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Prémios SPA: António Lobo Antunes recebe Prémio Vida e Obra
Os atores Nuno Lopes e João Perry foram escolhidos pelo júri, assim como os escritores Maria Teresa Horta e José Rentes de Carvalho. Veja a lista completa dos premiados.
O escritor António Lobo Antunes considerou ontem "estranho" ter recebido o Prémio Autores Vida e Obra, da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), "por não saber onde começa uma e acaba outra".
"Isto para mim é estranho", disse o escritor, no fecho da Gala da SPA, que se realizou ontem à noite no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, acrescentando que o nome do prémio lhe faz uma "imensa confusão". "Não sei onde a vida começa e a obra acaba, porque desde que me conheço que escrevo", afirmou, sublinhando que quando começou a escrever, aos quatro anos, já fazia romances "de duas páginas".
O autor de Os Cus de Judas e Explicação dos Pássaros agradeceu depois o prémio, que lhe foi entregue pelo presidente da SPA José Jorge Letria, agradeceu igualmente a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que cumprimentou o escritor em palco, assim como daquele a quem chamou "grande poeta", o ministro da Cultura, amigo "há mais de 40 anos", Luís Filipe Castro Mendes.
António Lobo Antunes recordou depois a família - o pai, a mãe, os irmãos -, sublinhando tratar-se de um meio onde "não se criticava, não se falava nada de pessoal" nem "se elogiava". Lembrou, a propósito, que, ao contrário dos amigos da escola, nunca recebeu nenhum prémio da família, quando tinha boas notas. Nem mesmo quando teve um "Muito Bom" num teste, nota que disse ser mais característico dos irmãos. "Na altura perguntei ao meu pai se não tinha direito a um presente e ele respondeu-me: 'Só quanto receberes um bestial'", recordou.
O autor de "Memória de elefante" lembrou ainda ter entrado para o curso de Medicina com 16 anos, sem que antes tivesse visto alguma mulher numa ou um cadáver. Disse ter estado três anos no primeiro ano, sem fazer exames do curso de Medicina, por se ter recusado a "decorar os 5,400 quilogramas" que pesavam os manuais de Anatomia. Mas a escrita esteve sempre presente: mesmo durante as férias do curso, aproveitava o tempo para escrever, em vez de ir para a praia, afirmou.
No final da sua intervenção, António Lobo Antunes disse que tinha de acenar para um homem com quem se cruza no mesmo restaurante, onde almoça todos os dias, um homem que está doente com um cancro. Assim fez. Acenou com a mão direita, como lhe prometera que faria, quando estivesse na televisão, e exortou-o a "vencer essa puta, que é o que o cancro é".
Quando abandonava o palco do Centro Cultural de Belém, no fecho da Gala da SPA, António Lobo Antunes foi abraçado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que fez questão de cumprimentar o escritor.
Os premiados
No teatro, Joana Brandão e João Perry venceram o prémio Autores 2017 de Melhor Atriz e Melhor Ator, respetivamente, atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), entregues na cerimónia que decorreu ontem à noite no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
Na categoria de Melhor Trabalho Cenográfico, o prémio foi atribuído a A tempestade, de Fernando Alvarez, sobre o texto de Shakespeare. O prémio de Melhor Espetáculo foi para Moçambique, de Jorge Andrade, enquanto o prémio de Melhor Texto Português Representado foi para Se eu vivesse tu morrias, de Miguel Castro Caldas.
O prémio Autores 2017 de Melhor Tema de Música Popular foi atribuído a Amanhã 'tou' melhor, dos Capitão Fausto. Na categoria de Melhor Trabalho de Música Erudita, o prémio foi para Magnificat em talha dourada, de Eurico Carrapatoso, e, de Melhor Disco, para Menina, de Cristina Branco.
Na Literatura, Anunciações, de Maria Teresa Horta, venceu o prémio de Melhor Livro de Poesia, enquanto na categoria de Melhor Livro de Ficção Narrativa, o prémio foi para O Meças, de José Rentes de Carvalho.
O prémio Autores de Melhor Livro Infanto-Juvenil foi para De umas coisas nascem outras, de João Pedro Mésseder, com ilustrações de Rachel Caiano.
Na área das Artes Visuais, Os meus Álbuns de Família um a um, de Lourdes de Castro, recebeu o prémio de Melhor Exposição de Artes Plásticas.
O fotojornalista Alfredo Cunha foi distinguido na categoria de Melhor Trabalho de Fotografia, pela série O tempo depois do tempo, título da retrospetiva que se encontra patente na Cordoaria Nacional.
O vencedor na categoria Melhor Programa de Rádio foi "Governo Sombra", da TSF.
Na Televisão, o prémio de Melhor Programa de Informação foi atribuído a Renegados, reportagem da jornalista Sofia Pinto Coelho, da SIC, sobre pessoas nascidas em Portugal, a quem foi negada ou retirada a cidadania, por causa da aplicação da lei da nacionalidade, que entrou em vigor em 1981.
O prémio de Melhor Programa de Ficção foi para Terapia, da RTP1, e o de Melhor Programa de Entretenimento para Literatura aqui, concebido por Teresa Paixão, para a RTP2.
Quanto ao Cinema, o filme Cinzento e Negro, de Luís Filipe Rocha, venceu os prémios Autores 2017 de Melhor Filme e Melhor Argumento, da Sociedade Portuguesa de Autores, e permitiu ainda a distinção de Joana Bárcia, como Melhor Atriz.
O prémio de Melhor Ator, no cinema, foi para Nuno Lopes, pelo desempenho em Posto Avançado de Progresso, de Hugo Vieira da Silva.
Na Dança, o prémio de Melhor Coreografia foi para Jaguar, de Marlene Monteiro Freitas (com Andreas Merk), uma coprodução que envolveu o festival Alkantara, os teatros Maria Matos, em Lisboa, Rivoli, no Porto, O Espaço do Tempo, em Montemor-o-novo, e várias instituições como Les Spectacles Vivants do Centre Pompidou, em Paris.
Na cerimónia foram ainda homenageados os escritores Natália Correia, David Mourão-Ferreira e Vitorino Nemésio, os atores João Villaret e Raul Solnado, e o músico José Afonso, através da atuação de Júlio Pereira.
O músico Tozé Brito, que comemora 50 anos de carreira, os cantores Paulo de Carvalho, Mariza e Joana Amendoeira, o ator Virgílio Castelo foram outros participantes na gala, que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes.
O Prémio Autores 2017 de Melhor Programação Cultural Autárquica foi para a Câmara Municipal de Penafiel, que anualmente promove o festival Escritaria.
por Lusa in Diário de Notícias | 16 de março de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias