“Quando o meu pai trouxe estes panos ainda não me conhecia” é um projeto desenvolvido pela artista Susana Mendes Silva e curado por Antonia Gaeta para o Curatorial Clube.

Curatorial Clube é um espaço expositivo online que acolhe curadores que por sua vez convidam artistas a fazer uma ação em espaço público.

Essa ação é registada fotograficamente num formato especifico e apresentada com um texto descritivo.

O espaço curatorial em questão é o enquadramento de uma lente de 50 mm ou equivalente.

As ações acontecem e são registadas sem presença de público para a ocasião.

“Quando o meu pai trouxe estes panos ainda não me conhecia” 

Localização: Rua Cidade de Cabinda, Olivais, Lisboa

Curadora: Antonia Gaeta
30.10.15

No dia 30 de outubro, à hora de almoço, em Lisboa, a artista Susana Mendes Silva trouxe cinco panos africanos que o seu pai tinha comprado no Congo antes de ela ter nascido.

A ação realizou-se na Rua Cidade de Cabinda, uns dias após a poda das árvores que aí se encontram. O horário de Inverno tinha entrado em vigor uns dias antes e os dias ficaram mais curtos e frios.

Susana Mendes Silva chegou ao local previamente escolhido, e começou a abrir pausadamente os panos e a inscrever uma porção de paisagem trazida de Cabinda em 1971.

A ação durou cerca de 15 minutos, algumas pessoas pararam para ver, uns a pé, outros nos carros, mas não houve nenhuma interação digna de ser reportada.

"De 1969 a 1971 o meu pai esteve na floresta de Maiombe, Cabinda, durante a Guerra do Ultramar. Em Junho de 1971 entrou ilegalmente, com alguns soldados da sua companhia, no Congo para comprar presentes antes de regressar de vez a Lisboa.

Apesar da guerra colonial ter terminado em 1974, Cabinda parece ser um não-assunto em Portugal. O território foi, de 1885 a 1975, um protetorado português. Cabinda nunca fez parte de Angola nem tem qualquer fronteira física comum, no entanto após o 25 de Abril de 1974 o MPLA tomou o controlo militar do protetorado tornando-o uma das suas províncias. O interesse é explicado pela riqueza de matérias-primas, nomeadamente a produção petrolífera, que em 2010 representava cerca de 70% da exportação de crude angolano. A Frente de Libertação do Estado de Cabinda continua a lutar pela independência deste país.

Eu só nasci em 1972, e estes foram os panos que o meu pai trouxe para mim (sem ainda o saber)."

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