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Adeus Jerry Lewis, cómico e crítico do imaginário americano
Ator, realizador, filantropo, é um nome central na história da comédia de Hollywood - Jerry Lewis faleceu aos 91 anos.
O mundo da comédia está triste: Jerry Lewis, figura emblemática da história do humor em Hollywood, muito popular sobretudo ao longo das décadas de 1950-60, morreu na manhã de ontem, em Las Vegas - segundo comunicado da família, "faleceu pacificamente de causas naturais, aos 91 anos, em sua casa, acompanhado pela família."
Nasceu em Newark, a 16 de março de 1926, com o nome de Joseph Levitch, filho de pais judeus de origem russa que, desde muito cedo, lhe inculcaram o gosto do espetáculo - o pai era ator de vaudeville, a mãe pianista numa estação de rádio. As primeiras experiências de representação foram mesmo na companhia dos pais, acabando por construir uma personagem burlesca, inicialmente enraizada num jogo de mímica sobre canções gravadas.
Na memória de muitos espectadores, a sua figura surge sempre associada a Dean Martin (1917-1995), com quem formou uma dupla de sucesso, ao longo de 17 filmes, de A Minha Amiga Irma (1949), de George Marshall, a Um Espada para Hollywood (1956), de Frank Tashlin. Foi Tashlin, justamente, reconhecendo o seu talento e versatilidade, que o impeliu a assumir-se como líder da sua própria criatividade. De tal modo que, em 1960, se estreava na realização com Jerry no Grande Hotel, primeiro título de uma série de comédias revolucionárias que marcaram a década de 1960 de Hollywood.
Filmes como O Homem das Mulheres (1961), brincando com os estereótipos das relações masculino/feminino, As Noites Loucas do Dr. Jerryll (1963), recriando a mitologia de O Médico e o Monstro, ou Jerry 8 3/4 (1964), desmontando os bastidores de Hollywood, são exemplos de uma visão crítica do imaginário made in USA e também de uma invulgar capacidade de inovação técnica - os ecrãs de vídeo para rever de imediato as cenas filmadas (hoje em dia correntes em qualquer produção cinematográfica) foram introduzidos por Jerry Lewis nas suas primeiras rodagens como realizador.
Junto do público americano, a sua popularidade manteve-se, em grande parte, através de uma importante atividade filantrópica, promovendo todos os anos uma maratona televisiva (telethon) de angariação de fundos para apoio a crianças com distrofia muscular (a 46.ª e última edição realizou-se em 2014).
De qualquer modo, a partir de meados dos anos 1970, a sua presença no cinema foi cada vez mais irregular. Martin Scorsese convidou-o a contracenar com Robert De Niro em O Rei da Comédia (1982), amarga visão do mundo do entertainmenttelevisivo que, além do mais, ilustra as qualidades dramáticas de Jerry Lewis. Assinou o seu derradeiro trabalho como realizador em Smorgasbord (1983), antologia ao mesmo tempo eufórica e desencantada dos seus temas e múltiplas personagens.
Figura absolutamente insubstituível na história da comédia cinematográfica, gostava de citar Charlie Chaplin e Stan Laurel (da dupla Bucha e Estica) como os seus mestres. Um dia, confessou que ao ver pela 40.ª vez Luzes da Ribalta (1952), de Chaplin, se sentiu "como um principiante".
por João Lopes, in Diário de Notícias | 21 de agosto de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias