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Pop Galo, a mais recente escultura monumental da artista Joana Vasconcelos

 

Pop Galo inicia em Lisboa uma ambiciosa itinerância por diversas cidades no mundo. Pequim recebe a escultura no final de fevereiro para celebrar o início do ANO DO GALO NO CALENDÁRIO CHINÊS; e Xangai encerra o périplo na China, marcando também a concretização do PRIMEIRO VOO DE LIGAÇÃO DIRECTA ENTRE PORTUGAL E A CHINA.

A inauguração, no passado dia 6 de novembro em Lisboa, contou com a presença da artista, do Primeiro-Ministro e do Presidente da Câmara de Lisboa; a obra foi apresentada por Guilherme d’Oliveira Martins.

Inspirada no popular Galo de Barcelos, a escultura concilia a tradição da azulejaria nacional com a mais moderna tecnologia LED. Pop Galo tem perto de dez metros de altura; encontra-se revestido com cerca de 17 mil azulejos pintados à mão e, aproximadamente, 15 mil luzes LED, interconectadas com uma composição sonora criada especificamente para a obra, conferindo a este Galo de Barcelos tecnológico diferentes leituras, transformando a obra do dia para a noite.

Fotos: Luís Vasconcelos/Cortesia Unidade Infinita, Projetos

 

Um Galo para ir além dos mitos
Por Guilherme d´Oliveira Martins 

Falar de um galo em Portugal não é evocar um símbolo insignificante, mas chamar à lembrança raízes culturais profundas que vêm do passado e se projetam no futuro e além-mar. Mas ninguém duvida de que é um símbolo forte - e não é de mais lembrar que, na etimologia grega, símbolo é exatamente aquilo que une, por contraponto a diábolo, o que divide… Alguns dirão, erradamente, que o galo é uma invenção relativamente recente, vinda de uma lenda, talvez seiscentista ou setecentista, de um galo que salvou um condenado injustamente ou de uma descoberta tardia nas feiras de Entre-Douro-e-Minho. O “nosso“ galo de Barcelos, que Joana Vasconcelos estilizou e enriqueceu decorativamente, tornando-o ainda mais simbólico de nós mesmos, vem inequivocamente do nosso fundo céltico – esse fundo que António Pedro sentia no âmago de si mesmo e que o levava a gostar de gaitas de foles e das cores garridas que Amadeo de Souza Cardoso tão bem soube transmitir nas suas telas inesquecíveis e irrepetíveis. O gal de Portugal não engana. Aí está o elemento indo-europeu que nos liga aos Gálatas, do Médio Oriente à Turquia, à Galicia polaca, ao País de Gales, aos Gauleses, à Galiza – todos irmãos.

É verdade que Leitão de Barros, António Manuel Couto Viana e Artur Maciel foram em busca de um símbolo popular – encontrando-o e enriquecendo-o com cores fortes e corações ilustrativos de mil afetos -, no entanto, já Rocha Peixoto, no século XIX, nos fala do ”Galo de apito”, que ainda se encontra nas feiras e que tem a ver com a forte simbologia de quem anuncia, na aurora, o novo dia e um novo tempo. O nosso inconfundível galo insere-se na tradição dos druidas, no diálogo com o Oriente e a China, mas também na simbologia cristã de S. Pedro. O galo é arauto da luz do sol, mas também sinal da verdade e da fidelidade. Tendo sido redescoberto nas feiras de Entre-Douro-e-Minho e pintado com as cores fortes que conhecemos, é o revelador de um amorável coração, do amor como contentamento descontente da lavra camoniana, mas também da saudade como lembrança e desejo e de magníficos ágapes, banquetes de amor e amizade, que encontram a sua origem na mais afetuosa das palavras gregas. Culturalmente, o galo significa ainda o cadinho, o “melting-pot”, que nos caracteriza neste lugar onde a terra acaba e o mar começa, Finisterra. O Pop Galo liga a cultura popular e a cultura erudita – e liga o presente ao passado e ao futuro. Naturalismo e espiritualismo aqui se encontram como no-lo ensinou Pascoaes. Tradição e modernidade estão aqui. Os azulejos portugueses são, afinal, reminiscência do Oriente!

Os múltiplos caminhos do mundo que os portugueses foram trilhando levaram os nossos símbolos até às Índias, a África, ao Brasil.… E, no ano chinês do Galo, que será o próximo, invocamos o encontro fantástico e fecundo com o império do Meio. Eis por que motivo a referência às raízes antigas tradicionais, históricas e populares constitui um elo intenso que nos permite perceber que uma identidade cultural ou linguística apenas pode afirmar-se se não se fechar sobre si mesma e se se relacionar com outras realidades e influências. No momento da cimeira da web estas 15 mil luzes LED demonstram a importância da aventura da inovação.

O tema da identidade cultural exige a compreensão de que só a abertura e o diálogo, a relação fecunda entre a herança e a memória, o entendimento dinâmico de património podem permitir o desenvolvimento de uma cultura de paz e de respeito mútuo. A identidade que cristaliza morre. A memória que se centra exclusivamente no passado mítico torna-se pobre, ensimesmada e ressentida. A herança que não se fortalece com a criação contemporânea e com um permanente renascer crítico dissipa-se.

A referência da utopia de Tomás Morus é-nos trazida por um marinheiro português. A ideia da viagem à Índia ou de passar para além da Taprobana corresponde a um apelo à aventura criadora e criticamente reconstituidora dos mitos.

Como podemos entender o Candomblé e a religiosidade sincrética – reunindo animismo e tradição cristã – que liga o Senhor do Bonfim à corte dos orixás, tão presentes desde S. João Baptista de Ajudá a Salvador da Baía? Oxalá, o grande Senhor de Todos, e Iemanjá, a Deusa do Mar, dominam esse Olimpo. E o galo é a ave de batalha, o anunciador de bons augúrios. 

Eis por que razão o Galo não é uma marca regionalista ou de recente data, é uma marca antiga e um passo universalista. Afinal, trata-se de um símbolo para ir, pela crítica, pela aventura e pela viagem, além dos mitos.

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