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MAAT reabre com exposição-manifesto: arte, arquitetura e tecnologia em conversa

Utopia/ Distopia "é um manifesto do que o MAAT quer ser", diz o seu diretor, Pedro Gadanho sobre a exposição do novo edifício. Na Central, mais uma exposição de obras da coleção da Fundação EDP.

Utopia/Distopia abre esta quarta-feira ao público | Carlos Manuel Martins/Global Imagens

 

"Exposição-manifesto". É assim que o diretor do MAAT se refere à exposição Utopia/Distopia, que hoje abre ao público. "É um manifesto daquilo que quer ser em termos de interseção entre arte, arquitetura e tecnologia. É uma exposição que tem artistas e arquitetos em diálogo exatamente ao mesmo nível intelectual, apresentados ambos como produtores culturais, que dão contributos importantes para a reflexão e para os momentos em que vivemos."

Na galeria principal, Pedro Gadanho e os outros co-curadores da exposição, João Laia e Susana Ventura começaram a seleção nos anos 70, mas puseram de lado a ordem cronológica e fixaram temas, começando na evocação de Thomas Moore e da sua Utopia, que faz este ano 500 anos.

"A Utopia/Distopia fala da ambiguidade socio-económica e política que se está a viver, que talvez se esteja a mudar do paradigma iluminista e do progresso e a entrar num mundo de maior incerteza, apesar de pelo lado das tecnologias e da social media poder oferecer um futuro brilhante", considera Pedro Gadanho.

Fala-se das cidades ideais, como as pensaram o arquiteto italiano Aldo Rossi e o francês Yona Friedman, representados na exposição, mas também das ruínas da modernidade, visões tecnológicas e da situação atual, como a vê, por exemplo, o alemão Nasan Tur (Berlim, 1974) na sua peça de néon, em que se leem as palavras "comumism, capihatalism, sociallism", erros premeditados que servem para falar "da imperfeição de todos os sistemas sujeitos à falha humana".

Os artistas representados vêm de latitudes variadas - europeus baseados na China, chineses nigerianos, espanhóis, e portugueses. Pedro Gadanho dá os números. São 52 artistas, cerca de 70 obras, quase 10% de encomendas e quase 10% de representação portuguesa (Miguel Palma, Pedro Barateiro, Filipe Alves, Ângela Ferreira, Pedro Bandeira...).

Ocupar o MAAT

"Estamos finalmente a ocupar integralmente o edifício", anuncia Pedro Gadanho, antes da visita guiada pela exposição. A galeria principal, a sala de vídeo e de projeto até aqui (quase) vazias foram transformadas "para acomodar projeções de filmes, ter novas paredes de display".

Será a única vez, em três anos, que estes três espaços serão usados para uma única exposição, diz. Em setembro, o Project Room será usado na função para a qual foi pensado com uma encomenda a uma artista portuguesa.

Para a abertura destas exposições, cinco meses após a inauguração oficial, houve obras na fachada do edifício, nas escadas e no passeio. Continuam as obras no jardim do campus da Fundação EDP, mas já há troncos de árvore a servir de bancos e uma instalação de Ângela Ferreira.

Voltar à coleção da Fundação EDP

No edifício da Central, também abre hoje nova exposição. "O que Eu Sou". O denominador comum das obras, cerca de 40, de 30 artistas, é a perspetiva biográfica. "A partir da vida dos artistas, descortinar histórias que algumas peças poderiam contar, não num gesto voyeurista de saber mais sobre a vida dos artistas mas à procura de obras em que o percurso biográfico e artístico se cruzam", contextualiza Inês Grosso, lembrando as vanguardas dos anos 60 e a dimensão autorreferencial desses trabalhos, que ganha vida nessa parede com 10 autorretratos, "um salão parisiense, meio desarrumado", como a descreve a curadora da EDP, que começa em Helena Almeida e termina em Manuel João Vieira: pernas de mesa de ferro, corpo de jukebox, cabeça e pássaro numa caixa de vidro e cartola.

Para esta exposição, o MAAT convidou Luiza Teixeira de Freitas, que, habitualmente, trabalha coleções privadas, para ser co-curadora e que aqui assumi também a escolha de algumas das obras que foram adquiridas. "A minha responsabilidade era: o que eu escolher vai fazer parte da coleção", admite a co-curadora.

Uma das novas aquisições é Downhill, um elogio da cultura skate, feito por quem faz parte do grupo, o artista Miguel Faro (Viseu, 1978): um vídeo capta as quedas, outro a descida desde o parque Eduardo VII até (quase) ao Rossio, numa sequência de 10 minutos, filmada com uma Sony VX 1000 e uma lente MK1. "Existe, dentro do skate, uma cultura em torno desta câmara e desta lente, a que chamam dead lens", conta o artista. "O uso da câmara não é apenas estético, é ético", frisa, em conversa com os jornalistas, ontem. É também uma maneira de dizer que estão contra "a apropriação comercial do skate, que vai aos jogos olímpicos como desporto", explica o artista, vencedor do prémio DocLisboa em 2016 com este trabalho.

A instalação sonora Do What you Have to Do, de Luísa Cunha (Lisboa, 1949), também foi adquirida agora. Foi feita para o hall central "daquele edifício imponente, do Estado Novo" que é o Instituto Superior Técnico, em 1994. O que se ouve é, segundo Luísa, "o eco desse hall, o eco do Estado Novo". "Um texto viciante que controla o ouvinte, uma ladainha subtil de alguém que permite uma grande liberdade e depois vai travando essa liberdade", resume. "A exposição [20 mil minutos de arte] foi organizada pela Joana Vasconcelos. A Joana Vasconcelos de 1994, com as suas grandes capacidades latentes, de máquina produtiva e organizacional, mas mais jovem, mais ligada a coisas periféricas e espaços alternativos. Trabalhou com outro artista, Pedro Gomes".

Obras dos artistas São Trindade, Sara Bichão, Joana Escoval, Luísa Cunha, e Horácio Frutuoso e Tomás Colaço, convidados a criar para o local, e o tal autorretrato de Manuel João Vieira foram adquiridas para esta exposição, juntando-se aos cerca de 250 artistas da coleção de arte portuguesa da Fundação EDP, que começa nos anos 60 do século XX, e a que somaram, em 2015, 388 obras de 74 artistas da coleção Pedro Cabrita Reis.

Mais informações:

MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Belém. Aberto de quarta a segunda-feira, das 12.00 às 20.00.

Edifício MAAT: "Utopia/Distopia", até 24 de agosto; "Ordem e Progresso", até 24 de abril

Edifício Central: "O que Eu Sou", até 29 de maio

Bilhetes: MAAT ou Central, 5 euros; MAAT+Central, 9 euros; cartão de membro (acesso ilimitado às exposições), 20 euros. Entrada gratuita até aos 18 anos.


por Lina Santos in Diário de Notícias | 22 de março de 2017

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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