Uma Peça | Um Museu
Pendente em forma de laço
A coleção de joalharia do museu conserva um excecional exemplar de joia em forma de laço, do início do século XVII, executada em ouro e diamantes.
Uma peça do Museu Nacional de Arte Antiga.
Laço
Século XVII
Aquisição, 1958
908 Joa
De requintado desenho e excelente feitura, ainda é possível observar nesta peça a passagem do laço têxtil para o laço joia, através da presença de uma finíssima renda transcrita para o metal precioso que acompanha o contorno das duas laçadas das quais pende uma cruz estilizada. Da junção destes dois tipos de ornamento, o laço e a cruz, irá nascer uma das tipologias mais significativas da nossa joalharia e que perdurará até aos nossos dias: a laça.
A joalharia quinhentista pode ser observada como um elo de ligação entre a expressão onírica das joias do Renascimento, centradas na representação de motivos clássicos e simbólicos, e o eloquente esplendor e divertimento do século XVIII cujo gosto deu azo à construção de joias que jogam com as cores das pedras numa exibição de poder e de ostentação.
Em Portugal, as joias do século XVII exibem uma solidez construtiva e a utilização do metal em detrimento da gema (descobriam-se as primeiras minas de ouro e diamantes no Brasil), razão pela qual se assiste aos últimos alvores do esmalte como recurso à cor. São joias civis e devocionais que, de alguma forma, ditaram os modelos formais que se desenvolveram e perduraram até hoje. O laço como antepassado da laça tem a sua componente têxtil convertida em joia que se irá estilizar até se tornar apenas memória.
Através dos seus retratos, rainhas de Portugal e damas de Corte do século XVII ajudarão a contar um percurso e a mostrar como o gosto progride e circula numa antevisão da globalização ou da unificação de costumes e, certamente também, como reflexo primeiro das mudanças profundas que se adivinhavam na história política, económica e social do nosso país.