"Precisamos do apoio internacional para preservar o património da Síria. É uma tarefa global que precisa de esforços de todo o mundo". O apelo de Lina Kutiefan, diretora dos sítios classificados como Património da Humanidade pela Unesco na Síria, não aconteceu de viva voz, como programado. Impedida de sair do país para participar na conferência internacional Património Cultural: Prevenção, Resposta e Recuperação de Desastres, que decorre até hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a responsável enviou uma pequena carta e um powerpoint que silenciou o auditório face à destruição evidenciada nas muitas fotografias que acompanhavam a comunicação que Lina Kutiefan deveria ter proferido.

Confessando desconhecer em concreto o grau de destruição de muitos dos monumentos dos país, um dos berços da civilização, a também diretora dos museus e antiguidades da Síria avançou que, neste momento, "a maior ameaça ao património sírio é o tráfico e o roubo para financiar a guerra". Recorde-se que os seis sítios classificados como Património da Humanidade da UNESCO foram, em 2013, colocados na lista de monumentos em risco após serem divulgadas imagens da destruição total ou parcial de alguns locais. Apesar do apelo à ajuda internacional e das dificuldades devido à guerra, Lina Kutiefan fez questão de enviar uma mensagem de esperança, mostrando algum do trabalho de recuperação que já foi feito, por exemplo no Templo de Bel, em Palmyra.

Plano de segurança em 20 imóveis

Reflexão, cooperação e partilha de experiências foram as palavras mais utilizadas durante o primeiro dia da conferência na qual João Seabra Gomes, da Direção Geral do Património Cultural (DGPC) garantiu que até ao final do ano, os 23 monumentos, museus e palácios geridos pela DGPC vão ter os planos de segurança preventiva concluídos. Museu Nacional Soares dos Reis e Palácio Nacional de Mafra são os únicos a ser executados por equipas exteriores à DGPC, estando o primeiro em execução e o segundo em fase de adjudicação, e estando o de Conímbriga a ser realizado pela própria DGPC. Os restantes 20 estão já concluídos.

"Em 2012, com a criação da DGPC, começámos a fazer os planos de segurança e de medidas de autoproteção, obrigatórios em termos de lei, e iniciámos a formação das equipas", afirmou. Como parte importante dos planos de segurança preventiva passa pelas pessoas que trabalham em cada um dos imóveis "começámos por fazer ações de sensibilização para todos os trabalhadores, cerca de mil, para perceberem ao que estão associados e o que têm de defender". Em paralelo, "à medida que fomos fazendo os planos, fomos formando equipas, cerca de meia dúzia de pessoas em cada imóvel, para que possam ser a primeira intervenção em caso de uma catástrofe".

Quanto à identificação dos imóveis mais vulneráveis, João Seabra Gomes prefere não apontar casos concretos, referindo apenas que durante o processo dividiram os edifícios em três tipologias: alguns intervencionados depois de 2000 - "onde temos alguma capacidade de resposta mais musculada em caso de catástrofe" -, outros intervencionados desde 1990 - "que estão modernizados mas não totalmente atualizados, incluindo-se neste grupo a maioria dos imóveis -, e ainda "uma minoria que está desatualizada".

por Marina Marques in Diário de Notícias | 4 de novembro de 2016

Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias