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Há um novo cinema no Porto que só está à espera dos espectadores

Em fevereiro, renascem as salas de cinema tradicionais na Baixa com a reabertura do Trindade.

 

E, quase, de repente os projetores de cinema estão de volta à Baixa do Porto. Já se tinha lançado âncoras, com a exibição no Cinema Passos Manuel, e os ciclos "Há Filmes na Baixa", organizados pelo Porto Post Doc. Surgiu agora o anúncio da reabertura das duas salas do Cinema Trindade, numa aposta corajosa da distribuidora Nitrato Filmes. A isto junta-se o acordo feito pela Câmara Municipal do Porto para transformar o Cinema Batalha numa casa do cinema da cidade.

A aposta no Cinema Trindade é a mais arriscada, admite Américo Santos, o homem da Nitrato, distribuidora com sede em Santa Maria da Feira, o local onde há 20 anos também organiza o Festival de Cinema Luso-Brasileiro. "Era um projeto antigo, aliar distribuição com exibição para ganhar mais autonomia. Para isso precisávamos de um espaço", diz Américo Santos.

Se tudo correr como previsto, as salas reabrem em pleno no próximo dia 2. Nessa quinta-feira haverá uma sessão para convidados com um filme surpresa. "Será um teste, para ver se está tudo a funcionar bem." São duas salas, com 168 e 183 lugares, que foram criadas como contrapartida pela entrega da antiga sala principal ao Bingo do Salgueiros, e estavam fechadas desde 2000.

"O que nos move é o gosto pelo cinema", diz o novo exibidor de cinema no Porto. "É um risco, é verdade, mas calculado. Vemos que hoje há um apelo maior para ir ao cinema. Queremos acompanhar esta vontade e tendência crescente de sair à noite. O cinema tem um espaço aí. Sou daqueles que pensam que o Netflix é mais efémero do que a sala de cinema."

Com duas salas, a Nitrato pretende colocar o Trindade "a funcionar como um multiplex, que permita o cruzamento entre a programação tradicional, com estreias, aberta a todos os distribuidores do país, e uma sala mais para ciclos, mostras, festivais, propostas individuais." Neste aspeto, já há surpresas. "Têm chovido, felizmente, de gente ligada ao cinema, associações, estudantes."

Esperam-se dez sessões por dia, "com horários diversos", com um preço inicial de 5 euros, "a ajustar consoante a afluência". Há novos projetores digitais e um de 35 mm. "Estamos equipados ao mais alto nível", garante Américo Santos, convencido que a cidade ainda está muito ligada ao Trindade, reconhece o Trindade como cinema."

Para já há o apoio municipal com o Tripass, um cartão lançado pela Câmara do Porto que dá acesso ao circuito de cinema na Baixa , oferecendo descontos nas salas dos cinemas Trindade, Teatro Municipal do Porto (Rivoli e Campo Alegre) e Passos Manuel. "É o único apoio especial, muito válido para a fidelização de público. Permite suavizar a conta das pessoas, um desconto de 20% é significativo." Pagará renda à Neves & Pascaud, empresa também proprietária do Batalha. A anunciada reabertura desta mítica sala "é positiva, mas espera-se que seja diferente, mais de formação de públicos. Ainda não se sabe muito."

A opinião é partilhada por José António Cunha, presidente do Cineclube do Porto: "Falta saber como irá funcionar o Batalha." Desde 2010, o cineclube mora na Casa das Artes, na zona da Boavista. Não é Baixa do Porto. Mas os circuitos não são estáticos.

A distância era uma dúvida quando o cineclube se mudou para o edifício do Ministério da Cultura. "Não há muitos transportes públicos mas as pessoas aparecem. Penso que essa ideia de Baixa existe mais no discurso público do que na prática", considera José António Cunha.

Há novos públicos

Na realidade, o cineclube até tem visto uma evolução positiva de espetadores. Com 150 sessões em 2016, registou uma média de 56 espetadores, superior à registada no total nacional. "Há duas tendências em paralelo: o regresso de antigos associados e um público novo, o que não significa jovem mas pessoas até aos 45 anos que começaram a frequentar", explica José António Cunha. Para este reerguer, contribui muito o diálogo. "Organizamos cada mês tematicamente. Há uma lógica e uma relação de diálogo com os espetadores, para assim perceber o que é mais aceite, o que é mais provocante."

E nem todos são sócios. "Apenas um terço" entra no grupo de 140 associados que atualmente pagam a anualidade de 30 euros e 50 cêntimos por sessão. A maioria dos espetadores paga 3,5 euros.

A exibição cinematográfica tem recuperado espetadores, houve mais bilhetes vendidos em 2016 em Portugal e na Europa em geral. "Não tenho ilusões, os tempos áureos não vão voltar. Mas há espaço, e haverá mais, para o cinema", acredita Américo Santos. "Ir ao cinema é uma prática muito relevante e não vai desaparecer", diz José António Cunha: "Não é só o filme que se vai ver. É um ato que obriga a um lado social. A pessoa dispõe-se a sair de casa e vai ao cinema, onde partilha com desconhecidos. É todo um quadro mental diferente."


por David Mandim, in Diário de Notícias | 23 de janeiro de 2017
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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