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Óscares 2017 :: Depois de um erro gigante, o prémio de melhor filme foi afinal para "Moonlight"
"La La land" chegou como o grande favorito mas acabou por perder para "Moonlight" numa reviravolta que parece saída de um filme.
La La Land foi o melhor filme do ano para a Academia de Hollywood, mas apenas por breves momentos. Afinal Warren Beatty tinha cometido um erro e o Óscar era para Moonlight. Quando os produtores agradeciam o prémio, tudo mudou. "Houve um erro".
Foi uma reviravolta digna de um filme, aquela que deu o Óscar e a consagração ao filme de Barry Jenkins, que chegou ao último prémio apenas com Óscares para Melhor Ator Secundário (Mahershala Ali) e para melhor Argumento Adaptado. O grande favorito, que tinha chegado à cerimónia com 14 nomeações era mesmo La La Land e portanto não houve surpresa quando o apresentador, Warren Beatty, abriu o envelope. O ator ficou ficou mudo e foi Faye Dunaway quem leu o nome do filme.
Surpresa houve momentos depois quando um dos produtores, Jordon Horowitz, disse que o prémio era para Moonlight. Como toda a gente parecia convencida de que estava apenas a dedicar a vitória, Horowitz teve mesmo de mostrar o cartão. "Não é uma piada", disse Jordan Horowitz. E só depois a equipa do drama passado em Miami subiu ao palco.
Jimmy Kimmel, anfitrião da cerimónia, trouxe o humor para o momento. "Pessoalmente, culpo Steve Harvey", disse o humorista, numa referência ao que se passou numa edição passada do concurso Miss Universo, quando o nome errado também foi anunciado.
Mas foi o ator Warren Beatty que se responsabilizou pela situação, dizendo que tinha o cartão errado. Quando abriu dizia Emma Stone, "La La Land", daí a sua hesitação. "Não estava a tentar ser engraçado", disse.
Na sala de imprensa, Emma Stone falou aos jornalistas: "Eu estava com o meu cartão de 'melhor atriz' o tempo todo, então não sei o que aconteceu". Nas suas declarações, Stone pôs em palavras o que muitos pensavam nesse momento. "É o momento mais louco de sempre dos Óscares, não é?". "Fizemos história aqui".
Barry Jenkins, realizador de Moonlight, também já falou o que se passou. "Os últimos 20 minutos da minha vida foram uma loucura", disse, agradecendo aos produtores de La La Land. "Foi tão generoso e gracioso da parte deles. O meu amor para La La Land". O afinal vencedor diz que a Academia ainda não lhe explicou o que aconteceu. "Tornou um sentimento especial ainda mais especial mas não como eu tinha esperado".
Nos EUA, o caso, já batizado de envelopegate, está a ser esmiuçado pela imprensa. A televisão ABC, que há 52 anos transmite a cerimónia dos Óscares, mostrou imagens em que se lê "best leading actress" no envelope, deixando perceber que Warren Beatty tinha a informação errada.
Confirmou-se, porém, o que já se havia escrito antes das cerimónia: a noite ia ser de La La Land, ganhasse ou perdesse. O filme terminou com seis estatuetas. Entre elas está a de melhor realizador para Damien Chazelle, que, aos 32 anos, é o mais jovem vencedor desta categoria.
O realizador já tinha estado na cerimónia anteriormente - nomeado pela direção de Whiplash e o seu argumento.
A lista completa dos vencedores:
Melhor filme: Moonlight
Melhor Ator: casey Affleck, Manchester by the Sea
Melhor Atriz: Emma Stone, La La Land
Melhor Ator Secundário: Mahershala Ali, Moonlight
Melhor Atriz Secundária: Viola Davis, Vedações
Melhor filme de animação: Zootropolis
Melhor fotografia: La La Land
Melhor guarda-roupa: Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los
Melhor realização: Damien Chazelle, La La Land
Melhor Documentário: O.J.: Made in America
Melhor curta-metragem documentário: Os Capacetes Brancos
Melhor Montagem: O Herói de Hacksaw Ridge
Melhor Filme de Língua Estrangeira: O Vendedor, de Asghar Farhadi
Melhor Caracterização: Esquadrão Suicida
Melhor Banda Sonora: La La Land
Melhor canção original: City of Stars, La La Land
Melhor Direção Artística: La La Land
Melhor curta-metragem de animação: Piper
Melhor curta-metragem: Sing
Melhor Montagem de Som: Arrival - O Primeiro Encontro
Melhor sonoplastia: O Herói de Hacksaw Ridge
Melhores Efeitos Especiais: O Livro da Selva
Melhor argumento adaptado: Moonlight
Melhor argumento: Manchester by the Sea
Seis óscares para La La Land, três para Moonlight, dois para O Herói de Hacksaw Ridge e dois para Manchester by the Sea. Estes são os filmes mais premiados.
Foi também uma noite de coincidências: Kenneth Lonergan recebeu Óscar de melhor argumento original para Manchester by the Sea das mãos de Ben Affleck e Matt Damon. O primeiro é irmão do protagonista do filme, Casey Affleck, o segundo é produtor do filme.
Quebrou-se também um 'feitiço': Kevin O'Connell conseguiu ganhar o prémio de melhor sonoplastia pelo filme O Herói de Hacksaw Ridge. Foi a sua 20ª nomeação.
Uma noite política
Como se previa, foi uma noite carregada de referências políticas às políticas de proibição de Donald Trump, com muitos elogios ao mundo diverso e aberto aos outros. De Salma Hayek a Gael Garcia Bernal, que trouxe para o palco do Dolby Theatre a sua oposição a um país fronteiras na qualidade de cidadão mexicano e imigrante, passando pelos vencedores de várias categorias técnicas cujo sotaque e apelidos não enganam. São estrangeiros.
Javier Bardem chamou "deusa" a Meryl Streep e a atriz aproveitou para brincar com o facto de se sentir pouco apreciada. A piada, a partir da palavra "sobrevalorizada", usada por Trump para classificar a atriz, foi usada no início da cerimónia por Jimmy Kimmel para pôr em evidência a carreira da intérprete, recordista de nomeações (vinte). Foi aplaudida de pé.
Já o realizador iraniano Asghar Farhadi decidiu boicotar a sua presença na cerimónia depois de Donald Trump ter imposto restrições de entrada nos EUA a cidadãos de 7 países, incluindo o Irão. E mesmo depois das proibições terem sido declaradas inconstitucionais pelo tribunal, o cineasta manteve a sua posição e não recolheu o Óscar de Melhor filme de Língua Estrangeira que a Academia lhe deu por "O Vendedor".
Ceryl Boone, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS, na sigla inglesa), reforçou no seu discurso a necessidade de ter uma academia mais diversa e ampla nas suas opiniões. Este ano, após a controvérsia dos #oscarssowhite, que mereceu o boicote de Will Smith, aumentaram o número de mulheres entre os jurados e também o de pessoas não-brancas.
Durante a cerimónia, pequenos paraquedistas caíram do teto do Dolby Theatre entregando doces quem estava na plateia, uma cena que voltaria a repetir algum tempo depois.
A cerimónia começou com a interpretação de "Can't Stop The Feeling", do filme "Trolls", cantada por Justin Timberlake, abrindo caminho ao monólogo de Jimmy Kimmel e uma referência à plateia global que assistia à cerimónia, "os países que estão a ver a cerimónia e neste momento odeiam os EUA". Isabelle Hupert, francesa, nomeada para melhor atriz, também não escapou. "Estou contente que a segurança nacional te tenha deixado entrar".
por Lina Santos, Anabela Ferreira e Patrícia Jesus, in Diário de Notícias | 27 de fevereiro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias