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Retrato de uma época pela lente surrealista de Fernando Lemos
O Museu Berardo mostra fotografias de uma geração intelectual no final dos anos 40, segundo o artista.
Depois de fazer esta série de fotografias, Fernando Lemos, atualmente com 90 anos, partiu, de barco, para o Brasil, com o escritor e crítico Adolfo Casais Monteiro, levando os negativos no bolso. Por lá ficaram, esquecidas, anos a fio, até uma exposição em 1994, no Centro de Arte Moderna, na Gulbenkian, chamada À Sombra da Luz ter começado a desvelar o trabalho do artista, agora também de nacionalidade brasileira. Da mostra permanente do Museu Berardo (onde o seu trabalho continua), salta, em nome próprio, para a galeria de exposições temporárias, com uma nova leitura da sua obra, em Retrato Coletivo em Portugal, no final dos anos 40, como lhe chamou Pedro Lapa, curador e diretor artístico da instituição.
Selecionou 62 fotografias, "as mais surrealistas". "Traça[m] um quadro muito específico de uma geração intelectual num dos períodos mais depressivos do século XX, o final dos anos 40, no pós-guerra. Há a expectativa da construção de um mundo novo, que em Portugal não se abria e em que o regime ditatorial endurecia", caracteriza Pedro Lapa.
As imagens foram produzidas entre 1949 e 1952, e aqui estão todos os que marcavam e marcariam a vida cultural portuguesa. Os que ficaram, os que partiram, os que voltaram: Casais Monteiro, Alexandre O"Neill, Sophia de Mello Breyner, Mário Cesariny, Arpad Szenes e Vieira da Silva, Jorge de Sena, Glicínia Quartin, Cardoso Pires e António Pedro, "nome tutelar do movimento surrealista".
Pedro Lapa conta a história de um dos retrato do artista plástico, membro do Grupo Surrealista de Lisboa, que acabaria por voltar para Moledo, no Minho, onde Fernando Lemos o vê pela última vez e o fotografa a afastar-se.
Esta exposição soma-se a outra, Visualidade e Visão - Arte Portuguesa na Coleção Berardo II, que reúne obras de Cabrita Reis, Joaquim Bravo, Miguel Palma, José Luís Neto, Pedro Barateiro, Rui Chafes e Ângela Ferreira, com uma peça de 2008 chamada For Mozambique (Model No.1 of Screen-Tribune-Kiosk celebration a post-independance Utopia), uma instalação em que são projetados dois vídeos, um de Jean Rouch e outro com a canção For Mozambique, editada em 1977 por Bob Dylan, cuja voz ecoa pela galeria. "Já estava pensada para aqui, não tem nada a ver com eventos recentes", diz Pedro Lapa, lembrando a atribuição do Nobel da Literatura ao músico.
por Lina Santos, in Diário de Notícias | 26 de outubro de 2016
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias