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Há festa na Colina de Santana – e todos cabem nela

Histórias de mulheres, comidas do mundo, saunas e hospitais, teatro, música: o festival Todos regressa à Colina de Santana, em Lisboa.

Grupo Acrobático de Tânger - Richard Haughton Medo a Caminho, espetáculo de Rui Catalão - Alípio Padilha Pangeia de Tiago Cadete - Maria João Fortuna


Este é o terceiro – e último – ano em que o Festival Todos – Caminhada de Culturas se realiza na Colina de Santana. Desde que nasceu, em 2009, que o festival passa três edições num bairro de Lisboa, trabalha com a população residente, procura histórias, abre portas de espaços geralmente fechados, cruza culturas, reinventa identidades. No final, despede-se, “com muita pena” sublinha Madalena Victorino, uma das programadoras, e segue para um novo bairro.

Entre sexta-feira e domingo, a Colina de Santana está novamente em festa. Madalena Victorino (que trabalha na conceção artística juntamente com Giacomo Scalisi e Miguel Abreu, o diretor desta iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e da Academia de Produtores Culturais) explica ao PÚBLICO que o festival vai explorar mais profundamente relações iniciadas nos anos anteriores.

A programação divide-se por quatro grandes espaços: o antigo Hospital Miguel Bombarda, que tem lugares únicos, como o panótico/pavilhão de segurança; o Jardim do Campo Mártires da Pátria; a Rua Luciano Cordeiro; e um espaço que é, na realidade, um percurso pelo bairro a partir das Mulheres da Colina de Santana.

Como sempre, a multiculturalidade é um dos eixos fundamentais do Todos e, por isso, tanto no sábado como no domingo há, num espaço aberto do Miguel Bombarda, um espetáculo do Grupo Acrobático de Tânger, um “circo contemporâneo popular e democrático, cheio de humor e de proezas acrobáticas singulares”, que termina com um jantar marroquino. O panótico vai receber, por seu lado, duas peças de teatro “sobre África e o medo”: Medo a Caminho, de Rui Catalão e Fragmentos do Fim, de Margarida Cardeal e Klemente Tsamba.

Já a peça Bacantes, de Marlene Monteiro Freitas, vai procurar uma ligação com a coleção de máscaras de cera do Hospital do Desterro (que se encontram no dos Capuchos) feitas para mostrar as lesões que a sífilis provocava nos doentes.

Ali ao lado, o Jardim do Campo Santana abre-se às comidas do mundo, com Walima – Banquete no Jardim, resultado da colaboração entre o festival e associações que estão a trabalhar com os refugiados em Portugal. Diz Madalena Victorino que cozinheiros não-profissionais da Eritreia, Síria, Equador, Chile e México, Angola, Cabo Verde, Guiné, mas também China, Balcãs, Itália, Sri Lanka, vão transformar o local “num verdadeiro jardim de delícias” com um almoço/piquenique sábado e domingo, entre as 13h e as 15h. Além disso, haverá, entre as 15h e as 19h, uma “volta ao mundo num mini-snack”.

É ainda o jardim que vai receber o regresso da Orquestra Todos (que já não tocava em conjunto desde o final de 2013), dirigida pelos maestros italianos Mario Tronco e Pino Pecorelli e que tem como convidada Aline Frazão.

Na Rua Luciano Cordeiro haverá fotografia, com a exposição Os Lugares da Colina no Palácio Centeno, que acolherá também o espetáculo Pangeia, de Tiago Cadete, uma “viagem sonora e visual pelo universo dos Irmãos Grimm, em que o palco se transforma num museu imaginário com 200 objetos curiosos que falam ao público”.

A música vai entrar nas enfermarias do Hospital dos Capuchos com Hill’s Union, “para um público que não pode descer à rua”. E pelo menos um espetáculo exigirá indumentária especial: Rifar o Meu Coração, de Monica Calle, acontece na SaunApolo, no número 56A da Luciano Cordeiro, e “é obrigatório o uso de fato-de-banho e de chinelos” – estamos numa sauna, convém não esquecer.

Outro dos pontos altos da programação desta 9º edição do Todos é o percurso, guiado por Célia Pilão a partir do livro Mulheres da Colina de Santana, com Bárbara Assis Pacheco e Rosa Reis, por vários espaços ligados às histórias de mulheres, “rainhas e santas, escravas e políticas, beatas e prostitutas”.

O encontro é junto ao Hospital Dona Estefânia, “a rainha que deu as suas jóias para que pudesse haver um hospital dedicado às crianças” e à esquina com a Rua Jacinta Marto, “uma dos pastorinhas de Fátima, que morreu nesse hospital”, diz Madalena Victorino.

O passeio – domingo, às 17h, com duração de duas horas e meia – vai, entre outras surpresas, levar Lula Pena a cantar na Igreja da Pena (Nossa Senhora da Pena é a protetora das Artes, Ciências e Letras) e Selma Uamusse nas escadarias da Igreja da Bemposta, no Paço da Rainha, para depois seguir pelo bairro operário das mulheres que trabalhavam no matadouro que aqui existiu, até ao Hospital do Desterro e à “enfermaria das meretrizes”, onde eram internadas as prostitutas com sífilis, condenadas pela doença a morrer ou a enlouquecer.

A programação completa do Todos está no site festivaltodos.com. Alguns eventos exigem marcação prévia. 


por Alexandra Prado Coelho, in Público | 8 de setembro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público

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