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Presidente condecora os 90 anos do "irrepetível" Ruy de Carvalho

O ator foi ontem agraciado no Palácio de Belém com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito pelo seu aniversário e pelos seus 75 anos de carreira

António Pedro Santos/Lusa


"90 anos são 90 anos e 75 anos de palco são 75, mas estes", acrescentaria Marcelo Rebelo de Sousa, são "especiais". São os de Ruy de Carvalho e "foram vividos a dar felicidade a todos nós, no teatro, no cinema, na televisão, na vida", continuava ontem o presidente da República, no dia de aniversário do ator, escolhido para lhe ser atribuída a Grã-Cruz da Ordem de Mérito.

Ruy de Carvalho fora o primeiro a entrar na Sala dos Embaixadores, no Palácio de Belém.

Solene, avançou em silêncio e ficou parado, quase indiferente às dezenas de disparos de máquinas fotográficas à sua frente. Apareceria depois Marcelo. "Sobretudo, o que o torna irrepetível é a bondade, a preocupação de encontrar no fundo da angústia mais profunda uma luz de esperança. Ao fim e ao cabo, de tornar o nosso Portugal melhor, e por isso vai receber um sinal mais do apreço de todos os portugueses", disse o Presidente antes de lhe atribuir aquele que é o quinto "sinal de apreço" do Estado português.

O ator, que se estreou no palco em 1942, numa peça encenada pelo mestre Ribeirinho, O Jogo para o Natal de Cristo, recebeu a Comenda e o Grande Colar da Ordem Militar de Sant"Iago da Espada em 1998 e em 2010, o grau de comendador da Ordem do Infante em 1993, e a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique em 2012. Quando recebeu a última, dedicou-a aos portugueses, que viviam uma época "muito difícil", de crise económica.

Ruy de Carvalho foi acompanhado ontem por um dos seus três netos, João Ricardo. "É geólogo", diria a Marcelo. Outro dos netos, Henrique, bem como o filho João, ambos atores, estariam a seu lado na festa de homenagem que decorreria na mesma noite no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril, onde atuariam Rui Veloso, Dulce Pontes ou Luís Represas. "Hoje tem de poupar, vai ter uma longa noite", dir-lhe-ia o Presidente antes de os dois saírem para uma conversa à porta fechada.

"Coragem, rapazes"

Em conversa com os jornalistas, de cada vez que não percebia bem uma pergunta, Ruy de Carvalho afastava-se do microfone e aproximava-se de quem a lançara, segurando-lhe as duas mãos. "Eu estou muito emocionado", justificaria. E "muito feliz", afirmaria ainda. "Acho que chorei. Não é feio um homem chorar, pois não?" De Marcelo Rebelo de Sousa, o ator que acabou o Conservatório com média de 18,75 valores - e quando fez o exame final estava "muito aflito", doente, contou ao DN em 2013 -, disse que é "uma pessoa que conheci quando era um rapazinho novo, em Moçambique". Quanto à condecoração que este lhe atribuiu, vê-a como "prova de que tenho sido útil ao país". Fora essa, a oficial, todos os dias recebe várias na rua: "pessoas que me dão beijos, que me pedem para não morrer..." Pediram-lhe que deixasse uma mensagem aos atores e Ruy de Carvalho, que considera que "a cultura portuguesa está um bocadinho abandonada", lançaria uma: "Coragem, rapazes!" Trabalhar? "Trabalharei sempre que me chamarem."

As homenagens não acabam aqui. A Academia Portuguesa de Cinema vai atribuir-lhe o Prémio Mérito e Excelência, na cerimónia de entrega dos Prémios Sophia do cinema português, a 22 de março. Ao percorrermos a carreira do ator, atravessamos grande parte da história da cultura portuguesa das últimas décadas. Ruy de Carvalho subiu ao palco do Teatro D. Maria II pela primeira vez em 1947, na companhia Rey-Colaço/Robles Monteiro. Estreou-se no grande ecrã em Eram 200 Irmãos (1951), de Armando Vieira Pinto. Entrou na primeira peça exibida na televisão portuguesa, Monólogo do Vaqueiro, de Gil Vicente, e na primeira telenovela, Vila Faia, em 1982.

Quando deixou o Palácio de Belém, o ator despedia-se: "E agora vou de faixa."


por Mariana Pereira, in Diário de Notícias | 2 de março de 2017

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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