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Mundo do fantástico de Paula Rego vai ao Centro Colombo
Um minimuseu com 59 obras da artista portuguesa instala-se até setembro na praça central do Centro Comercial Colombo, em Lisboa. Paula Rego quer mostrar-se a (ainda) mais pessoas.
"É uma fada que tem um lado muito masculinizado. [A pintura capta] aquele momento em que a fada azul promete ao Pinóquio, depois de ele ter feito muitos disparates, que se vai transformar num rapaz de carne e osso mas parece que há ali qualquer coisa de errado, o Pinóquio está hirto, com as mãos cerradas atrás das costas. Deve ter projetado todos os medos da infância." Catarina Alfaro poderia contar a história de cada uma das obras de Paula Rego. Esta, A Fada Azul conta um segredo ao Pinóquio (1995, papel sobre pastel montado em alumínio), é a imagem do cartaz da exposição que, a partir de hoje e até 27 de setembro, se instala no coração do Centro Comercial Colombo, em Lisboa.
É a primeira vez que a obra de Paula Rego é mostrada num espaço comercial. A exposição O Mundo Fantástico de Paula Rego acontece no âmbito da 7.ª edição do projeto A Arte chegou ao Colombo. Esta inusitada mostra de originais foi preparada pela curadora Catarina Alfaro, em diálogo com a artista. "Ela ao princípio ficou muito surpreendida. Depois pensou melhor e disse: "a minha obra vai ficar mais próxima das pessoas, vai chegar a pessoas que não vão aos museus e depois podem ir ver-me ao museu"", conta a curadora. "A Paula achou que um projeto como este aproxima as pessoas da arte, que é o que ela quer." Aliás, a sua obra procura "diluir as hierarquias entre arte contemporânea e popular" e "partilha de todas as manifestações do quotidiano", sem preconceitos, sustenta Catarina Alfaro, lembrando que o documentário de Nick Willing, filho da artista - Paula Rego. Histórias e Segredos - estreado em abril, trouxe Paula Rego para "muito próximo das pessoas".
As duas - artista e curadora - concordaram em que a exposição no centro comercial deveria ter uma folha de sala e comentários em todas as 59 obras, como no museu: "Tentei, sempre que possível, incluir os comentários dela." A exposição do Colombo, é feita quase integralmente com quadros da Casa das Histórias Paula Rego (situada em Cascais). Há duas obras provenientes de coleções particulares e uma delas é precisamente A Fada Azul conta um segredo ao Pinóquio.
E esta é uma obra que Paula Rego, artista portuguesa radicada em Londres, considera emblemática para as histórias que, a partir de hoje, se contam na Praça Central, num espaço expositivo da autoria dos arquitetos Diogo Aguiar e João Jesus - com todas as condições de iluminação, conservação e segurança, realça Catarina Alfaro. "Estas obras foram escolhidas com um critério. Tentei trazer para aquele espaço as que têm proximidade com temas ligados à fantasia com uma dimensão literária no presente", diz a curadora. As histórias vêm "de contos populares tradicionais e de contos de fada", refere apontando, por exemplo, a história do Príncipe Porco (conjunto de seis litografias, 2006) ou A Gata Branca (1994). Conta Catarina Alfaro que, em 1976, Paula Rego pediu uma bolsa à Gulbenkian que "lhe permitiu estudar todos os autores que trabalharam contos de fadas e tradicionais". Estas e outras obras são fruto dessas descobertas, com o olhar da artista.
Outro núcleo da exposição é constituído pela apropriação que Paula Rego fez do universo de Jane Eyre. "Faz agora 170 anos que Brontë publicou este romance que nos dá a dimensão do universo feminino na época vitoriana, com perspetivas muito diminutas", refere Alfaro. Paula Rego "dá uma dimensão muito forte a esta heroína, num conjunto de 25 gravuras". Finalmente, a curadora escolheu também obras relacionadas com cinema e teatro: "O cinema de Walt Disney era uma das inspirações mais fortes de Paula Rego por esse lado encantatório, de fantasia", refere. "A minha proposta [de exposição] foi vista e revista por ela", diz Catarina Alfaro.
Para a também coordenadora da Casa das Histórias Paula Rego, esta exposição foi um desafio. O facto de ser num espaço comercial, permite fazer uma pausa das compras num universo fantástico: "As pessoas gostam de interromper o seu dia com uma coisa mais sublime", refere. Tal como num museu, haverá visitas guiadas à exposição (hoje, às 11.00, com a curadora).
por Marina Almeida, in Diário de Notícias | 27 de junho de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias