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Morreu o oceanógrafo Mário Ruivo
“Acabámos de perder a última referência internacional em governação dos oceanos e um dos pioneiros da construção da Lei do Mar das Nações Unidas”, diz Telmo Carvalho, que trabalhou com Mário Ruivo nos últimos 15 anos.
Morreu o oceanógrafo Mário Ruivo na madrugada desta quarta-feira em Lisboa, anunciou em comunicado o ministro do Ambiente. Tinha 89 anos.
Mário Ruivo, sempre vestido com roupa de uma só cor – verde seco –, formou-se em Biologia e depois, entre 1951 e 1954, na Universidade de Paris – Sorbonne, doutorou-se em Oceanografia Biológica e Gestão de Recursos Vivos. Fez investigação científica, mas cedo começou a desempenhar cargos de coordenação de organismos nacionais e internacionais, principalmente ligados ao mar.
Logo nos vários governos provisórios de Vasco Gonçalves, foi secretário de Estado das Pescas (em 1974 e 1975) e ministro dos Negócios Estrangeiros (em 1975). Entre 1974 e 1978, foi o chefe da delegação portuguesa nas negociações para a Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar, também conhecida apenas por lei do Mar das Nações Unidas, que foi assinada em 1982.
Era actualmente o presidente do comité português da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (a COI) da UNESCO, organismo de que foi também vice-presidente entre 2003 e 2007. Até agora, era também o presidente do Fórum Permanente para os Assuntos do Mar e o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.
Mário Ruivo foi também fundador, em 2000, do EurOcean, um centro europeu dedicado à informação em ciências e tecnologias do mar, e depois o seu presidente de 2002 a 2008.
Em 1998, na Comissão Mundial Independente para os Oceanos – que foi presidida por Mário Soares e de que Mário Ruivo foi o coordenador – foi lançado o relatório O Oceano: Nosso Futuro. Este relatório, que Mário Ruivo coordenou, contém reflexões e recomendações prospectivas sobre os oceanos. Foi também conselheiro científico da Expo-98, exposição mundial em Lisboa dedicada aos oceanos, um património para o futuro.
“Acabámos de perder a última referência internacional em governação dos oceanos e um dos pioneiros da construção da Lei do Mar das Nações Unidas e um dos fundadores da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO”, considera Telmo Carvalho, que trabalhou com Mário Ruivo nos últimos 15 anos, desde a criação do EurOcean. “O relatório da Comissão Mundial Independente para os Oceanos foi o último grande exercício internacional sobre governação dos oceanos e deu origem ao Dia Internacional dos Oceanos das Nações Unidas, a 8 de Junho”, explica ainda Telmo Carvalho, que trabalha na área da política científica e gestão de informação em ciências e tecnologias do mar.
“Vulto notável, deixa um legado extraordinário na rede de investigadores que, motivados pela sua visão holística do oceano, pugnam diariamente por estabelecer uma aliança forte e profícua entre a ciência, a tecnologia, e a sociedade”, considera António Pascoal, professor e investigador em robótica marinha do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. “A sua visão norteou os meus primeiros passos na aproximação entre a robótica marinha e as ciências do mar. Foi com ele que despertei para os assuntos da governação dos oceanos e para a necessidade de pautar os desenvolvimentos tecnológicos pelos grandes desafios científicos e societais”, diz ainda António Pascoal.
“Livre e comprometida, foi toda a vida pública do Prof. Mário Ruivo. Na política, mas sobretudo no ambiente, deixa um legado inultrapassável”, disse por sua vez o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes.
“Biólogo de formação e político por vocação, o professor Mário Ruivo foi um reputado cientista, pioneiro na defesa dos oceanos e no lançamento das políticas de ambiente em Portugal”, afirma em comunicado Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República. “Destacado antifascista, desde cedo ligado aos movimentos da resistência, exerceu inúmeros cargos e funções relevantes no governo português”, acrescentou Ferro Rodrigues. “Precisamente pelo seu percurso pessoal, académico e profissional ímpar, foi reconhecido pelo Parlamento Europeu com o Prémio Cidadão Europeu 2015, assinalando, entre outros, o papel fundamental que teve na coordenação da Comissão Mundial Independente dos Oceanos.”
por Teresa Firmino, in Público | 25 de janeiro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Público