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Fernão Mendes Pinto pela lente de João Botelho

Já filmou “Os Maias”, “O Livro do Desassossego” e Frei Luís de Sousa. Agora, João Botelho apresenta no grande ecrã, “A Peregrinação”, escrita por Fernão Mendes Pinto no século XVI. A Renascença acompanhou um dia de filmagens.

Ilustração: Miguel Lima

 

“Estou velho. E quanto mais velho estou, mais me interessa fazer filmes sobre obras que são importantes para o meu país”. João Botelho fala junto à nau quinhentista, em Vila do Conde. É o cenário de algumas gravações de “Peregrinação”, o novo filme do realizador, que adapta a obra de Fernão Mendes Pinto ao cinema.

Não é a primeira vez que Botelho se debruça sobre clássicos da literatura portuguesa. Já o fez com “Os Maias”, “O Livro de Desassossego”, “Frei Luís de Sousa”, entre outros. Desta vez, diz, interessou-se “pelo primeiro grande livro de viagens, o primeiro best-seller português, uma saga enorme sobre as aventuras dos portugueses no século XVI”.

O herói é Fernão Mendes Pinto, “um herói pícaro”, nas palavras de João Botelho, num filme que combina aventura, drama e até música.

Para o realizador é “uma espécie de introdução à “Peregrinação””. “Acho que as pessoas, quando virem este filme, vão ter vontade de ler” o livro, afirma em entrevista à Renascença.

Um Sancho Pança e um coro de marinheiros

Inspirado pela adaptação de Aquilino Ribeiro, João Botelho dividiu o filme em três partes. A primeira centra-se em Fernão Mendes Pinto, nas suas conquistas e perdas consecutivas. Na segunda surge o mal, personificado por António Faria, uma espécie de heterónimo malvado de Fernão Mendes Pinto, criado por Aquilino Ribeiro. A terceira parte retrata “a ideia da colonização perversa que os portugueses fizeram: numa mão a espada, na outra o Cristo”.

Botelho introduziu ainda um outro personagem, “uma espécie de Sancho Pança do Dom Quixote”. “É um tradutor malaio que sabe as línguas todas, mas que também critica algumas atitudes do Fernão Mendes Pinto”.

Há também um coro a cantar músicas do álbum “Por este rio acima”, de Fausto Bordalo Dias. “O texto de Fernão Mendes Pinto é musical e isso permite que, de vez em quando, numa batalha, se anuncie a batalha cantando, ou se interrompa a batalha cantando, contando o resto”, diz o realizador. A utilização da música é também uma forma de contornar a dificuldade de filmar algumas cenas de ação.

Paisagens filmadas no Oriente, ação em Portugal

As limitações de orçamento e de meios levaram à rodagem do filme em duas fases. A primeira decorreu no Verão passado, no Oriente (China, Macau, Japão, Índia, Malásia, Vietname e Indonésia). Uma equipa reduzida filmou as paisagens exteriores que servirão a muitas das cenas desta longa metragem.

Seguiram-se dois meses de rodagem em Portugal das cenas protagonizadas com os atores, não só portugueses, mas também chineses e turcos. As filmagens passaram por Sintra, Vila do Conde, Carrasqueira, Sesimbra, Tomar, Torres Novas, Almada e Lisboa.

O filme entra agora em fase de edição, com muitos efeitos especiais à mistura. “Utilizaremos o chroma key para permitir que os barcos construídos em estúdio tenham em fundo as maravilhosas paisagens descritas por Fernão Mendes Pinto”, diz o produtor Alexandre Oliveira, num comunicado de imprensa.

A “Peregrinação” deve chegar às salas portuguesas ainda este ano.


por Marília Freitas, in Rádio Renascença | 30 de maio de 2017

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

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