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Feira do Livro do Porto homenageia Sophia e aposta em "geografias literárias"
Han Kang, Laurent Binet e Teju Cole são os autores estrangeiros convidados.
Pavilhões abrem hoje ao meio-dia. Amanhã, o dia é dedicado a Sophia de Mello Breyner, que vai dar nome a uma jovem tília do jardim do Palácio de Cristal.
Cruzar o património literário do Porto com a literatura nacional e internacional. É esse o objetivo da Feira do Livro do Porto que hoje abre ao público nos jardins do Palácio de Cristal. A escritora Sophia de Mello Breyner é a grande homenageada desta edição, a quarta organizada pela câmara, que se prolonga até 17 de setembro e conta com 130 expositores.
Ontem, ao final da manhã, decorriam os preparativos para a inauguração. Guilherme Blanc, adjunto do presidente Rui Moreira para a Cultura, percorreu a avenida das Tílias (a espinha dorsal da feira) com o DN. Entre carrinhas a descarregar caixotes de livros ou pequenos veículos da autarquia a dar retoques no espaço público, apresentou as novidades desta edição. "Temos a trabalhar connosco dois comissários, a Anabela Mota Ribeiro e o José Eduardo Agualusa, e a ideia foi conseguir trazer um conjunto de escritores relevantes no panorama internacional, premiados também. A Han Kang ganhou o Man Booker Prize, o Laurent Binet o Prémio Goncourt. O Teju Cole é também um escritor premiado, mais jovem, mas que é uma voz muito importante na literatura norte-americana, que pensa as questões africanas. Tentámos trazer um conjunto de escritores que cobrissem diferentes geografias literárias, isso para nós é importante. Uma autora que nos fala de um contexto social coreano, um autor europeu francófono e um autor norte-americano mas que também trata questões africanas."
Blanc salienta ainda a importância da literatura na cidade: "Evocamos vários autores muito importantes. Para além da escritora homenageada, Raul Brandão, Antó- nio Nobre ou Óscar Lopes. O património literário da cidade está presente e cruza-se com a literatura nacional e internacional, é esse o nosso objetivo", acentua.
O programa cultural da feira contempla debates, spoken word, exposições, cinema e programa educativo. Amanhã, o dia é dedicado a Sophia de Mello Breyner, com a atribuição do seu nome a uma tília (18.30), seguido de um debate sobre a vida e a obra da escritora com Ana Luísa Amaral e Frederico Lourenço, moderado por Miguel Sousa Tavares. "Acho que vai ser um grande momento da Feira do Livro", refere Blanc.
A Galeria Municipal recebe, a partir de hoje, a exposição Quatro Elementos, inspirada na obra de Sophia, amanhã inaugura O Anjo de Timor e Outras Histórias - Ilustrações para Sophia, com desenhos de Graça Morais e Júlio Resende.
O número de visitantes deverá superar o do ano passado, em que passaram 250 mil pessoas pela Feira do Livro do Porto. "Não estamos reféns por essa necessidade de superar números mas estamos convencidos de que sim, que este é um modelo que funciona, a cidade está cada vez mais próxima deste formato, do local escolhido, do programa cultural, por isso deverá aumentar", diz Guilherme Blanc, sem temer a concorrência dos aviões da Red Bull no primeiro fim de semana - "o Porto é uma cidade muito grande e com um público muito vasto. Há público para todo o tipo de iniciativas e podem conviver de uma forma muito saudável".
Na avenida das Tílias, os livreiros empenham-se em transformar caixotes em apelativas prateleiras ou bancas de livros. O alfarrabista Vítor Martinho, da Martinho Alfarrabista, de Lisboa, procura organizar o espaço. Faz "sempre" a Feira do Livro do Porto, desde o tempo dos Aliados. "Trago coisas muito boas, primeiras edições de diversos autores portugueses", preciosidades que ainda ficariam mais umas horas resguardadas nas caixas. Considera que "há muitos clientes que vêm à feira só por causa dos alfarrabistas" pelo que espera que a localização mais escondida que lhes calhou este ano, num largo paralelo à avenida principal, não passe despercebida - "deviam pôr umas setas a indicar os alfarrabistas", sugere. Hoje, espera um cliente antigo. "Vem cá um cliente meu, que já o era antes de ser Presidente da República. O Marcelo vem aqui de certeza absoluta", garante (o Presidente visita hoje a feira, às 17.00).
Numa zona mais central do recinto estão Cátia Monteiro e Arnaldo Vilapouca da Livraria Flâneur, do Porto. Uma localização "ótima" depois de no ano passado terem ficado numa ponta, "já depois da capela". "Trouxemos muita poesia, muito ensaio, alguns livros de arte e literatura no geral", diz Cátia. É a terceira vez que vêm: "Quando participámos a primeira vez ainda não tínhamos a livraria aberta. Era uma livraria itinerante", refere. Agora estão num processo similar, mas com destino certo: no final de setembro abrem a Flâneur na Rua Fernandes Costa. Na feira, reencontram clientes conhecidos e conhecem novos: "a feira é fundamental para a vida e a sobrevivência das livrarias", diz Cátia Monteiro.
por Marina Almeida, in Diário de Notícias | 1 de setembro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Diário de Notícias