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A arquitetura de Ventura Terra em exposição em Lisboa
"Do util e do bello" é uma mostra documental patente até 21 de outubro no Torreão Poente, no Terreiro do Paço.
Esboços, plantas, alçados e fotografias de edifícios projetados por Miguel Ventura Terra (1866-1919) preenchem a exposição Do util e do bello, inaugurada esta quinta-feira no piso térreo do Torreão Poente, no Terreiro do Paço, em Lisboa, na véspera dos 151 anos de nascimento do arquiteto.
"Mostrar o arquiteto extraordinário e a pessoa fabulosa que foi Ventura Terra, revelando o homem nas suas várias facetas" é, segundo a arquiteta Hélia Correia, da Câmara Municipal de Lisboa e uma das comissárias da mostra, o principal objetivo da exposição.
Ocupando uma área de quase 400 metros quadrados, a mostra divide-se em cinco núcleos temáticos: Família e estudante, A prática da arquitetura, O vereador, Sociedade dos Arquitectos Portugueses e Comissão dos Monumentos Nacionais, culminando com uma projeção em vídeo dos cinco prédios em Lisboa considerados mais emblemáticos, entre os concebidos pelo arquiteto. São eles o Palácio das Cortes (atual Assembleia da República), a Sinagoga Shararé Tikvá, o Palacete Mendonça, o Liceu Camões e o Teatro Politeama.
A título de epílogo, a mostra, também comissariada pelas historiadoras Ana Isabel Ribeiro e Rita Megre, contempla ainda dois mapas, um de Lisboa e outro de Portugal, com a distribuição das obras do arquiteto – que nasceu em Seixas, Caminha, a 14 de julho de 1866, e morreu em Lisboa a 30 de abril de 1919, aos 53 anos.
Ao longo da exposição – integrada no programa que está a assinalar os 150 anos do seu nascimento –, os visitantes ouvirão as intervenções do arquiteto enquanto foi vereador da Câmara de Lisboa, entre 1908 e 1913, e, por um curto período, em 1917. "Consultámos as atas das intervenções de Ventura Terra na Câmara e optámos por transpô-las para a palavra falada, de modo a que quem vier ver a mostra perceba o homem excecional que mudou a cidade e que sempre defendeu que a prática da arquitetura devia estar não apenas de acordo com os costumes e hábitos, como também com a ciência moderna", referiu Hélia Correia.
Ventura Terra, arquiteto – Do util e do bello contempla ainda o lançamento de um documentário, a estrear provavelmente em outubro, no Cinema S. Jorge, em Lisboa, elaborado pela Videoteca, também da autarquia de Lisboa, com imagens recolhidas ao longo de um ano sobre "a pessoa extraordinária que foi este arquiteto", acrescentou a arquiteta à Lusa.
Do nascimento em Seixas, até à ida, com 15 anos, para o Porto, onde terminou o curso de Arquitetura Civil na Academia Portuense de Belas Artes (1884), ou à ida para Paris, em 1886, quando ficou em primeiro lugar no concurso de pensionista (bolseiro) do Estado da Classe de Arquitetura Civil, tudo é possível ver na exposição. À medida que se percorre o núcleo subordinado à prática da arquitetura, é possível ver várias fotografias de obras que projetou, entre as quais as que lhe valeram cinco Prémios Valmor, um dos quais uma menção honrosa.
Enquanto do lado direito do visitante estão afixadas as construções concebidas para Lisboa, do lado esquerdo é possível o confronto com obras que projetou para o resto do país, mostrando um homem que tanto podia trabalhar a gizar um palacete (como o Mendonça, Prémio Valmor em 1909), como num edifício para acolher a Associação Protetora da Primeira Infância ou o edifício de apoio balnear que projetou para Setúbal – entretanto já demolido e que foi o único de traça mourisca que concebeu.
O empenho cívico do arquiteto, republicano convicto, é outra das facetas do criador mostrada na exposição, e patente na importância como membro da Sociedade Portuguesa dos Arquitectos Portugueses – foi, em 1903, o primeiro presidente do Conselho Diretor desta entidade –, como enquanto elemento da Comissão dos Monumentos Nacionais, organismo em que permanece até morrer, em 1919, e no qual se bateu pela conclusão da Igreja de Santa Engrácia e sua transformação num panteão.
A Casa Ventura Terra (1903), o Palácio Valmor (1906), o Palacete Mendonça (1909), a Casa de António Thomaz Quartin (1911) e a Casa de Artur Prat (menção honrosa em 1913) perfazem a lista de prémios Valmor obtidos por Ventura Terra.
Organizada pelo pelouro da Cultura da autarquia de Lisboa, a exposição conta, entre outros apoios, com a colaboração da Associação Ventura Terra, que integra familiares do arquiteto. Esta associação detém, em regime de comodato e por 30 anos, a Casa de Férias que o arquiteto construiu em Seixas, e que a autarquia de Caminha adquiriu em 2002.
Ventura Terra, arquiteto – Do util e do bello vai ficar patente até 21 de outubro, e é visitável de terça-feira a sábado, das 11h00 às 16h00.
por Lusa in Jornal Público | 14 de julho de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público