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Trás-os-Montes a deslumbrar Locarno
O cinema português continua em alta em Locarno e está entre os favoritos.
Miguel Moraes Cabral. Mais um nome da nova geração de cineastas para fixar. O Festival de Locarno já o descobriu e selecionou a sua curta-metragem O Homem de Trás--os-Montes (passou na competição do IndieLisboa) para a secção Fora de Concurso. Uma curta de meia hora que nos conta a história de um cineasta apaixonado pela região do título. Ele e a sua equipa de filmagens vão tentar fazer um documentário através do Guia de Portugal. Um Portugal envolto em lendas e tradições.
O Homem de Trás-os-Montes revela uma segurança admirável e é capaz de convocar alegorias estimulantes. O cineasta já antes tinha filmado a mesma região, no documentário Os Caminhos de Jorge (2013). Agora, usa a ficção para de alguma forma dar prolongamento ao primeiro filme. Ao mesmo tempo, observa e brinca com alguns códigos do cinema português (há muita ironia no filme dentro do filme e na maneira como os jovens cineastas procuram a alquimia da nossa etnografia). Uma comédia também muito alavancada pela presença de Miguel Nunes, o Lobo Antunes de Cartas da Guerra, sem dúvida um dos rostos mais fiáveis do nosso cinema.
Se ontem foi o dia de Moraes Cabral, o começo do festival foi abalado por um filme português na secção Cineastas do Presente, o já "infame" Verão Danado, de Pedro Cabeleira, viagem radical aos temas de uma juventude atual. Uma primeira obra feita de gestos livres e com um tempo intoxicante de cinema. Um belo batismo internacional para um jovem de 25 anos que quis fazer uma longa-metragem logo após o curso da Escola de Cinema. Esta crónica alucinada com sexo, drogas e música eletrónica foi feita sem apoios e é das grandes descobertas do novíssimo cinema português. Nos corredores de Locarno, fala-se que é um dos favoritos ao palmarés.
Vencedores, para já, foram os homenageados. Locarno é um festival muito elitista e erudito mas adora galas de homenagem. Nastassja Kinski recebeu o Leopardo de Honra. O arranque de Locarno também prestou tributo ao ator Adrien Brody, que depois do Óscar há 15 anos por O Pianista, de Roman Polanski, parece amaldiçoado, e ao realizador americano Todd Haynes, autor de Veneno (1991) e de Wonderstruck, visto neste ano em Cannes. Desilusão foi seguramente 9 Dedos, de F.J. Ossang, filme francês com coprodução portuguesa, a cargo da Bando à Parte e com a participação do ator Diogo Dória. Uma aborrecida mistura de BD, noir e ficção científica com um look que clama por bafio. A terra de ninguém de Ossang está vazia, mesmo com a presença "fantástica" de Paul Hamy.
por Rui Pedro Tendinha em Locarno, in Diário de Notícias | 9 de agosto de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias