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ARCOlisboa mostra vitalidade da arte contemporânea na cidade
Com mais dez galerias do que na edição inaugural e uma nova secção dedicada a espaços com menos de três anos, a feira de arte contemporânea abre hoje portas ao público. Com o otimismo em pano de fundo.
Francisco Fino, Monitor e Maisterravalbuena. O que liga estas três galerias, uma portuguesa, uma italiana e uma espanhola? Abriram ou vão abrir portas esta semana na capital portuguesa e marcam presença na ARCOlisboa que entre hoje e domingo ocupa a Cordoaria, em Belém. E se a Galeria Francisco Fino é um novo projeto, que abriu portas na segunda-feira, já as duas outras são apostas de expansão a partir de Madrid e de Roma. O ambiente que se vive na cidade é a principal razão apontada para a escolha.
No caso da Maisterravalbuena, dirigida por Belén Valbuena e Pedro Maisterra, que destacam o espanhol Antonio Ballester Moreno no stand que este ano apresentam na segunda edição da ARCOlisboa, a decisão foi tomada em maio de 2016 quando participaram na edição inaugural. Foi aí que conheceram a cidade e ficaram com a certeza de que Lisboa seria o sítio indicado para a sua segunda sede. A pro- ximidade com Madrid facilitou o romper das fronteiras e na terça-feira inauguraram a galeria em Lisboa.
Já Paola Capata, da italiana Monitor, conta que a decisão de investirem numa galeria em Lisboa foi tomada em setembro depois terem vindo a Portugal para colaboraram com o Centro de Arte Quetzal, inaugurado nessa altura em Vila de Frades, no concelho da Vidigueira. "Estivemos quatro dias em Lisboa e adorámos a cidade. Já conhecíamos a Vera [Cortês] e o Pedro [Cera], conhecemos alguns colecionadores portugueses e o espírito que se vive... é uma cidade que está a crescer... Tudo junto levou-nos a dar este passo", diz. E, depois de hoje revelarem ao público as suas apostas para a feira, com o abstracionista italiano Claudio Verna em destaque, na sexta-feira apresentam uma instalação do artista inglês Graham Hudson concebida especificamente para a galeria que inauguram em Lisboa. Com quase 15 anos de atividade em Roma, Paola Capata explica que a galeria de Lisboa vai permitir fazer um pouco o que começaram por fazer na capital italiana: "Não vamos só pendurar quadros nas paredes. Queremos surpreender, experimentar coisas novas".
E na segunda-feira foi a vez de Francisco Fino abrir a galeria homónima, dando assim um espaço físico ao projeto que desenvolve desde 2012, altura em que regressou de Nova Iorque. Tris Vonna-Michell, um dos quatro finalistas do Turner Prize, e o croata David Maljkovic são dois dos artistas que apresenta na ARCOlisboa, inserido na nova secção Opening, para galerias com menos de dois anos de atividade. Nesta estreia, Francisco Fino confessa o seu otimismo: "Acho que a feira vai correr muito bem. Na edição de 2016 vendeu-se bem e a colecionadores nacionais. Isto é o melhor de dois mundos".
A nova secção
A Opening, que já existe na ARCOmadrid, é um modelo adotado nesta segunda edição da feira de Lisboa. "Há tantas novas galerias que estão a abrir em Lisboa que tínhamos de mostrar essa vitalidade na feira", destaca Carlos Urroz, diretor dos dois eventos. Recaiu sobre João Laia a responsabilidade de selecionar as oito galerias, quatro portuguesas e quatro estrangeiras. O curador, que se divide entre Lisboa e Londres, explica que "a sensibilidade da direção da ARCO para a emergência de uma série de novas galerias em Lisboa" esteve na génese da Opening. "Desde o início que eu queria ter uma representação forte dessa nova vaga. Mas, ao mesmo tempo, a ARCOlisboa é uma plataforma de internacionalização, daí o diálogo com outras galerias internacionais, também interessantes e também jovens". A escolha do que cada uma das oito galerias - BWA Warszawa (Polónia), Dürst Britt & Mayhew (Holanda), José García (México), Narrative Projects (Inglaterra), Francisco Fino, Madragoa, Hawaii-Lisbon e Pedro Alfacinha (Lisboa) - presentes na feira resulta de um trabalho entre o curador e os galeristas. "A ideia desta secção é ser diferente da outra, no sentido em que há um diálogo entre um curador e os galeristas e, tendo em conta a ausência de paredes a delimitar o espaço de cada uma, ao contrário do que acontece na secção principal, há uma contaminação óbvia. Para ter uma certa coerência entre as galerias, propus-lhes trabalharmos todos sobre a ideia do estranho, não como o novo, mas como o que não é expectável mas que na realidade acontece. Numa tentativa de relacionar com coisas que estão acontecer ultimamente e que achamos muito estranhas ou impossíveis e que na realidade acontecem (Brexit, Trump, etc.)."
Para além da arte contemporânea apresentada na esmagadora maioria das 58 galerias presentes na feira, há uma pequena presença de arte moderna. Aqui, destaque para a madrilena Leandro Navarro, que mostra trabalhos de Miró, Salvador Dalí, Le Corbusier e até Vieira da Silva. "Houve algumas melhorias do espaço, há um bom programa de colecionadores, por isso resolvemos voltar para atrair novos colecionadores portugueses e também porque esta é uma boa feira para estreitar relações com o Brasil e com França, existe aqui uma comunidade francesa muito forte", refere Iñigo Navarro. E também este galerista está otimista: "2016 foi interessante e este ano espero que seja ainda melhor".
Esta é uma opção que Carlos Urroz defende: "hoje em dia falta conhecer o passado para entender o presente e a arte contemporânea muitas vezes faz referência a artistas da arte moderna". Após uma rápida visita à feira, ainda com alguns stands a terminarem a montagem das obras de arte, o diretor destaca a cabeça vermelha do alemão Thomas Schütte - "seguramente uma peça que merece estar num museu internacional e que facilmente estará avaliada em mais de meio milhão de euros" - bem como as peças do português José Pedro Croft. "Mas também há muitas obras de artistas jovens, interessantes, que custam entre dois ou três mil euros, e que vale a pena descobrir. O importante não é procurar a mais cara. O importante é que cada um venha com olhos de ver, de descobrir a peça que mais lhe interessa", salienta.
por Marina Marques, in Diário de Notícias | 18 de maio de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias