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Música clássica nas ruas ou no palácio. O Festival de Sintra começa hoje
O 52.º Festival de Sintra começa hoje e até dia 27, há 12 concertos e um fim de semana de música nas ruas.
É o mais antigo festival de música clássica que se realiza em Portugal. Começou em 1962, pela mão da marquesa de Cadaval (1900-96), essa personalidade que colocou Sintra no mapa da música a nível internacional, sobretudo no que ao piano concerne. Hoje sob a direção artística do pianista Adriano Jordão, que a conheceu bem, o Festival de Sintra reclama-se da tradição e da modernidade, com propostas que vão desde o formato mais clássico do recital de piano até ao jazz e a uma verdadeira festa da música por toda a vila de Sintra nas tardes dos dias 20 e 21.
O início, nesta noite (21.30), no Olga Cadaval, faz-se com uma homenagem: os 65 anos de carreira da pianista Olga Prats, no exato dia em que, em 1952, deu o seu primeiro recital público, no Teatro São Luiz. Hoje com 78 anos, Olga, que assim se chama por causa da marquesa (o pai trabalhou para os marqueses e Olga, a marquesa, foi sua madrinha de batismo), teve sempre uma relação muito próxima com a madrinha, patente em dois exemplos bem diferentes: a marquesa ajudou-a a comprar o seu hoje piano "de estimação" e acolheu na sua Quinta da Piedade (perto de Colares) o casamento da afilhada, em 1961.
É por isso tanto mais simbólico que o recital-festa de hoje se realize na sala que leva o nome da marquesa. E dizemos festa, pois haverá vários convidados especiais, como o compositor António Victorino d"Almeida, o pianista Artur Pizarro ou o contrabaixista Alejandro Erlich-Oliva (parceiro no Opus Ensemble), todos eles com relações firmadas há várias décadas com a homenageada. Olga Prats, além dos concertos que deu, teve um papel relevantíssimo na formação de jovens pianistas e no estímulo à criação de novas obras, para piano e para ensemble com piano, por parte dos compositores portugueses, a começar por Fernando Lopes- -Graça, do qual foi uma das intérpretes favoritas e que lhe dedicou a sua 5.ª Sonata.
Amanhã, à mesma hora, no mesmo espaço e com o mesmo instrumento, uma proposta bem diferente: o belga Wim Mertens está a fazer uma pequena digressão por Portugal (ver texto ao lado). Na bagagem traz Dust of Truths, parte do tríptico Cran aux Oeufs, uma "ficção musical" em que aborda as relações entre o canto, a poesia e a verdade e no qual questiona o lugar da cultura no tempo político e tecnológico em que vivemos.
Além do Olga Cadaval, também os palácios da Vila e de Queluz e a Quinta da Piedade (aqui, ao ar livre) receberão concertos nesta edição. Em Queluz, atuará o pianista de origem russa Vladimir Viardo (dia 12), também um dos grandes pedagogos da atualidade; e, num registo bem diferente, o lendário acordeonista Richard Galliano, com o seu trio (mais guitarra e contrabaixo). Será no dia 26.
O fim de semana anterior, entre os dias 19 e 21, é uma espécie de minifestival austríaco, com três propostas, todas elas aliciantes: primeiro, o Amarcord Wien, um quarteto de violino, violoncelo, contrabaixo e acordeão; depois, o pianista Gottlieb Wallisch e, por fim, o Quarteto Hugo Wolf, um dos mais reputados da atualidade, na sua segunda visita ao nosso país. Os ensembles tocam no Palácio da Vila de Sintra, o pianista na Quinta da Piedade.
É este o mesmo fim de semana em que toda a vila de Sintra se tornará um palco de fazer música, com os mais variados agrupamentos, desde duos até coros e bandas filarmónicas, todos eles oriundos do concelho, a tocarem ao ar livre. Estarão distribuídos por sete diferentes espaços, com destaque para a Volta do Duche e o Terreiro Rainha D. Amélia. Mas também haverá "música em movimento", entre a estação CP e a vila. Uma espécie de presente do festival a todos os habitantes da vila, do concelho e aos seus visitantes.
Ainda ao ar livre se fará o concerto de encerramento do festival (noite de dia 27), no largo fronteiro a Queluz, com a Banda Sinfónica do Exército e o Coro Lisboa Cantat, mais três solistas vocais, dirigidos por Artur Duarte Cardoso, num programa de trechos populares do repertório sinfónico e operático.As restantes propostas fazem-se sempre com o piano: recitais pela brasileira Lígia Moreno (dia 7), pela usbeque Anna Malikova (dia 13) e pela germano-russa Kristina Miller-Koeckert (um valor emergente), no dia 14; e um concerto com piano, sim, mas também com as orquestras escolares de Sintra: será na noite de dia 13, no Olga Cadaval. Os jovens instrumentistas terão a ilustre companhia de Mário Laginha e, juntos, abordarão um repertório baseado nas harmonizações de canções populares resultantes dos trabalhos de campo efetuados nos anos 40 e 50 por Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça.
por Bernardo Mariano, in Diário de Notícias | 5 de maio de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias