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António Pinho Vargas estreia peça para seis órgãos de Mafra

A peça 3 Pontos no Espaço foi criada de propósito para os seis instrumentos da basílica. É apresentada hoje no concerto que assinala o Dia da Europa e será tocada por músicos oriundos de seis países europeus.

Pinho Vargas acompanhou o ensaio sentado no centro da estrela no chão da Basílica | Sara Matos/Global Imagens


3 Pontos no Espaço, como o compositor António Pinho Vargas a nomeou, foi composta de propósito para ser tocada pelos seis órgãos da basílica do Palácio Nacional de Mafra. A peça é ouvida pela primeira vez hoje, às 21.00, num concerto que assinala o Dia da Europa.

O compositor ouviu a peça ontem pela primeira vez no ensaio que reuniu os seis músicos. Conta ao DN que o fez exatamente onde queria. Sentado de pernas no centro da cruz que da basílica, gesticulando à medida que o som se espalhava pela igreja. João Vaz, diretor artístico dos órgãos históricos de Mafra e um dos músicos que hoje toca, assoma-se ao púlpito. "Vamos repetir? Toda a gente sabe o que está errado". O compositor concorda e os músicos retomam o ensaio da peça encomendada a Pinho Vargas pela câmara municipal de Mafra, assinalando o tricentenário do lançamento da primeira pedra do Palácio pelo rei D. João V.

O convite aconteceu em maio, para entregar até ao final do ano passado. "Vim assistir a um concerto", conta, referindo-se ao que aqui acontece todos os primeiros domingos de cada mês.

"É um sorte rara", afirma António Pinho Vargas sobre o convite para escrever esta peça. O conjunto de órgãos é único. Os seis foram construídos na mesma época, lembram João Vaz e o diretor do palácio, Mário Pereira. Entre 1807 e 1807, no reinado de D. João VI. Mais, acrescenta o compositor, a disposição também é única - dois à esquerda, dois no altar, dois à direita, isto é, 3 Pontos no Espaço. A composição só pode ser tocada nesta igreja, o que acabou por influenciar o músico na hora de aceitar o convite. "Tem um certo peso simbólico, de facto". 

 

O músico alemão Ludger Lohmann | Sara Matos/Global Imagens  

 

Mostra as anotações dos seis órgãos e o desenho que a música faz, subindo e descendo. "É uma viagem". Explica: "O espaço está no centro da composição e nem podia ser de outro modo, mesmo que eu não quisesse. Quando mostrei a partitura ao João Vaz esse foi, aliás, o comentário que fez. Vai resultar porque usa o espaço e essas são as que funcionam melhor na Basílica".

Esta noite, às 21.00, os órgãos São Pedro de Alcântara e Sacramento (à esquerda), Evangelho e Epístola (no altar) e Santa Bárbara e Conceição (à direita) são tocados seis músicos de seis países europeus: o português João Vaz, o austríaco Reinhard Jaud, o italiano Roberto Antonello, o espanhol Juan de la Rubia, o romeno Steffen Schlandt e o alemão Ludger Lohmann, que toca pela primeira vez em Mafra (e em Portugal). "É uma experiência e tanto". Instrumentistas do norte da Europa raramente são convidados para tocar em órgãos históricos da Península Ibérica, explica. Os sons são muito diferentes no norte da Europa, nota. Descreve-os estes como "solenes e mais profundos". "É a típica diferença entre catolicismo e o protestantismo do norte da Alemanha". "É um misterioso pano de fundo para a liturgia", diz, sobre os instrumentos do sul da Europa. Entre os protestantes, os órgãos acompanhavam pessoas a cantar, um caso raro entre católicos.

O concerto, organizado pela EUNIC (união de institutos de cultura europeus), está esgotado e a sua capacidade aumentou 200 lugares em relação aos concertos habituais. Hoje serão 900 pessoas. Cada músico toca uma peça a solo e quatro em conjunto. Além da peça composta por Pinho Vargas, foi escolhido outro tema para os seis órgãos, a sinfonia de António Leal Moreira, de 1807, o prelúdio Te Deum, de Marc-Antoine Charpentier (conhecido como hino da Eurovisão) e um arranjo do Hino da Europa (a partir da Nona Sinfonia de Beethoven).

3 Pontos no Espaço é o nome da peça, que alude à forma como os seis órgãos estão colocados na Basílica | Sara Matos/Global Imagens 


Festival de orgãos

Reabilitados em 2012, o programa de manutenção do conjunto prevê que sejam usados regularmente. Um deles semanalmente, todos juntos uma vez por mês. Em 2014, Mafra passou a integrar o ECHO - European Cities of Historical Organs, que se reúne anualmente. Este ano, à boleia do tricentenário, o encontro é em Mafra entre 24 e 28 de maio. A basílica volta a receber um concerto com músicos internacionais e também em igrejas do concelho onde existem órgãos históricos (Encarnação, Gradil, Livramento e Ericeira). A 25, às 18.00, é lançado o livro Os Órgãos históricos do Concelho de Mafra.

Concerto do Dia da Europa

Palácio Nacional de Mafra

Terreiro D. João V, em Mafra

Hoje, às 21.00

Entrada livre (esgotado)

Festival internacional de órgão - ECHO

De 24 a 28 de maio, na basílica do convento de Mafra, Ericeira, Encarnação, Livramento e Gradil

Entrada gratuita

O programa completo do concerto de hoje

1. MARC-ANTOINE CHARPENTIER (1643-1704)

Prelúdio (excerto do Te Deum)

(arranjo para 6 órgãos de João Vaz)

João Vaz, órgão do Evangelho

Roberto Antonello, órgão da Epístola

Ludger Lohmann, órgão de São Pedro de Alcântara

Steffen Schlandt, órgão do Sacramento

Juan de la Rubia, órgão da Conceição

Reinhard Jaud, orgão de Santa Bárbara

2. ANTONIO DE CABEZÓN (1510-1566)

Pavana con su glosa

Juan de la Rubia, órgão da Conceição

3. JOHANN SEBASTIAN BACH (1865-1750)

Prelúdio e fuga em Ré maior, BWV 850

Ludger Lohmann, órgão de São Pedro de Alcântara

4. ANTÓNIO LEAL MOREIRA (1758-1819)

Sinfonia para a Real Basílica de Mafra (1807)

João Vaz, órgão do Evangelho

Reinhard Jaud, órgão da Epístola

Ludger Lohmann, órgão de São Pedro de Alcântara

Steffen Schlandt, órgão do Sacramento

Juan de la Rubia, órgão da Conceição

Roberto Antonello, orgão de Santa Bárbara

5. MARTIN SCHNEIDER (1748-1812)

Sonata e fuga em Dó maior

Steffen Schlandt, órgão do Sacramento

6. JOHANN GEORG ALBRECHTSBERGER (1736-1809)

Fuga sobre Christus ist erstanden

Reinhard Jaud, orgão de Santa Bárbara

7. ANTÓNIO PINHO VARGAS (1951)

3 Pontos no Espaço

Ludger Lohmann, órgão do Evangelho

Juan de la Rubia, órgão da Epístola

João Vaz, órgão de São Pedro de Alcântara

Steffen Schlandt, órgão do Sacramento

Roberto Antonello, órgão da Conceição

Reinhard Jaud, orgão de Santa Bárbara

8. MARCOS PORTUGAL (1762-1830)

Sonata para órgão

João Vaz, órgão do Evangelho

9. NICCOLÒ MORETTI (1764-1821)

Concertino

Roberto Antonello, órgão da Epístola

10. LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

Hino à Alegria (excerto da Sinfonia nº 9, Op. 125)

(arranjo de Herbert von Karajan / adaptação para 6 órgãos de João Vaz)

Ludger Lohmann, órgão do Evangelho

Roberto Antonello, órgão da Epístola

Steffen Schlandt, órgão de São Pedro de Alcântara

João Vaz, órgão do Sacramento

Juan de la Rubia, órgão da Conceição

Reinhard Jaud, orgão de Santa Bárbara


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 9 de maio de 2017

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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