse respeito, Claire de Santa Coloma dirá que a sua técnica é tradicional, “mas só a técnica”: “O que me interessa é a relação com a escultura e o sítio que ocupa”.

As 22 esculturas de Composição Eterna não compõem uma instalação, mas são antes uma obra única, como sugere o título. As que estão expostas no MAAT são na sua maioria feitas de madeira – azinho, carvalho, bubinga, tauari, buxo, sapele, radica, nogueira e castanheiro –, mas também de couro e napa ou de latão e cabo de aço. Em julho, ao Ípsilon, a artista que estudou o atelier de Brancusi em Paris explicava que o que lhe "interessa é o tempo que se vai sedimentando nas obras”. O seu trabalho é, na sua maior parte, escultórico, mas passa também pelo desenho e pelos livros de artista.

Composição Eterna “é um trabalho sobre escultura, sobre como vivemos a escultura”, declarou Claire de Santa Coloma à imprensa. Classifica-o como um “atelier de resistência” perante a velocidade vertiginosa do mundo contemporâneo. “Nem tudo tem que ser veloz”, acentua.

Chegada a Portugal há precisamente oito anos, em setembro de 2009, recebe o prémio, “sobretudo”, como um “grande impulso” para continuar o seu trabalho, que, como até aqui, continuará a ter na madeira a sua matéria principal. Isto, até transformar em obra toda a que tem no seu atelier. Depois disso, diz, é provável que procure outros materiais para se exprimir. O futuro, ainda assim, é um espaço em aberto. Afinal, acabara de se saber vencedora do 12.º Prémio Novos Artistas - o valor do prémio destina-se ao aprofundamento dos estudos, ou à concretização de um projeto artístico específico pelo vencedor. Cedo demais para ter já traçados planos definidos. “A minha maior responsabilidade é continuar a trabalhar”.

Nas edições anteriores foram vencedores Joana Vasconcelos, Vasco Araújo, João Maria Gusmão/Pedro Paiva, Carlos Bunga, André Romão, João Leonardo, Leonor Antunes, Gabriel Abrantes, Priscila Fernandes e Mariana Silva.


por Mário Lopes, in Público | 20 de setembro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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