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Orquestra Gulbenkian estreia-se no verde do Ibirapuera

Os músicos começaram ontem uma digressão de quatro concertos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lawrence Foster dirigiu e o violoncelista brasileiro António Meneses foi o solista convidado.

Paulo Spranger / Global Imagens

Primeiro vieram os corredores de sapatilhas nos pés. Pararam, aproximaram-se, tiraram fotos junto ao gradeamento. Depois vieram as famílias com os carrinhos de bebés e os miúdos pela mão. Perto das 11.00, hora de início do concerto, chegaram os ciclistas que foram deixando as bicicletas ali mesmo e foram ocupando o relvado. Estenderam-se mantas, tiraram-se sapatos. Ontem, no relvado do parque da cidade de São Paulo ouviu-se a Orquestra Gulbenkian.

O maestro Lawrence Foster, titular da orquestra até 2013, dirigiu a orquestra neste espetáculo que contou com a participação de um convidado especial, o violoncelista brasileiro António Meneses, que veio tocar o concerto para violoncelo e orquestra em ré menor de Édouard Lalo. A peça seguinte foi a Sinfonia n.º3, em lá menor, de Félix Mendelssohn-Barthóldy. A terminar, "Staccatto Brilhante", de Joly Braga Santos.

"Escolhemos peças que achamos mais populares, mais fáceis de tocar, que não podem ultrapassar uma hora", explica diretor do serviço de música da Gulbenkian ao DN, sobre o repertório tocado num local que o som dos instrumentos compete com (muitos) outros ruídos, como o funk que acompanhou estas declarações do dinamarquês Risto Nieminem. "São um grupo de capoeira e já prometeram que não vão fazer barulho durante o concerto".

À medida que o concerto se aproximava desapareceram também as cordas de saltar e as bolas de futebol, dando lugar ao público e aos vendedores ambulantes. Primeiro chegaram os sorvetes, depois, às primeiras notas de Édouard Lalo, as pipocas, batatas fritas e a "cervejinha gelada". E mais pessoas. A chuva que ameaçava cair até à hora que precedeu o concerto deu lugar a um sol forte. Ficou comprovado a razão de Rita quando canta que "praia de paulista é o Ibirapuera". Informalidade é regra nestes concertos.

A presença da Orquestra Gulbenkian em São Paulo resulta de uma parceria com a Sociedade de Cultura Artística. O espetáculo ao ar livre marcou o arranque de uma digressão de quatro datas da Orquestra Gulbenkian no Brasil. Os músicos vão tocar hoje e amanhã Sala São Paulo, sede da Orquestra do Estado de São Paulo (OSESP), e na quarta-feira no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

No concerto "open air", como lhe chamam, a instituição quis levar a música erudita a locais menos tradicionais e a públicos diferentes. "Acreditamos o papel transformador da música", afirma o seu diretor, Frederico Lohman, ao DN. "Este é o único concerto que a Cultura Artística organiza aqui", sublinha. "Dá oportunidade a que muita gente assista", defende. A entrada é livre e o cenário ajuda.

"Cada 15 dias tem um show clássico", contou ao DN um dos espectadores, Vasco Marques da Costa. Vasco ("um nome bem português") e a namorada, Mercedes Barusso, pertencem à turma dos que vieram de bicicleta, mas não são do grupo dos que foram apanhados de surpresa pelas composições de Lalo e Mendelssonh. "Vi ontem no site que ia ter concerto aqui hoje e programamos para estar aqui".

O auditório do Ibirapuera é um projeto mais antigo do que a própria Orquestra Gulbenkian, nascida em 1962. O projeto de Oscar Niemeyer é de 1954 e fazia parte dos primeiros planos para o parque da cidade de São Paulo. Foi inaugurado em 2005 e rebatizado em 2014 com o nome do seu arquiteto. Uma das suas particularidades é que o palco tanto funciona para uma sala convencional como pode ser usado abrindo uma grande janela para o parque como aconteceu ontem.

Renata Ramalhosa, portuguesa há um ano a viver em São Paulo, veio matar saudades da Orquestra Gulbenkian com o marido, Pedro Leone, e os dois filhos, que convenceu "com a desculpa de virem caçar pokémons". Mesmo ao lado, o cônsul de Portugal, Paulo Lourenço, que tirou a gravata por uma hora e assistiu ao concerto com o filho.

Na audiência, o violoncelista Levon Mouradian descobriu a bandeira da Arménia, o seu país natal e o de Calouste Gulbenkian, que atraiu estes espectadores. "São uma comunidade muito grande em São Paulo. Têm uma escola e três igrejas", confidencia o músico, na orquestra desde 1989, depois de ser abordado por uma compatriota.

A presença da Orquestra Gulbenkian enfatizou a presença de Portugal em São Paulo, por estes dias, e no parque Ibirapuera em particular. É neste local, o pulmão da cidade, que acontece a Bienal de São Paulo, onde se podem ver trabalhos de Lourdes de Castro, Gabriel Abrantes, Carla Filipe, Priscila Fernandes e Grada Kilomba. Ao mesmo tempo, no museu Afro Brasil está a exposição de artistas contemporâneos Portugal Portugueses, com obras de Fernando Lemos (que vive em São Paulo), Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Jorge Molder, José Pedro Croft, Miguel Palma e, de novo, Lourdes Castro.

 


por Lina Santos, in Diário de Notícias | 7 de novembro de 2016

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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