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Destruições de monta no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe
2016 não tem sido um ano propício no que diz respeito à conservação da arte sacra do Baixo Alentejo.
O alerta começou por ser dado, no Verão, pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, quando uma onda de assaltos varreu nada menos do que doze paróquias da região, assumindo particular acutilância em Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Odemira e Ourique, além de São João Baptista – a paróquia mais frequentada da cidade de Beja, com sede na igreja do Carmo.
Como se isto não bastasse, mais recentemente, em setembro, foi severamente vandalizado um dos tesouros artísticos de Serpa, o santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no monte de São Gens. A coberto da noite, um grupo de energúmenos entreteve-se a destruir, a pontapé ou usando ferros e paus como alavancas, muros e estruturas ornamentais, entre elas algumas urnas de inspiração barroca, do adro da igreja. Este adro, que data da segunda metade do século XVIII, estava íntegro e formava um conjunto muito coerente, do ponto de vista devocional e artístico, tendo ficado bastante afetado. Os prejuízos, avaliados em milhares de euros, não são de fácil recuperação.
A situação, denunciada pela paróquia local às autoridades, causou comoção entre as gentes de Serpa, pois Nossa Senhora de Guadalupe, alvo de intensa devoção, é a padroeira da cidade e a ermida do “Altinho”, como é conhecida popularmente em Serpa, constitui o seu solar. Não são poucos os serpenses que consideram o atentado uma espécie de “profanação” de algo que sempre foi muito respeitado na terra e se viu ferido de uma maneira muito direta – e muito ofensiva. Mas foi sobretudo a falta de sentido e a gratuitidade da destruição realizada o que mais chocou a comunidade local, sendo várias as vozes que insistem no sentido de serem identificados e exemplarmente punidos os autores do atentado.
De acordo com o Departamento do Património da Diocese de Beja, atos vandálicos desta natureza começam a tornar-se frequentes em monumentos do Baixo Alentejo, o que tem levado a reclamar uma maior atenção das autoridades, para que, à semelhança do que sucede com outros edifícios públicos, as igrejas sejam alvo de um acompanhamento mais efetivo. A mesma fonte realça a extrema violência cometida no santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, que implicou a perda de elementos patrimoniais relevantes, alertando as paróquias da região para que estejam atentas e adotem as medidas preventivas ao seu alcance.
Feita a recolha dos fragmentos deixados no local, estuda-se agora, com a União das Freguesias de Serpa, a recuperação do adro, sem alterar a sua fisionomia tradicional. No ar ficam, porém, algumas interrogações: ficarão as destruições por aqui? Quem pode acudir às nossas igrejas rurais? Será necessário apelar à vigilância popular para que o património religioso consiga sobreviver?
Da Diocese de Beja e do seu novo bispo, D. João Marcos, apesar de todas estas preocupações, chegam sinais de confiança no futuro, designadamente quanto à continuidade do trabalho desenvolvido ao longo das últimas décadas e a um aprofundamento da colaboração com o Ministério da Cultura e os municípios do Baixo Alentejo.