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Andy Warhol morreu há 30 anos e é dos mais procurados no Museu Berardo

Em Portugal, está em coleções privadas, nas reservas de Serralves e no Museu Coleção Berardo.

Orlando Almeida/Global Imagens

 

"Já?". É a reação de Joe Berardo, ao telefone, quando lhe lembramos que esta quarta-feira, dia 22, passam 30 anos desde Andy Warhol morreu. As peças adquiridas para a sua coleção, em leilões, são as únicas que podem ser vistas numa instituição pública. E são várias: as Brillo Box, uma série de fotografias Portfólio Nº4, uma pintura da sopa Campbell, o retrato de Judy Garland e Ten Foot Flowers.

Sobre o momento de aquisição das peças diz apenas que aconteceram em leilões. "Temos todos os certificados de autenticidade". E que estão sempre a ser requisitadas por museus internacionais para empréstimo. "Se quiserem fazer uma exposição sobre Andy Warhol, têm de falar connosco", regozija-se. Este é o momento em que Pedro Lapa, diretor artístico do Museu instalado no Centro Cultural de Belém, tem de entrar na conversa. O comité de empréstimo do museu que dirige é constantemente chamado a deliberar sobre possíveis saídas das obras.

"Temos muitos pedidos e eu estou sempre a queixar-me de não ter cá os registers", diz. No museu, as obras estão expostas juntas, na sala dedicada à pop art. Uma das mais frequentadas, diz, sem reparos, o diretor.

Pedro Lapa lembra-se do momento em que viu as obras em Portugal, pela primeira vez, em meados dos anos 90. "A coleção foi construída de forma vertiginosa", nota. Lembra-se de as verem serem desencaixotadas no armazém onde estavam guardadas. "Como é que isto existia?", recorda ter pensado. As peças, explica, foram compradas "perto umas das outras".

Andy Warhol tinha morrido nem havia uma década, a 22 de fevereiro de 1987, por complicações após uma cirurgia. No seu obituário, o New York Times recordava as suas muitas frases de fazer tremer o sistema. "Art é um nome de homem", respondeu um dia a que lhe pediu uma definição sobre arte. "Ser bom no negócio é a mais fascinante forma de arte".

"Profético" é como Pedro Lapa descreve o trabalho de Andy Warhol, nascido Andrej Varhola, Jr. em Pittsburgh, a 6 de agosto de 1928, lembrando os primórdios da carreira do artista, nas artes gráficas.

Warhol fez carreira como artista comercial trabalhando para clientes como Tiffany, Columbia Records ou a revista Glamour, entre outros. "Em 1960 ele altera a sua identidade para artista de Belas Artes. Trouxe o processo do artista comercial e criou um jogo muito particular com essa mistura que criou", explica Pedro Lapa. "Essa alteração de identidade é feita de maneira um tanto ou quanto teatral, mas é simbólica da diluição da fronteira do artista comercial e do artista erudito.

De tal forma essas fronteiras são diluídas que Warhol chega a enfrentar um processo judicial movido pelo autor do grafismo das Brillo Box. Pedro Lapa enquadra a história. O designer era James Harvey, um homem que durante o dia trabalhava as artes gráficas e à noite era um pintor expressionista abstrato. Levantou-se nesse momento uma questão de autoria que até aí nem o próprio Harvey considerava.

Lapa explica que o que Andy Warhol fez foi "perceber os mecanismos e confinamentos da produção artística", surgindo no momento em que "a cultura popular triunfa por completo sobre a cultura erudita". É o explica também a existência de uma estúdio chamado Factory (Fábrica) e de uma expansão da sua atividade tão ampla quanto os Velvet Undergroud.

"Desde muito cedo, ele integra essa perspetiva comercial, para todos os géneros e feitios", explica Pedro Lapa. "O trabalho de Andy Warhol, à medida que vai sendo mais reconhecido, vai tendo uma produção cada vez maior".

Pedro Lapa acredita que em Portugal muitos colecionadores privados terão Warhol representado. "A Galeria Nazoni no Porto vendia muito aqueles quadrinhos, quadrinhos por serem de pequenas dimensões, de notas de dólar e cifrões". O Museu de Serralves tem uma serigrafia no seu acervo, um retrato de Joseph Beuys, que pertence à coleção da secretaria de Estado da Cultura e está em depósito no museu do Porto. Outra obra, esta da coleção SILD de Julião Sarmento foi vista no Museu da Eletricidade quando o curador Delfim Sardo mostrou a coleção do artista plástico. Chama-se Commitee 2000 e, segundo informações do seu estúdio, foi adquirida em leilão em 1995.

Após a morte do artista nova-iorquino foi criada, por indicação sua, a Fundação Andy Warhol, que se dedica ao desenvolvimento das artes visuais. No mercado da arte, as suas obras continuam a valorizar-se e, a partir de 9 de março, ele estará representado em força na exposição The American Dream: Pop to the present no Museu Britânico. Para já, e em jeito de chamada de atenção, estão a ser mostrados dez retratos de Marilyn Monroe do ano em que a atriz morreu, 1962.


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 22 de fevereiro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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