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Sete anos bons
Etgar Keret é a nova voz dos escritores israelitas.
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No dia 27 de outubro chega às livrarias Sete anos bons, um livro de Etgar Keret. Neste livro estão sete anos bons deste escritor em Telavive, que começam com o nascimento do seu filho, e terminam com a morte do pai. Num registo de memórias, Etgar Keret, um dos mais proeminentes escritores israelitas da atualidade, revela o extraordinário no quotidiano, e com destreza e humor narra episódios desses anos, dos mais banais aos mais íntimos e difíceis.
Etgar Keret é um dos mais populares escritores israelitas, o «Amos Oz da sua geração» – segundo Nissim Calderon, crítico literário, especialista em literatura hebraica –, e a sua obra tem vindo a ser premiada e traduzida para vários países.
SINOPSE
Se um rocket pode cair sobre nós a qualquer momento, que importância tem despejar o lixo? E os pássaros do jogo «Angry Birds», lançados raivosamente contra pobres porquinhos, não lembram terroristas?
Com particular ironia, Etgar Keret relata neste livro histórias de sete anos da sua vida: o nascimento do filho, a terrível história da sua irmã ultraortodoxa e dos seus onze filhos, a trajetória dos seus pais sobreviventes do Holocausto, encontros com taxistas stressados, viagens de avião, noitadas literárias agitadas, ameaças de bombas, a morte do pai.
Um livro extraordinário sobre a vida de hoje em Israel e no mundo, onde o humor e a emoção se combinam com uma boa dose de absurdo.
O AUTOR
Nascido em 1967 em Telavive, Etgar Keret é um dos mais populares escritores israelitas contemporâneos e as suas obras estão traduzidas em mais de 25 línguas. A Sextante publicará também em 2017 o seu livro de contos O motorista de autocarro que queria ser Deus.
Sete anos bons foi galardoado com o Prémio PEN inglês e com o Prémio Charles Bronfman 2016.
EXCERTO
«Odeio atentados terroristas», diz a enfermeira magrinha à mais velha. Queres uma pastilha elástica?»
A mais velha pega numa pastilha e anui. «Que remédio?!», diz. «Eu também detesto as urgências.»
«Não estou a falar das urgências», insiste a magrinha. «Não tenho problemas com acidentes e coisas do género. É dos atentados terroristas que estou a falar. Tornam tudo feio.»
Sentado no banco à entrada da maternidade, penso que ela não deixa de ter razão. Cheguei aqui há apenas uma hora, todo excitado, com a minha mulher e um taxista maníaco de limpeza que a única coisa que receava quando as águas da minha mulher rebentaram era que lhe estragassem os estofos. E agora estou sentado no corredor, cabisbaixo, à espera que o pessoal volte das urgências. Todos, menos as duas enfermeiras, foram ajudar a tratar das pessoas feridas no atentado. As contrações da minha mulher também espaçaram. E é provável que o próprio bebé sinta que esta história de nascer já não seja tão urgente. A caminho da cafetaria, alguns feridos passam em macas que chiam. No táxi para o hospital, a minha mulher gritava como louca, mas toda esta gente está silenciosa.
«Você é o Etgar Keret?», pergunta-me um tipo com uma camisa aos quadrados. «O escritor?» Eu aceno com relutância. «Bem, sabe-se lá», diz ele, tirando um minúsculo gravador do saco. «Onde estava você quando aquilo aconteceu?», pergunta ele. Como eu hesitei um segundo, ele diz querendo mostrar empatia: «Leve o tempo de que precisar. Não se sinta pressionado. Você sofreu um trauma.»
«Eu não estava no ataque», explico. «Estou hoje aqui por coincidência. A minha mulher está a dar à luz.»
«Oh», diz ele, sem esconder o desapontamento, e carrega no botão do gravador. «Mazal tov». Senta-se ao meu lado e acende um cigarro.
«Talvez deva tentar entrevistar outra pessoa», sugiro, procurando afastar da minha cara o fumo do Lucky Strike. «Há pouco vi levarem duas pessoas para o serviço de neurologia.»
«Russos», diz ele suspirando, «não pescam uma palavra de hebraico. De qualquer modo não nos deixam entrar no serviço de neurologia. Este é o meu sétimo atentado neste hospital, e já conheço os truques deles todos.» Um minuto passa sem que nenhum de nós fale. Ele deve ter uns dez anos a menos do que eu, mas já começa a ter entradas. Quando me apanha a olhar para ele, sorri e diz, «É pena que você não estivesse lá. A reação de um escritor seria uma coisa boa para o meu artigo. Alguém original, com um pouco de visão. Depois dos atentados, obtenho sempre as mesmas reações: “De repente ouvi um bum”, “Não sei o que aconteceu”, “Havia sangue por todo o lado.” É cansativo, não acha?»
[Início do livro Sete anos bons, de Etgar Keret]
IMPRENSA
Divertido, sombrio e pungente. Jonathan Safran Foer
Etgar Keret é um génio. The New York Times
Título: Sete anos bons
Autor: Etgar Keret
Tradutor: Lúcia Liba Mucznik
Págs.: 184
PVP: € 16,60