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As roupas magníficas da festa barroca no Palácio da Ajuda

As festas das cortes italianas do final do Renascimento tornaram-se famosas.

 

 Até 28 de fevereiro podemos ver alguns dos trajes usados naquela época, em reconstituições de grande qualidade.

A cauda do vestido tem nove metros de comprimento e seis metros de largura. Vista de costas, é impossível saber quem é aquela senhora mas já sabemos que é uma pessoa importante. "A cauda é pesadíssima. O tamanho da cauda não depende do gosto da princesa ou de qualquer moda. Tem a ver com a importância da ocasião. Este vestido seria usado numa cerimónia de coroação pela rainha ou pela princesa que vai casar com o rei", explica Fausto Fornasari, o comissário da exposição A Festa Barroca que pode ser visitada a partir de hoje no Palácio Nacional da Ajuda.

A exposição que chega a Lisboa pelas mãos da Embaixada de Itália e do Instituto Italiano de Cultura foi criada por Fornasari há mais de 15 anos e já viajou por mais de 50 países. "Queria mostrar o esplendor da festa barroca italiana", explica o comissário, referindo-se às cerimónias que se realizavam nas várias cortes italianas do Renascimento: "Em Itália, surge um novo pensamento e uma nova forma de viver. De abertura ao mundo e de celebração. Chegavam muitos viajantes de outros países, chefes de estado e negociantes, e cada corte queria organizar um evento, inesquecível." Este modelo de festa espalhou-se pelas várias cortes da Europa e foi depois levado pelos portugueses para o Brasil. "Não só se tornou comum como está na base das nossas festas atuais", diz.

Com base em pinturas da época e em muita pesquisa, Fausto Fornasari concebeu trajes que são reconstituições das roupas originais. Os tecidos foram produzidos recorrendo a teares e outras técnicas tradicionais, com sedas e brocados de ouro e prata, tal como se usava na época. "Cada fato demora três a quatro anos a ser produzido", garante. Esta empreitada só foi conseguida graças ao investimento dos grupos privados King Studio e Invito a Corte, que além desta têm oturas exposições em circulação.

"Isto não é só uma exposição de trajes de época, queremos recriar o ambiente das festas", assegura o curador. E o Palácio da Ajuda, apesar de ser já do século XIX, constitui, com todo o seu fausto, o cenário ideal para esta encenação. A ideia é que cada visitante do palácio se sinta um visitante da corte.

Ali há música e 42 manequins vestidos para nos receberem. "A receção dos convidados durava vários dias, tinha banquetes, torneios, muita música." A festa tinha quatro momentos importantes, que são mostrados aqui: a chegada do hóspede, o encontro com o clero, a apresentação do grupo de teatro e o encontro com os príncipes.

No cortejo de receção, participam os jovens nobres mais ilustres da cidade, todos vestidos de branco. São eles que seguram o dossel: "O dossel não servia para proteger o príncipe da chuva ou do sol, a sua função era dizer às pessoas quem era o convidado especial. Não havia televisão nem fotografias, por isso o convidado tinha que estar perfeitamente identificado", conta Fornasari. Já na apresentação do grupo de teatro são visíveis as túnicas ao estilo neoclássico, muito mais simples do que os vestidos usados pelas damas da corte que, para a festa, se vestiam de negro e dourado. "O preto e o vermelho eram as cores mais difíceis de tingir nos tecidos, por isso usar estas cores era dizer: nós somos ricos."

Em destaque, a reconstituição da visita da rainha Cristina da Suécia a Roma, em 1654. Podemos imaginar que é ela que usa o vestido com a tal cauda de nove metros. E ali estão também dois cavaleiros, de plumas enormes na cabeça, para a receber. A cena foi pintada por Filippo Galiardi, de que se apresenta uma reprodução: ali se vê a construção em madeira, temporária, feita para receber o cortejo; os camarotes com os nobres de um lado; as bancadas com o povo de outro; os cavalos e os cavaleiros ornamentados para a ocasião. "Reparem bem, é quase como uma imagem do sambódromo do Rio de Janeiro, não é", pergunta Fausto Fornasari, concluindo: "Há mais vestígios da festa barroca do que imaginamos."

A festa barroca

Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa
Até 28 de fevereiro
Entrada: 5 euros
Concertos de música barroca nos dias 31 de janeiro e 23 de fevereiro às 18.30


por Maria João Caetano, in Diário de Notícias | 20 de janeiro de 2017
Fotos por Leonardo Negrão /Global Imagens
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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