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"Cartas de Guerra" dominou Prémios Sophia
O filme "Cartas da Guerra", de Ivo Ferreira, dominou os Prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, ao arrecadar nove das 21 estatuetas entregues, entre as quais as de Melhor Filme e Melhor Realização.
"Cartas da Guerra" foi distinguido igualmente com os prémios de Melhor Argumento Adaptado, escrito pelo realizador com Edgar Medina, Melhor Montagem (Sandro Aguilar) e Melhor Fotografia (João Ribeiro), entre outras categorias técnicas.
Os prémios foram entregues no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, numa cerimónia que teve início na noite de quarta-feira.
Construído a partir da correspondência entre o escritor António Lobo Antunes e a primeira mulher, Maria José, quando esteve destacado em Angola, durante a Guerra Colonial, "Cartas da Guerra" deixa um retrato sobre "a maior tragédia portuguesa do século XX", como o realizador disse à Lusa, quando a longa-metragem teve estreia em sala, em setembro do ano passado.
Ao receber o Prémio de Melhor Filme, o produtor, Luís Urbano, de O Som e a Fúria, dedicou-o ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), "apesar de não gostar muito da direção que está lá", por considerar que é um instrumento "essencial para fomentar esta atividade", para prosseguir "uma política pública, que tem de existir" e "que tem de apoiar a diversidade no cinema", com base em "concursos públicos" e "júris independentes, nomeados pelo próprio instituto do cinema, e não por qualquer arena de interesses".
Pouco antes, o realizador Luís Filipe Rocha, distinguido com o prémio Sophia de Melhor Argumento Original, por "Cinzento e Negro", criticara os sistemas de júri para a atribuição de financiamentos ao cinema português, e apelara a uma reforma total dos mecanismos de apoio do ICA.
Sem esquecer a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na plateia, o realizador de "Cinzento e negro" desejou "um futuro melhor e mais solidário para o cinema português".
"Cinzento e Negro" reunia 14 nomeações, e conquistou três prémios Sophia (Melhor Ator, Melhor Banda Sonora e Melhor Argumento Original). "Cartas da Guerra" somava 11 nomeações.
Miguel Borges recebeu o prémio de Melhor Ator Principal, pelo desempenho em "Cinzento e Negro", e Ana Padrão, o de Melhor Atriz Principal, pelo trabalho em "Jogo de Damas", de Patrícia Sequeira.
O prémio de Melhor Banda Sonora Original foi para Mário Laginha, pela composição para "Cinzento e Negro".
O prémio de Melhor Curta-Metragem de Ficção para para Simão Cayatte, por "Menina", e "Balada de um Batráquio", de Leonor Teles, que abriu a lista de galardões com o Urso de Ouro de Berlim, em 2016, recebeu o Sophia de Melhor Documentário em Curta-Metragem.
A memória da Guerra Colonial passa igualmente por "Estilhaços", de José Miguel Ribeiro, que hoje juntou o Prémio de Melhor Curta-Metragem de Animação, ao seu rol de distinções.
"Mudar de Vida", de Nuno Guerreiro e Pedro Fidalgo, sobre o músico José Mário Branco, recebeu o prémio de Melhor Documentário em Longa-metragem.
Estreado no festival IndieLisboa, em 2014, "Mudar de Vida" chegou às salas de cinema em maio do ano passado. Ficou em cartaz mais de dois meses e acabou por se situar entre os dez filmes portugueses mais vistos em sala, em 2016.
A obra resulta de 12 anos de trabalho e não teve outros apoios financeiros se não os angariados junto de particulares: "Mais de 200", sobretudo através de 'crowdfunding', porque, "quando todas as políticas falham", viramo-nos para as pessoas, disse esta noite o realizador Nuno Guerreiro.
A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu ainda o ator Ruy de Carvalho com o Prémio Mérito e Excelência, assinalando os seus 90 anos de vida e 75 de carreira.
Os prémios Sophia Carreira, destinados à atriz Adelaide João e ao diretor de fotografia Elso Roque, serão entregues pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, num almoço a realizar no palácio da Cidadela, em Cascais, na próxima segunda-feira.
in Diário de Notícias | 23 de março de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias